Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quarta-feira, dezembro 29, 2004

(279) Viagens

As férias são uma boa oportunidade para organizar as memórias. No meu blogue Memórias do Filho do 25 de Abril coloquei uma nova categoria que organiza todos os posts referentes a algumas das Viagens que fiz este ano! Conheci Praga e Madrid, revisitei várias vezes Lisboa e ainda passei por outros locais de Portugal.

Os blogues são páginas pessoais! Servem, antes de mais, para que os seus autores organizem ideias e memórias. Nesta ordem de ideias esta categorização tem um objectivo meramente pessoal. O interesse que pode despertar nos (parcos) leitores deste blogue é, por isso, limitado! Mas estão todos autorizados a espreitar...

Um bom ano de 2005 para todos!

segunda-feira, dezembro 20, 2004

(278) Aos meus pais...

Chegou aquela altura do ano que vou recarregar energias para a Ilha da Madeira! O que será que recarrega as minhas energias? Será o ar da ilha? Acho que não! Serão as bonitas paisagens? Acho que não! Serão as receitas caseiras? Também mas não só! Nada disso! O que recarrega as minhas energias é o retorno à infância! Só os nossos pais são capazes de fazê-lo! É sentir-me protegido e recuar ao tempo que a única preocupação que tinha era a contagem de borbulhas na cara! Só os pais conseguem, em duas horas, acabar com a independência conquistada e impôr velhos hábitos e rotinas que trazem uma certa leveza à nossa vida. As contrariedades ficam à porta de casa!

Não é ao local de origem que gostamos sempre de voltar, são às memórias do passado! Aos pequenos pormenores que se vão formando na nossa memória e que dão sentido a tudo! Aos meus pais, a esperança que o orgulho que sentem é maior que a desilusão, apesar de tudo. E acima de tudo, um muito obrigado por tudo! Porque sem vocês não era nada nem ninguém, era outro mas não eu, existia mas não estava completo...

Aos meus leitores e amigos, um Feliz Natal e um Bom Ano Novo! Portem-se mal e, não se esqueçam, tolerância e consciência cívica é tudo o que o Filho do 25 Abril pede a cada um de vocês! Até 2005!


Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.


Alberto Caeiro

domingo, dezembro 19, 2004

(277) Sala de Cinema: Alexander, de Oliver Stone



Eu só compreendo o mar de críticas que este filme teve pelas enormes expectativas geradas, pelo dinheiro dispendido a produzir o filme e pelo estilo controverso de Oliver Stone. Porque o filme, sem ser uma obra prima, tem todas as características que os filmes de Oliver Stone costumam ter. É visualmente visceral, tem uma banda sonora irrequieta e poderosa e um argumento exagerado nas emoções. Tal como em filmes anteriores deste realizador há opiniões extremadas porque dificilmente nos deixa indiferente o turbilhão de emoções que Stone gosta de fazer dos seus filmes.

Posto isto, convém relembrar que estamos muito longe duma obra prima. O filme falha essencialmente nas interpretações e, por arrasto, nos momentos fulcrais da vida de Alexandre, o Grande. O problema é que Colin Farrell não consegue ser Grande e muito menos ter o carisma que arraste multidões atrás de si. Foi aí que as grandes batalhas perderam força, não no aspecto visual. Tirando Angelina Jolie todas as interpretações não estão à altura da história deste homem. A opção de colocar Anthony Hopkins a contar a história de Alexandre também não funcionou muito bem como ponto de partida e chegada do filme.

Houve acima de tudo um monstruoso erro de casting já que Alexandre, com todos os seus defeitos e qualidades, tinha que ter uma personalidade credível. Arrastar um exército e os espectadores ao Oriente exigia outro nível de interpretação. Colin Farrell tem potencial (veja-se o excelente Phone Booth) mas não funcionou bem neste papel. Ao contrário dos críticos do frenesim visual de Stone (que culmina na batalha da Índia) eu não fiquei desapontado, não esperava outra coisa dum realizador que sempre fez isso na sua carreira. Surpreendido ia ficar se o filme fosse linear e fosse um épico clássico. Nota positiva, apesar de tudo...

(276) Sala de Cinema: Immortel (Ad Vitam), de Enki Bilal



“Immortel” é assinado por Enki Bilal a partir da sua triologia de Banda Desenhada Nikopol (“A Feira dos Imortais”, “A Mulher Enigma” e “Frio Equador”). O filme é visualmente deslumbrante, apesar de notar-se algumas limitações nos efeitos digitais. A mistura entre o real e o digital funciona bem porque o universo de Bilal tem um estilo muito personalizado e facilmente reconhecível. Esta visão do futuro mistura os mitos do passado com as tecnologias do futuro e é este o seu maior trunfo!

Quando a imaginação ganha esta liberdade os filmes correm o risco de serem demasiado desconexos e complicados de perceber. Mas não é o caso! O argumento tem como base os seus bem estruturados álbuns de Banda Desenhada. Bilal não se preocupa em lançar um álbum por mês mas em criar arte e não é de estranhar que o seu ritmo de produção não se compare aos colegas americanos. Este Universo tem espaço para os humanos, para os mutantes, para os extraterrestres e para os deuses. E todos misturam-se geneticamente como se já convivessem desde sempre. Há espaço na narrativa para o mito, para a política e o erotismo. No final há uma fusão destes conceitos todos criando um admirável mundo novo! A não deixar de ver, para os apreciadores do género!

Uma palavra final ao renovado Passos Manuel, que vem ajudar a preencher uma enorme lacuna de salas de cinema na cidade do Porto. Sem ter uma sala fenomenal, criou um ambiente e uma agenda alternativa que cria diversidade no fenómeno cinéfilo, cada vez mais padronizado. Boa sorte para a iniciativa!

sábado, dezembro 18, 2004

(275) Sócrates no palanque a discursar

(274) A (falta de) Memória sobre Santana Lopes

(273) A Coligação em Campanha

(272) A Metamorfose de Portas: Disciplina, Confiança e Competência

(271) Ideias para a Campanha Eleitoral (2): Política Económica

A União Europeia ocupa-se, actualmente, de grande parte da Política Monetária e Cambial. Mas são nas políticas que ainda temos autonomia que a situação é mais preocupante.

1. No Curto Prazo: A fiscalidade assume grande importância num horizonte temporal curto. Temos que apostar num sistema fiscal simples que tenha dois objectivos, a competitividade e a justiça social! Isto sem comprometer o equilíbrio orçamental. Para isso a evasão fiscal tem que ser combatida de forma implacável e criar incentivos simples mas rigorosos para que as empresas gerem riqueza. Baixar as taxas de IRC e IRS não me parece muito vantajoso. Seria mais útil, em sede de IRC, um combate à evasão e onerar menos quem investe, quem exporta, quem qualifica e quem gere “bom emprego”. Em sede de IRS aplicar políticas sociais coerentes mas simples.

2. No Longo Prazo: Os problemas estruturais só se resolvem com políticas de longo prazo. A reforma da Saúde, Educação, Justiça e da Administração Pública em geral ganham aqui especial relevo. Nenhum país pode ser competitivo sem que estas áreas garantam as condições de funcionamento eficaz da sociedade. Aqui as reformas têm que ser corajosas, com continuidade e não podem desvirtuarem-se pela pressão dos interesses instalados.

Agora resta-me analisar os programas de Governo e ver qual o programa que é mais reformista nesta área!

(270) Ideias para a Campanha Eleitoral: Administração Pública

Quem tiver coragem de reformar a Administração Pública tem que ter em atenção alguns aspectos que estão a minar a sua produtividade. Não sou especialista na área em questão, mas detectei, até por experiência própria, carências enormes na nossa Administração Pública. Vou enumerar alguns!

1. Nem sempre no poupar está o ganho. A política de congelamento de admissões tem que acabar! Assistimos a um exército de funcionários públicos desmotivados, desactualizados e sem exigência de eficiência. Sangue novo, qualificado e admitido com regras exigentes, traria novas abordagens e formas de trabalho. Não podemos é continuar com esta demagogia que não contratar para serviços com défice de pessoal trará benefícios. Quantas horas extraordinárias são pagas a médicos, enfermeiros e administrativos nos hospitais públicos por falta de pessoal, equipamento e instalações? E que efeito isso tem na eficiência e qualidade dos hospitais?

2. É preciso ter a coragem de flexibilizar muito mais o mercado de trabalho. Não quero que seja fácil despedir mas tem que haver critérios de produtividade. Premiar quem trabalha bem é indispensável.

3. É preciso investir em meios que tornem o trabalho mais produtivo. Não adianta ter funcionários sem condições de trabalho. É preciso adaptar os serviços aos novos meios tecnológicos que potenciem a eficiência e criar instalações que permitam ter menos, os mesmos ou mais funcionários a executarem mais e melhores serviços públicos. Mais produtividade representa melhores salários e mais motivação! Aumentar os salários independentemente da produtividade tem sido a má regra adoptada porque, a prazo, só provoca dramáticos congelamentos de salários.

4. É preciso apostar na formação! A formação ao longo da vida é fundamental para não tornar obsoleto o trabalho dos funcionários mais antigos, para readaptar os funcionários a novas funções e para absorver pessoas em situação de desemprego.

5. É preciso reduzir a burocracia. É essencial simplificar processos para reduzir o tempo dispendido em cada serviço público.

Menos não é melhor. Há exemplos, em todo o país, de serviços que se funcionassem com mais pessoal, meios e flexibilidade trariam ganhos directos e indirectos avultados ao Estado mesmo no curto prazo. É preciso um enquadrar esta reforma num contexto complexo, que incluí negociar com sindicatos, activar meios de solidariedade social e reorganizar todo um sistema obsoleto que não tem critérios de gestão. Isto tem que ser feito por fases e com continuidade.

O objectivo é um nível óptimo de serviço ao menor custo! Primeiro define-se o objectivo como, por exemplo, que a emissão de licenças para a abertura de empresas tem que ser feita em 3 dias. A partir dos objectivos finais é que devemos dimensionar o que vem a montante, não ao contrário!

Agora resta-me analisar os programas de Governo e ver qual o programa que é mais reformista nesta área!

quarta-feira, dezembro 15, 2004

(269) Dissecando a Dissolução

“Logo no primeiro dia, Santana mostou a sua essencial instabilidade e dali em diante, de episódio em episódio, o caos cresceu.”
Vasco Pulido Valente

Há alguns dias anunciei o meu Basta às Politiquices mas noto uma vaga de fundo que critica a dissolução. Falam em perigoso precedente constitucional, falam em falta de razões concretas para a dissolução, enfim, levantam-se as vozes outrora envergonhadas em defesa dum país atolado na lama. Em Portugal nunca se sabe o que se quer, e quando sabemos nunca ficamos satisfeitos enquanto não criticamos o que, em tempos, defendíamos. Não vou discutir os prazos do Presidente, nem a aprovação do Orçamento mas vou sistematizar, na medida do possível, as razões da dissolução para que não restem dúvidas que Portugal não podia continuar a viver nesta sucessão de surrealismo.

“Santana é um demagogo e demagogia vive do movimento, não se instala em São Bento a reformar discretamente a pátria. Precisa de inimigos, de escândalo, de aventura.”
Vasco Pulido Valente

1. Não tenhamos medo dos precedentes constitucionais. A situação tinha nuances que são importantes. Em Portugal as campanhas eleitorais centram-se nos líderes, e isso é inegável. Não basta pensar assim para dissolver uma Assembleia mas não podemos esquecer que quem escolheu Santana não representa a vontade popular, mas interesse partidários comprometidos com o poder;

2. O próprio partido que escolheu o sucessor de Durão teve, desde a primeira hora, um processo em crescendo de rejeição da escolha efectuada. O partido que suporta a maioria na Assembleia desagregava-se a olhos vistos perante a escolha da cúpula do partido;

3. Desde o início, o novo Primeiro Ministro dava provas que não tinha perfil para o cargo. Apresentou-se impreparado, sem noção do sentido de Estado e sucediam-se os episódios de degradação das instituições portuguesas. Não houve uma posse que não tivesse um episódio de puro desnorte e ligeireza na condução do Estado. Não houve um dia em que não houvesse confusões, desmentidos ou contradições em matérias importantes para o país;

4. A postura face à Comunicação Social era, no mínimo original. Por um lado, uma clara reordenação de tudo o que o Estado podia influenciar como se a imagem fosse o essencial, e o trabalho algo secundário. Por outro lado o Primeiro Ministro mostrava uma incontinência inimaginável de declarações, preocupado com coisas menores, respondendo a tudo e a todos. Um estilo que não podia trazer nenhuma serenidade ou rumo ao país;

5. Santana ia perdendo a credibilidade, essencial ao cargo, em cada proposta que fazia. Importava mostrar trabalho, mesmo antes de estudar o problema. As taxas diferenciadoras nos hospitais, os professores a assessores jurídicos, as baixas de impostos diárias eram cada vez mais motivo de chacota e desrespeito generalizado. Quem é que ainda o levava a sério? Se juntarmos a isso o estilo quezilento de quem parece estar a lutar com o mundo e só tem inimigos em todo o lado chegamos à triste conclusão que o clima era de guerra, e na guerra tudo valia;

6. Fala-se de reformas corajosas e que havia um rumo para Portugal. Nada mais falso! A Reforma das SCUT era um logro envenenada pelas indemnizações e pela interminável lista de excepções a moradores, empresas e afins. A Lei das Rendas não era mais que uma proposta menos corajosa do que a que Guterres chegou a aprovar e que nunca foi aplicada por Durão ter prometido subida de rendas sem obras dos senhorios, ainda por cima feita sem prever uma almofada Estatal suficiente para evitar um drama social. A grande Reforma Fiscal era o que se via, com recuos como na Zona Franca da Madeira e constantes desvirtuações à proposta original. A baixa do IRS era uma incongruência total até porque não tinha resultados nem para os contribuintes nem para o Estado, limitava-se a lançar sinais contraditórios na economia. Todos os dias havia a necessidade de Santana falar em baixa de impostos, em ser popular e admirado, e daí resultou até uma Conversa em Família Marcelista onde prometia tudo a todos. O impacto real dessa descida era prontamente desmentido pelo próprio Ministro das Finanças só servindo para lançar a confusão na já desorientada sociedade civil;

7. Na economia tanto falava-se de rigor como de fim do rigor. A credibilidade externa diminuia tornando Portugal num país com taxas de juro menos favoráveis na concessão de crédito, tal era o risco associado ao desnorte das políticas económicas. A economia voltava a cair no terceiro trimestre não havendo nem uma política de emprego nem planos para a retoma industrial. Em 2005 já se previa um défice de 4 a 5% (sem medidas extraordinárias) e que Portugal vai ser das 20 economias do mundo que menos vai crescer. Já ninguém percebia se o consumo era a aposta para o crescimento da economia, se eram as exportações ou se simplesmente o crescimento ia ser importado do exterior através de generosas ofertas de mecenas rendidos ao visionário e carismático Santana;

8. O próprio Santana, como depois se veio a descobrir, ponderou várias vezes a demissão sentindo que já não tinha margem de manobra. O seu derradeiro suicídio deu-se quando desesperado, em pleno acto oficial, comparou-se a um bébe numa incubadora que só recebia estaladas e pontapés dos irmãos mais velhos. A sua continuidade ia revelar um animal ferido, sedento de sangue e guerra, que se alimenta dos inimigos que faz questão de criar em todo o lado! Santana Lopes é quezilento, demagógico e populista! É a sua natureza que aliada à falta de legitimidade não criou um perigoso precedente mas uma situação perfeitamente irrepetível na nossa Democracia.

Despreocupem-se aqueles que pensam que depois disto qualquer Presidente pode dissolver maiorias. O contexto era tão grave que só pessoas de memória curta e má fé podem defender o contrário. Não tentem reescrever o passado pintando-o das cores do arco íris porque é hora de revoltarmo-nos contra a pobreza de ideias, a falta de seriedade e a incompetência galopante. Se Santana voltar a ganhar aí sim terá toda a legitimidade para ser o que é, para ser populista, demagógico e incompetente, porque essa será a decisão soberana dos portugueses. Até lá ninguém autorizou seja quem fôr a brincar às vaidades pessoais nos cargos que gerem os nossos destinos, por isso nada mais simples que defender esta dissolução como algo natural, que não cria nenhum perigo ao nosso Semi Presidencialismo, só o reforça....

Estou farto do compadrio à mediocridade neste país que tem que, pelo menos, respeitar todos aqueles que, ao longo de séculos, construíram a nossa identidade. Considero-me uma pessoa tolerante, dentro da minha intolerância, mas como posso defender uma noção romântica de estabilidade, envenenada de tal forma por um Primeiro Ministro que tem o mesmo comportamento dum animal ferido, que vê por detrás de cada câmara de televisão um potencial inimigo, que leva a cabo uma guerra sem fim nem propósito porque só assim é que sabe sobreviver? Qual é o problema de dissolver uma Assembleia para expulsar ou legitimar um ego desmesurado e descontrolado do leme do país?

E agora sim que venham as propostas para o país porque estou desejoso de ir votar!

(268) Viaduto Millau



Foi hoje inaugurada a ponte mais alta do mundo! No seu ponto mais alto atinge 270 metros e é uma obra magnífica de engenharia projectada por Norman Foster. Este viaduto estende-se por 2,5 Quilometros e está inserido na ligação entre Paris e Barcelona. Esta ponte minimiza a quantidade de material utilizado o que a tornou economicamente viável. Cada uma das suas secções estende-se por 350 metros e a altura das colunas varia entre 75 a 235 metros. Tudo isto com o mínimo de intervenção na paisagem. Uma obra simplesmente notável que, além de cumprir o seu papel de ligação, promete ser um ponto de visita obrigatório no sul de França.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

(267) Páginas Soltas (7): O Triunfo dos Porcos, de George Orwell




“Animais de Inglaterra, animais da Irlanda
Animais de todas as terras e climas,
Escutai as minhas alegres notícias
Do tempo futuro, que será dourado.

Cedo ou tarde virá o dia,
O Homem tirano será destronado,
E os férteis campos da Inglaterra
Serão percorridos só por animais.

As argolas desaparecerão dos nossos focinhos
E os arreios das nossas costas,
Freio e espora enferrujarão para sempre,
Os chicotes cruéis não mais estalarão.

Mais ricos que o imaginável,
Trigo e cevada, aveia e feno,
Trevo, feijão e beterraba,
Tudo será nosso nesse dia.

Vivamente brilharão os campos da Inglaterra,
Mais límpidas serão as suas águas,
As suas brisas soprarão mais doces,
No dia em que formos livres.

Por esse dia devemos todos trabalhar,
Mesmo morrendo antes que desponte;
Vacas e cavalos, gansos e perus,
Todos têm de lutar pela liberdade.

Animais de Inglaterra, animais da Irlanda
Animais de todas as terras e climas,
Escutai as minhas alegres notícias
Do tempo futuro, que será dourado.”


Esta fábula conta a história duma Revolução. Os oprimidos animais revoltam-se e expulsam o homem da quinta. Mas, pouco a pouco, o idealismo dos animais corrompe-se pelo poder e pela mentira. É uma analogia brilhante de Orwell, que precede o realismo de
1984.

Este livro tem que ser enquadrado na obra de George Orwell. Eu diria que aqui assiste-se à Revolução e ao longo caminho de erosão da sua essência, dos seus valores. No 1984, a Revolução já é passado, a sua essência já está desvirtuada pelas mentiras e pelo apelo irresistível do poder.

Talvez a maior mensagem do livro é que todos os objectivos, mesmo os mais nobres, corrompem-se com o poder e quem era parte da solução passa a ser parte do problema. Este livro é, acima de tudo, sobre nós, Animais do Mundo, Animais de todas as terras e climas porque Cedo ou tarde virá o dia em que o Homem tirano será destronado. Só para ser substituído por outro!

“Os animais que estavam lá fora olhavam dos porcos para os homens, dos homens para os porcos e novamente dos porcos para os homens; mas já não era possível dizer quem era quem.”

domingo, dezembro 12, 2004

(266) Sala de Cinema: Collateral, de Michael Mann



Os primeiros minutos do filme são agradáveis e, acima de tudo, prometedores. Michael Mann sabe criar o ambiente correcto com a sua realização nervosa e os seus close ups desfocados. Os actores tinham o registo correcto, a fotografia estava excelente e os diálogos agradáveis. Aliás, Mann é um realizador que não protege os seus actores já que estes estão expostos a close ups exigentes ao nível dramático e geralmente retira destes o seu melhor.

A expectativa era grande e tudo corria bem até que o maior mal do cinema Americano actual manifestou-se. O argumento revela-se forçado, inverosímel e pantanoso. O desastre começou a anunciar-se à medida que o filme começava a envolver mais personagens e tentava ganhar dimensão. Só que o filme estava a funcionar porque era intimista, mal saiu dessa esfera morreu.

A partir de certa altura o filme foi progressivamente descolando do ensaio da realidade e caminhou para uma mistura de Terminator com Heat. Foi pena porque há muita qualidade neste filme. Há uma crise de bons argumentos em Hollywood e nem realizadores talentosos como Mann conseguem salvar o que à partida está condenado. Destaque para a sólida interpretação de Jamie Foxx, que promete brilhar em Hollywood.

(265) Porto Campeão do Mundo




Era a última Taça Intercontinental. Era o desempate entre a Europa e a América do Sul. O Porto fez um jogo cheio de personalidade e muita vontade de vencer. A bola não entrava apesar das inúmeras oportunidades que o Porto teve para marcar. A justiça fez-se no fim! Parabéns, Porto! Um último desejo para que o jogador com mais troféus no mundo, Baía, esteja bem...

sábado, dezembro 11, 2004

(264) Basta...

... de turbulência política! No meio de tantas incongruências, espectáculos mediáticos e multiplicação de intervenções há uma coisa que não podemos esquecer, Portugal atrasa-se cada vez mais! Não vou discutir o papel do Presidente, a demissão do Governo ou o conteúdo dos discursos políticos. Só vou relembrar que chegou a hora de discutir Portugal e o seu futuro! Vamos separar o acessório do essencial e quebrar este ciclo depressivo e humilhante para Portugal. Espero que a campanha seja feita pela positiva e nunca é cedo para começar!

(263) Família em Festa

Hoje fui assistir, no Pavilhão Desportivo da Póvoa de Varzim, ao encerramento do 10º Aniversário do Ano Internacional da Família, "Família em Festa". O conceito de família é inegavelmente importante e tem, concerteza, um papel importante nas sociedades actuais. Mas esta comemoração teve, sem sombra de dúvidas, um pendor ideológico de direita porque a perspectiva utilizada foi uma visão conservadora do conceito de família. Eu respeito a sinceridade das convicções de quem tem uma perspectiva conservadora da sociedade mas não tenho que rever-me nessas opiniões.

Este evento teve vícios de forma que não criam consensos à volta da defesa da família como pólo dinamizador da solidariedade social. A constante defesa da família padrão não é um mal em si, mas a introdução da defesa de famílias numerosas, da crítica ao divórcio e, em certa medida, ao aborto não contribuem para uma visão moderna do conceito de família. Isto não pôe em causa a sinceridade dos argumentos expostos e a comoção de alguns espectadores mas afasta consensos porque defende uma sociedade solidária alicerçada numa visão conservadora da sociedade.

Eu, antes de mais, prezo a defesa do indivíduo. A defesa da diversidade do ser humano. Esse indivíduo deve estar plenamente inserido na sociedade e deve ter a capacidade de formar sinergias em torno do conceito de família que resolver escolher, não deve é estar sujeito a padrões conservadores quando aplica a sua ideia de família. A opção de ter filhos, a opção de não casar, a opção de criar diferentes formas e laços não deve ser padronizada por associações que querem fazer da família tradicional o motor da solidariedade social. Com isto não venho excluir nenhuma visão de família das opções individuais, simplesmente gosto de olhar com outro ponto de vista para o papel da família na sociedade.

Deprimente foi o discurso do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Segurança Social, da Família e da Criança, Doutor Marco António Costa. Sem aludir uma única vez á questão de fundo veio aproveitar este acto oficial para cumprir uma agenda partidária. Esta agenda concentrou-se num sem número de banalidades governativas de vassalagem ao seu trabalho e ao trabalho de todos os representantes escolhidos pela coligação (Governos Civis, Câmaras Municipais) e num ataque cerrado à Comunicação Social. Chegou a dizer que a Comunicação Social só quer cobrir a destruição enquanto o que este Governo cria é ignorado. Eu quero é que se criem alternativas modernas para Portugal, não quero mais este rumo para Portugal e muito menos que continue a indiferença no que toca às questões de fundo. Os políticos em geral são cada vez mais imagem e cada vez menos conteúdo!

(262) Sucessão de Notícias

O Presidente Sampaio finalmente fez uma declaração ao país anunciando o que todos já sabiam. Justificou a sua decisão com a incapacidade da maioria parlamentar encontrar formas de estabilidade Governativa. Acrescentou que o actual Governo gerou uma sucessão de acontecimentos que minaram a sua própria credibilidade. Sem discordar da decisão do Presidente acho que este Governo era um nado morto e que nunca devia ter tido uma oportunidade. O perfil do Doutor Santana Lopes sempre foi inadequado para gerir um país a menos que fosse por vontade expressa dos portugueses. O seu passado falava por ele, com as suas aventuras desportivas e mediáticas, a sua incontinência verbal, as suas desastrosas experiências autárquicas. Ainda hoje soubemos que a sua gestão na Figueira da Foz foi apontada pelo Tribunal de Contas como danosa e nem preciso de falar de como Lisboa foi deixada após a sua gestão.

A expectativa centrava-se na aprovação ou não do Orçamento mas já se previa, dada a data escolhida do discurso do Presidente, que este Orçamento ia passar. Considero-o um péssimo Orçamento e a sua aprovação retira credibilidade à decisão de dissolução mas compreendo o receio do Presidente que o país vivesse em duodécimos. É uma decisão polémica mas compreensível.

Por isso a explicação do Presidente nem foi a notícia do dia! Mais interessante foi observar os tiros no pé de Paulo Portas que ainda há dois dias anunciava com pompa e circunstância contratos e postos de trabalho para a Bombardier. O grau de concretização do negócio ainda é incerto e foi anunciado como certo. Ontem foi desmentido pelo também ministro Álvaro Barreto e hoje o Ministro da Defesa veio corrigir as suas próprias palavras. A demagogia anda à solta neste país!

Mas a notícia do dia, na minha opinião, foram as declarações de Dias Loureiro. Se somarmos estas declarações às de Morais Sarmento no dia anterior percebe-se que o próprio Primeiro Ministro já não sentia condições de governabilidade e ponderava demitir-se. Esvazia por completo as suas já poucas justificações para fazer-se de vítima! Ele próprio já sentia a situação fugir-lhe ao controlo! Discordo é que o PS possa basear a sua campanha na ideia que os outros são piores e na ideia que se não votarem PS vão ter mais desgoverno. O próprio PS tem que afirmar a sua alternativa pela positiva ou arrisca-se a que a memória vá apagando com o tempo a sua vantagem relativa.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

(261) José Manuel veta Durão Barroso

A reestruturação do sector energético foi vetada pela Comissão Europeia, leia-se, pelo seu mentor! José Manuel esteve bem quando absteve-se de esgrimir argumentos na discussão da polémica pasta, mas não resistiu a votar favoravelmente o veto da Comissão Europeia. A Comissão alega, e eu concordo, que o negócio criaria uma situação de monopólio que ia afectar o preço final e, logo, os consumidores.

Que conclusão retirar do caricato voto de José Manuel? Que José Manuel, o Presidente da Comissão Europeia, acha que Durão Barroso, o Primeiro Ministro, ia prejudicar os portugueses. Não é a decisão da Comissão que ponho em causa porque concordo com ela já que evita um disparate nacional mas sim a posição de José Manuel. É sintomático o voto deste já que prova que é um político oportunista e, ao mesmo tempo, prova que o seu trabalho como Primeiro Ministro foi discutível já que nem o próprio concorda com o que elaborou.

Se Dali fosse vivo teria em José Manuel e em Durão Barroso um bom tema para mais uma das suas pinturas surrealistas. É que Durão tem tantas versões que já nem deve saber qual é o seu verdadeiro nome!

(260) Ainda bem que todos respeitam a decisão do Presidente

O ainda ministro Nuno Morais Sarmento resolveu dar um contributo lúdico à nação e pôr-nos a consultar o Dicionário para perceber porque é que Sampaio tem um "estilo caudilhista"! Eu fui logo consultar o guardião da nossa língua, a grande instituição chamada Porto Editora. Entre menções a Franco e ao fascismo a definição oficial da nação é esta:

Caudilho - chefe político; indivíduo influente; chefe militar.

Afinal não deve ser grave. Sampaio é, de facto, estas três coisas. Não percebo! O ministro a querer valorizar o nosso querido Presidente e a respeitar as suas decisões com tanto carinho e Portugal responde com tanta má fé. É injusto! Que país o nosso, parecemos um bando de invejosos que nem conseguimos dar valor à qualidade política de homens (com O grande) como Sarmento.

Será que, neste Governo, ninguém consegue estar mais do que um dia sem dizer asneiras?

quinta-feira, dezembro 09, 2004

(259) Para desanuviar o ambiente...



Bartoon de Luís Afonso

(258) As eleições não podem ser amanhã?


Tirem-me deste filme... Posted by Hello



Santana acusa Sampaio de não explicar as razões da dissolução! Sampaio desmente e Santana retoca o seu discurso, os portugueses é que não sabem! António Borges diz que o PSD precisa de regenerar-se e Santana revela conversas de Estado que manteve com este com o intuito de o descredibilizar! Publicações Económicas atacam Santana e este acusa-as de falta de representatividade! A LUSA não espalha as declarações pertinentes dos ministros e Santana acusa-as de instrumentalização! O Orçamento é criticado pelos empresários e Santana diz que é porque têm medo e porque são corporativistas! José Manuel Fernandes critica Santana e este afirma que é estranho alguém que esteve numa manifestação contra ele estar num jornal como o Público! Santana quer Cavaco a Presidente e este chama-o de incompetente! Santana responde chamando-o de traidor e carinhosamente de irmão mais velho que lhe dá estaladas e pontapés! Já não me espantava se amanhã este blogue fosse difamado ao mais alto nível... porque Santana já não escolhe alvos, só vê inimigos!

Tirem-me deste filme! Depressa!

terça-feira, dezembro 07, 2004

(257) Mário Soares faz 80 anos! Parabéns!



Tenho um respeito imenso pelo passado de Mário Soares. Pelo seu contibuto à Democracia e à definição ideológica do PS. É um homem de convicções que, apesar de necessitarem da devida actualização, ainda são úteis. Confesso que a sua clareza de opiniões e ideias encontra-se degradada pela idade e pelo afastamento dos locais de decisão mundiais. Mas admiro o seu desprendimento actual sem nunca deixar de querer intervir. Mesmo nesta idade é um inconformado! Sempre a ouvir e a aprender...

O seu passado interliga-se de tal forma com o nosso que é inegável o seu contributo ao Portugal Europeu, solidário e livre que existe hoje. Há muito a criticar porque ninguém está isento de erros mas quem erra por convicções tem o seu lugar garantido na história. A sua duração política é única em Portugal e o seu contributo estende-se pelo Portugal pré-Revolução, pelo pós-Revolução, pela entrada na União Europeia, pelo Portugal finalmente livre da constante turbulência social. Um caso único!

As principais críticas que lhe são apontadas são hoje questões consensuais. A descolonização era inevitável e Portugal, sejamos justos, já não tinha margem de manobra para fazer melhor. Os Governos de Soares foram os Governos possíveis, austeros e em constante fuga da Bancarrota! Hoje em dia a história faz-lhe justiça porque não há coerência maior que lutar por ideias e convicções. O seu contributo a Portugal ainda vai ser várias vezes reescrito, mas vai lá estar sempre uma marca muito pessoal.

Por isso compreendo a sua amargura pelo Portugal e pelo Mundo actual! Um homem habituado a lutar por designios nacionais vê o seu país invadido por políticos com navegação à vista, vê o mundo incompreensivelmente intolerante! Mas o mundo é assim, baseado na vontade dos homens em superarem-se! Uns conseguem, outros não! Mário Soares, sem dúvida, conseguiu! Parabéns!

Soares conseguiu, através duma coragem física e emocional tremenda, deixar um cheiro de modernidade neste país! Ser-se tacticista não é um defeito, só podemos transformar um país aliando uma enorme convicção com o controlo dos acontecimentos. Mas dele fica uma imagem de moderado, humanista, democrata, enfim, dum homem de convicções! Sim, Soares é fixe!

segunda-feira, dezembro 06, 2004

(256) Janelas para Outras Opiniões (6): Hollywood



Todos nós temos links nos nossos blogues, para outros blogues. Gosto de chamá-los de Janelas para Outras Opiniões. Descobri este blogue há pouco tempo e perdi o contacto com ele, temporariamente, quando mudou de endereço. Este blogue, Hollywood de nome, é gerido por Miguel Lourenço Pereira e já é uma visita obrigatória para quem gosta de estar a par das novidades e críticas da Sétima Arte, como eu!

“Blog-Jornal sobre a 7º Arte. Miguel Lourenço Pereira escreve diariamente tudo o que precisa de saber sobre o mundo do cinema...”

Aqui encontra-se uma compilação de tudo o que está a acontecer no mundo do cinema, desde estreias nacionais e internacionais, notícias, previsões, críticas, Festivais de cinema, biografias e muito mais desde que relacionado com a Sétima Arte. De todos os sítios que visito sobre cinema este parece-me o mais credível e o que é feito com mais rigor. As biografias dos actores e actrizes são sempre bem feitas e demonstram um conhecimento profundo da Sétima Arte. O que acho piada, e já escrevi isso no blogue, é como não conseguimos separar o profissional do pessoal quando descrevemos esta profissão. Faz parte do glamour de Hollywood.


“Cá está!
O HOLLYWOOD é o meu novo blog de cinema.

Um blog que promete marcar a diferença, e um novo espaço para desenvolver o meu trabalho, desde que terminou a minha colaboração com o aparentemente extinto PipocaBlog.

No HOLLYWOOD vão poder encontrar a minha marca pessoal bem vincada. Notícias actualizadas, reviews aos filmes que passam nas nossas salas, análises e algumas surpresas.

Prometo aos meus leitores, principalmente áqueles que, certamente, já me conhecem do longo e bem sucedido trabalho ao leme do PipocaBlog, mais e melhor.

Afinal, nunca Hollywood esteve tão perto...

Miguel Lourenço Pereira”


Eu tenho pouco tempo para estar a par das notícias e estreias da Sétima Arte. Cada vez mais selecciono o que vou ver pela carreira dos actores e realizadores, pelo tema do filme, pela visibilidade que os Festivais de Cinema dão a certos filmes, pelas revistas de cinema e, mais recentemente, habituei-me também a seleccionar o que vejo pelas opiniões e antevisões expressas neste blogue. É um sítio que compila as informações que procuro de forma bastante profissional. Claro que o gosto é algo relativo e nem sempre concordo com as opiniões expressas pelo Miguel. Um dos casos mais gritantes é o inarrável Terminal colocado no Top 10 de 2004 pelo Miguel.

“Termina desta forma a primeira previsão aos Óscares 2004 do Hollywood. Após duas semanas de viagem no complexo mundo da Academia de Hollywood, ficamos a conhecer os favoritos, as desilusões e aqueles que podem vir a surpreender tudo e todos.”

O blogue chama-se Hollywood e, de facto, a grande maioria das críticas centra-se na Sétima Arte produzida nos Estados Unidos da América. Para mim a grande lacuna deste blogue é a pouca atenção que dá, em proporção, ao Cinema Europeu e Internacional. Mas esta chamada de atenção só demonstra que este sítio já é tão profissional que quase já exijo dele o mesmo que exijo das revistas de cinema que compro. O Miguel está de parabéns e este projecto é do melhor que se faz em Portugal. Espero que o tempo que este sítio deve retirar ao seu autor não o faça ter vida curta (o blogue, claro está!), porque já é algo que dei por adquirido e faz muita falta no nosso mercado pobre em iniciativas de qualidade.

domingo, dezembro 05, 2004

(255) Janelas para Outras Opiniões (5): Filosofia Barata


Créditos: http://berique.blogger.com.br/
Posted by Hello



Todos nós temos links nos nossos blogues, para outros blogues. Gosto de chamá-los de Janelas para Outras Opiniões. Há algum tempo que queria retomar este exercício saudável de análise de outros blogues que, só por estarem nos meus links, têm algo que me chama à atenção. Desta vez vou dizer da minha justiça do blogue Filosofia Barata, criado em Fevereiro de 2004.

“O lugar onde todos nós podemos ser filósofos... loucos... e poetas!”

Como o próprio nome indica aqui filosofa-se. Sobre tudo e sobre nada, sempre com humor. Há desde logo um aviso, o de não reproduzir nada sem o consentimento do autor. Espero que o Rafapaim não leve a mal que eu quebre esse princípio para dar exemplos do que estou a falar!

“O melhor de tudo é que para ser uma filosofia barata por vezes nem tema precisa ter… basta ficar falando (aqui escrevendo!) sobre o tema mais complexo ao tema mais simples, talvez até não escrever sobre nada e ocupar um monte de linhas?!

O que será que torna algo em sério e interessante numa teoria, sem ser daquelas que podemos provar com o uso de qualquer ciência??? Não quero acreditar que só as filosofias que se provam são boas… tem lógica descabida e sem nexo que adoro!!!

A filosofia da filosofia é poder ser feita por qualquer pessoa… não preciso adoptar a de ninguém!!! O que é importante para uns pode não ser para outros! Mas aquilo que é importante para todos (maioria) será o “normal”?!?

O normal hoje então devia escrever sobre futebol… será que não sou normal?!? Não me julgo um pseudo-intelectual que critica tudo e todos e que julga que todos são uns ignorantes por não gostarem do que gosto… se a maioria gosta… e se a maioria faz a força… então que se faça a vontade (os gostos pessoais realizo sem chatear ou maçar ninguém!).

Filosofia até pode ser o que acabou de ler!!!“


Nem tudo tem nexo e muitas vezes nem reflecte a opinião do seu autor! Mas aqui não se insulta, apenas há filosofia. E não sai cara porque todos podemos ler e contribuir de forma barata, até diria grátis porque o tempo utilizado a ler este blogue não é tempo perdido! Há outro hábito do Rafapaim, o de comentar quase tudo o que comentaram nos seus posts. Nessa atitude a filosofia ganha outros rumos com variantes bastante imaginativas. Em suma, o blogue é interactivo!

“O meu irmão perguntou-me o que nos acontece quando morremos e eu respondi que somos enterrados debaixo da terra e comidos por vermes. Poderia ter dito a verdade, que a maioria de nós vai para o inferno arder eternamente, mas não queria traumatizar o pequenino.”

Visito este blogue sempre com vontade de contribuir com algo positivo, com mais uma Filosofia Barata. Na maior parte das vezes exercito a imaginação porque fui desafiado, e desafios tão bem lançados como este têm mérito. Desejo que este blogue não tente se reinventar, mas que vá mudando com o seu autor, sempre com o humor que o caracteriza. Este blogue não precisa dos Santanas Lopes para ter piada, simplesmente tem...

(254) Páginas Soltas (6): Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell



“Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força”

O mote está dado! Esta sátira política, a última obra de Orwell, é um aviso, um aviso sempre actual sobre os perigos do totalitarismo. Encaixa que nem uma luva a qualquer período histórico e é uma obra mordaz e cínica. Não há concessões ao politicamente correcto nem à estética, não vá a Polícia do Pensamento pensar que o autor cedeu à esperança.

“Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”

Orwell constroi uma sociedade que parece ser um perigo real, que não é nem improvável nem distante. O Grande Irmão está sempre vigilante. O regime tem vários Ministérios (curioso que o da Paz ocupa-se da guerra, o do Amor da lei e ordem e e da Verdade controla as notícias) que cerceam as liberdades individuais em nome da primeira forma de totalitarismo eficaz!

“A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Uma vez que se reconheça isto, tudo o mais virá por acréscimo.”

O melhor deste livro é a deliciosa elaboração de pensamentos e relações que são confrontados de forma cruel pelo regime instalado. Não há medo de arriscar neste livro e isso é feito duma forma cerebral. Não se percebe logo o porquê de tão exaustivas descrições do regime e dos sentimentos das personagens mas tudo vai ganhando forma à medida que o livro caminha para o fim. O último capítulo é de tal forma tenso psicologicamente que tenho dificuldade em encontrar, nos livros que já li, tal habilidade na descrição da mente (talvez só no “Processo”, de Kafka e no “Crime e Castigo”, do Dostoiévski).

Há um certo fatalismo neste livro, há um ponto sem retorno! Por isso é preciso combater com convicção todos aqueles que caminham nessa direcção!

sexta-feira, dezembro 03, 2004

(253) Eu Exijo!

Em vez de estarmos sempre a discutir as "politiquices" que só nos levam às soluções do "mal menor" temos é que começar a ser exigentes com os nossos políticos! Parece que discutimos sempre o acessório e esquecemo-nos do essencial, que o político tem a obrigação de ser reformador e competente. Que tal inverter toda a discussão e voltar à essência da Democracia Representativa. À exigência que os nossos representantes utilizem o nosso dinheiro com critérios de excelência! Dou um exemplo do que devemos exigir.

Eu exijo, como cidadão, aos meus representantes que tenham políticas económicas coerentes. Para quê baixar o IRS se o incremento de consumo vai quase todo para o exterior agravando a nossa Balança Comercial dada a nossa baixa produtividade? E se a produtividade é essencial para quê baixar a taxa do IRC sem critério? De que vale as "boas" e as "más" empresas pagarem menos IRC? Eu exijo que haja critérios! Que as empresas que reinvistam, que qualifiquem a sua Mão de Obra, que empreguem, que exportem, que inovem, que colaborem com as Universidades, que invistam na Cultura, que aproveitem os Fundos Europeus, que arrisquem em novas tecnologias paguem menos IRC. É um incentivo à produtividade a todas as empresas. Sem burocracia excessiva, como gostamos muito de fazer. Esta medida tem menos impacto nas receitas fiscais porque gera riqueza futura. A isto chama-se fiscalidade selectiva onde é útil o Estado arrecadar menos impostos porque gera-se riqueza!

Em suma, é preciso premiar o mérito. Eu exijo do Estado competência e eficiência ao gastar o nosso dinheiro. Tenho este direito, todos nós temos...

(252) Sala de Cinema: 2046, de Wong Kar-Wai



Não vou dedicar muitas palavras a este filme porque ele é difícil de descrever. O filme é intimista e claustrofóbico, apesar dos grandes espaços que anuncia existir à volta. No fundo tudo o que nos rodeia não transfigura a essência do ser humano, e muito menos altera as suas necessidades. Há um receio pelo que pode acontecer e uma constante reapreciação do passado. O ambiente visual do filme é do melhor que já vi mas isso é um pormenor (de luxo) porque não desvia a nossa atenção das densas personagens desta história. Uma surpresa bastante agradável do cinema oriental. O próximo projecto deste realizador é com Nicole Kidman (sempre a arriscar no cinema internacional o que faz dela uma das actrizes que melhor gere a sua carreira) o que só promete mais bom cinema!

(251) Opiniões Abruptas

Não é habitual concordar com Pacheco Pereira! A ideia de Cavaco a Primeiro Ministro só cheira a mofo! Mas hoje ele escreveu três posts que eu não podia deixar de reproduzir porque subscrevo sem reservas. Vale a pena ler!

SAMBA DE UMA REFORMA SÓ

Não me importava que houvesse um governo minimalista que tocasse o samba de uma reforma só. Que dissesse: vou gerir tudo como é habitual os governos gerirem, com competência, mas sem veleidades de mudar nada. No entanto, reformarei de fundo um aspecto da vida pública. Vou, por exemplo, desburocratizar. Onde são precisos cem papéis ficarão um ou dois. Onde demora um ano, vai demorar uma semana. E todas as pedras necessárias serão viradas. E durante quatro anos serei julgado por objectivos, como agora se diz. Talvez alguma coisa mudasse.

DESTINO (ESTE É QUE ESTÁ MESMO ESCRITO NAS ESTRELAS)

O nosso caminho não é a miséria. Disso estamos mais ou menos protegidos pela UE. É a mediocridade, e a mediocridade implica a miséria para alguns, o remediamento sem folga para uma vasta maioria, e o remediamento com folga para a classe média. Quanto aos ricos, esses defendem-se sempre bem. São internacionalistas e por isso podem viver em Portugal, com mudanças, ou sem elas. O nosso atraso e mediocridade estão-se a agravar e vão continuar a agravar-se. Esta situação é particularmente grave (e vergonhosa) porque isto ocorre ao fim de milhões e milhões de contos de apoios comunitários que não se repetirão. É um lugar comum dizer que temos uma última oportunidade numa ecologia ainda não inteiramente desfavorável, antes da UE ou implodir ou realmente se voltar a Leste. Talvez tenhamos mais “últimas oportunidades”, mas desconfio que não abundem.

INÉRCIA

A mim da política interessam-me as reformas. Nem sequer é preciso dizer quais são, toda a gente sabe quais são, ou, pelo menos, o sentido que devem ter. Sei também que tudo está organizado para que não se façam. Partidos, sindicatos, corporações não querem que se mexa nem um átomo nos seus pequenos poderes. Uma população com fracos recursos, com uma memória próxima da pobreza, com baixos níveis de literacia, adormecida pelo garantismo do estado e por uma sociedade dominada por mecanismos de cunha e patrocinato, também não se mobiliza facilmente para a mudança.

O estado é uma poderosa máquina de geração e manutenção da mediocridade e pesa sobre todos, distribuindo os mínimos e castrando o mérito e a diferença, favorecendo a dependência subsidiada. Os governos preferem ter este estado, com os seus inúmeros cordelinhos e fios de poder, e não querem perder nem um só deles, mesmo que tudo seja frágil. A inércia é muita.

Só há três antídotos a esta situação: poder forte, com a força dos votos, autoridade que vem da credibilidade, e vontade de mudança. A conjugação é raríssima, mas existe.

Abrupto

quinta-feira, dezembro 02, 2004

(250) Crise Política

Assisto incrédulo à opinião daqueles que defendem que as eleições antecipadas criaram uma crise política! É que a crise começou há quatro meses, não agora! Já vivemos em permanente crise política desde que Santana Lopes se agarrou à cadeira do poder. As eleições antecipadas são o fim, não o princípio, da crise política, ganhe quem ganhar! A vitimização é que já começou (os velhinhos não vão receber os aumentos, os funcionários ficaram a perder, é uma injustiça) porque os políticos têm uma memória selectiva. O Governo não explodiu, implodiu.

Ainda ontem o PP e o PPD remaram em sentidos opostos quanto ao futuro da coligação pré eleitoral, mesmo após uma reunião entre Santana Lopes e Paulo Portas, provando (como se fosse preciso) mais uma vez a descoordenação política destes. Quem diria que ia ser o PSD o interessado em ter a coligação e o PP a considerar Santana uma menos valia eleitoral? Foi até caricato ver o embaraço de Rui Rio, sem saber como enquadrar a decisão do PPD quanto à plataforma eleitoral nas declarações de Paulo Portas. O PPD e o PP são divertidos, mas de palhaços eu estou farto! Espero que a maioria dos portugueses também esteja e não veja a política com clubismos...

(249) Viagem a Madrid: Álbum de Fotos (4)

5. El Escorial



O El Escorial tem um imponente e austero palácio (San Lorenzo de El Escorial) localizado na Serra de Guadamara. O estilo é severo e frio (desornamentado, ou não decorado). Contém uma Basílica, uma impressionante Biblioteca e o Panteão Real.


6. Santa Cruz del Valle de los Caídos



Tenho que confessar que foi o local que mais me impressionou nesta viagem. Esta obra de Franco foi um símbolo do regime e foi construída pelos prisioneiros da Guerra Civil (infelizmente, mais um exemplo que a escravatura é o "melhor" método para construir monumentos imponentes). A Basílica estende-se pelo interior da montanha e é quase fantasmagórica tendo um ambiente soturno num longo corredor que conduz ao túmulo do ditador. Simplesmente imperdível!


7. Segóvia




Esta cidade é muito bonita quer à distância quer no local. Tem um Aqueduto romano atravessa a cidade antiga, uma Catedral Gótica imponente e o Alcázar, castelo que ergue-se sobre a falésia.

Termina aqui o relato duma viagem curta mas bastante recompensadora a todos os níveis, quer arquitectónico, cultural ou lúdico. Recomendado!

quarta-feira, dezembro 01, 2004

(248) O Dilema de Sócrates

Porque é que Sócrates não queria eleições antecipadas? A resposta é simples! Sócrates estava a ter uma postura muito reservada num período muito conturbado da nossa vida política e económica. Vou tentar analisar o porquê desta postura:

Cenário 1 – Santana Lopes cumpria a legislatura

É o cenário que politicamente mais interessava a Sócrates. O PPD/PP continuava descoordenado e sem rumo deixando o PS bem colocado para ganhar as Autárquicas e as Legislativas e deixava o PSD sem candidato presidencial. Adicionalmente, dava tempo ao PS para organizar o seu programa eleitoral nos novos Estados Gerais dando visibilidade a uma alternativa credível para o país (a escolha de Vitorino para coordenar o programa eleitoral não é inocente). Proporcionava igualmente tempo a Sócrates para tornar-se mais conhecido no Portugal profundo. Por fim, deixava para trás as impopulares medidas da lei das rendas e do fim das SCUTS. Era o cenário mais reconfortante para Sócrates mas o mais nefasto para o país.

Cenário 2 – O Governo cai antes do fim da legislatura

Este cenário assustava Sócrates e tornou-o pouco interventivo. Havia o cuidado de não subestimar a capacidade de vitimização que Santana tem. O PS não podia dar a entender que a dissolução acontecia em resultado da pressão da oposição. Havia ainda o perigo, apesar de reduzido, de Santana não se recandidatar e o PSD arranjar um candidato mais forte como Marcelo, que está nas graças dos portugueses por também ter sido uma vítima que tem mais visibilidade no Portugal profundo. As autárquicas e as presidenciais também serão agora mais difíceis de ganhar.

A escolha de Sócrates não era fácil porque o PS não está nem preparado nem interessado em governar já. Sampaio também sabia que o PS teria um programa mais útil para o país daqui a dois anos. O problema é que o país não podia esperar mais porque necessita de credilidade e competência para resolver o seu problema estrutural de desenvolvimento. Mesmo que fosse para (re)eleger Santana com outra legitimidade política. E agora, Sócrates?

(247) Finalmente...



... vejo a luz no fim do túnel! Ganhe quem ganhar!