Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

segunda-feira, julho 25, 2005

512. Férias



Logo agora que a situação política merecia longos e interessantes comentários, uma vez que a "velha guarda" da política está a voltar à acção, vou abandonar o blogue durante pouco mais do que uma semana. Eu queria levar o computador, como se pode ver na foto, mas depois ponderei e achei melhor descansar do surrealismo português durante algum tempo!

Um cumprimento a todos os que passam por aqui e perdem tempo a ler este blogue, em especial aos visitantes mais regulares! Até breve...

511. Apresentação do plantel 2005/2006 do Futebol Clube do Porto (FCP) - Estádio do Dragão








(Clique nas imagens para ampliar)

domingo, julho 24, 2005

510. A irresponsabilidade do Sindicato de Polícia



Confesso que começo a ficar profundamente irritado com o comportamento do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP). Depois das insinuações/ameaças de corte das pontes e da suspensão do papel das autoridades nos crimes menos graves até ao fim do mês, agora ameaçam que os polícias podem entregar as armas e não sairem das esquadras.

Ser polícia pode ser ingrato e inseguro. Pode até haver muitas injustiças que deviam ter outra atenção. Mas o polícia tem de saber que não se pode comportar nem protestar como um cidadão comum. Porque ele é a garantia da ordem e da segurança e, desse modo, quando protesta ninguém pode garantir que o faz no respeito pelas regras democráticas assim como ninguém pode chamar a polícia quando é um polícia que corta uma estrada. Por isso os polícias só podem ter uma e só uma arma quando falham as negociações, ou seja, usar a Opinião Pública e a Comunicação Social para explicarem a da justiça dos seus argumentos. E mais nada! É o fardo de se ser polícia...

Quem não perceber isto não pode ser polícia! Por isso a reacção do Governo é esta e tem o meu incondicional apoio. E se continuarem as ameaças defendo medidas bem mais duras para garantir que as regras mínimas dum Estado de Direito são respeitadas.

sábado, julho 23, 2005

509. Ainda a demissão de Campos e Cunha



“Enquanto a demissão de um Ministro do Desporto e da Juventude o levou a dissolver a Assembleia da República, um Ministro das Finanças do PS não. Será um Ministro do Desporto mais importante que um Ministro das Finanças? Estou à espera de explicações.”
Rui Gomes da Silva

Limitar a dissolução da Assembleia da República à demissão de Henrique Chaves é duma total desonestidade intelectual. Mas, infelizmente, é uma tese que tem ganho adeptos e só pode ser explicável por um vírus implacável que anda pelo ar e que deve estar a provocar delírios temporários. A minha opinião sobre este tema está aqui!

E se a política já está descredibilizada que dizer deste frenesim à volta das moções de confiança e censura em reacção a este caso?

Também não deixa de ser irónico que existam, agora, tantas vozes a elogiar o trabalho do Ministro das Finanças. Diria que é surreal assistir a estas cambalhotas de quem está politicamente comprometido com um partido mas ainda é mais estranho observar esse comportamento na blogosfera, onde há (ou devia haver) mais liberdade intelectual. Eu continuo a admirar o trabalho de Campos e Cunha, com excepção do erro (individual e colectivo do Governo) em ter aumentado o IVA.

Mas Campos e Cunha, apesar do bom trabalho desenvolvido na área das Finanças, não era o Primeiro Ministro. Da mesma forma que fez com que o Conselho de Ministros aprovasse algumas das suas sugestões também tinha que ser solidário com as outras sugestões aprovadas por maioria oriundas de outras áreas, independentemente de concordar ou não com elas. Eu, se fosse ministro, tinha a liberdade de votar a favor ou contra determinada decisão mas tinha que acatar a decisão da maioria. Se a minha discordância fosse inultrapassável é óbvio que tinha que me demitir. Nada mais natural numa democracia! Até estou de acordo com Campos e Cunha em relação a certos projectos (megalómanos ou não) porque é natural ter dúvidas quando ainda mal os conhecemos mas ele não é nem era o Primeiro Ministro nem o país pode ser governado a partir das Finanças.

No blogue Velho da Montanha há outra teoria. Segundo o caro Velho, que muito gosto de ler mas que discordo regularmente por termos convicções ideológicas diferentes, Campos e Cunha era um mero “boi de piranha”, isto é, “alguém que é deliberadamente sacrificado para beneficio ou salvação de terceiros”. Não rejeito esta teoria porque, em política, há sempre sacrificados. Mas se essa fosse a intenção (inicial ou não) de José Sócrates esta nunca teria sido a altura da saída de Campos e Cunha. Não tem lógica! O trabalho mal começou e o pior ainda está para chegar. O combate ao défice é longo e a situação do país não permite margem de manobra para sacrifícios prematuros. E mesmo que Sócrates tivesse idealizado uma demissão "sacrificial", este nunca teria sido o momento escolhido para aplicar esse "plano". Por isso a origem desta saída do executivo não deve, com elevado grau de probabilidade, ter tido origem neste tipo de motivação. Não há vantagens reais ou políticas nesta demissão. Muito pelo contrário...

sexta-feira, julho 22, 2005

508. Descompressão

Comunicado do Gabinete do Primeiro-Ministro

Faz o Governo saber que, até nova ordem, tendo em consideração a actual situação das contas públicas e como medida de contenção de despesas, a luz ao fundo do túnel será desligada.



P.S. Humor (negro) recebido por correio electrónico.

P.S. (2)
Ainda não li os comentários aos últimos posts. Logo analiso as vantagens da energia eólica e as reacções à primeira remodelação do executivo. :-)

quinta-feira, julho 21, 2005

507. Campos e Cunha




Confesso que foi com alguma surpresa que recebi a notícia da demissão de Campos e Cunha. Em primeiro lugar porque acho que estava na direcção correcta e em segundo lugar porque esperava que tivesse o apoio incondicional do Primeiro Ministro. Eu já referi várias vezes que o país não deve ser governado a partir das Finanças mas eu acho que as medidas até agora apresentadas, com excepção do aumento da taxa do IVA, iam na direcção correcta. Adicionalmente já contava com uma segunda vaga de medidas de redução das despesas sociais já no próximo Orçamento. Talvez esta segunda vaga explique o mal estar no executivo.

Mas o PS, e o país, têm que se habituar que não podemos continuar a viver acima da nossa produtividade e que, dos anos 80 para cá, tornamos o Estado excessivamente pesado e protector no mau sentido. Isso porque os serviços públicos estão ineficientes e a protecção social num mar de fraudes e regimes especiais inaceitáveis perante a nossa produtividade. O novo Ministro das Finanças, que conheço da faculdade, é um bom nome mas não sei se vai ter a força suficiente para prosseguir a contenção que é inevitável.

Campos e Cunha nunca me pareceu um político. Admirei sempre isso. Mas pareceu-me algo frágil no combate feroz, político e pessoal, que a oposição travou com ele. Por isso dificilmente seria um ministro duradouro. Mas nunca pensei que a sua passagem fosse tão breve pelo executivo. De qualquer maneira o meu obrigado pelo papel que teve enquanto ministro. Não tenho nada (ou quase nada) a apontar de negativo no seu curto trabalho.

506. Energia do vento




A aposta do Governo em diminuir a dependência energética em relação ao exterior parcialmente através da energia eólica parece-me bastante acertada. Eu não sou técnico e não sei se é a melhor solução custo/benefício mas não vejo desvantagens aparentes nesta solução.

Mesmo assim leio e ouço muitas críticas à solução. A primeira crítica é o licenciamento ser lento e a tecnologia mais cara em comparação com outras soluções. Concordo que o licenciamento parece-me excessivamente burocrático mas a situação é herdada e confio que o Governo vá ser capaz de acelerar o processo. Quanto a ser relativamente cara isso já não posso discutir mas aparentemente não tem havido dificuldades em atrair os investidores privados. Desconheço se é subsidiada mas se for não vejo problema de maior uma vez que o retorno pela melhoria da Balança Comercial é óbvio.

Outra crítica tem a ver com o fluxo de electricidade não ser constante. Parece-me uma falsa questão uma vez que não vamos deixar de ter formas alternativas de energia. Aliás julgo saber que esse é um dos critérios do concurso. Outro critério é o privado que assegurar os preços mais baixos tem vantagem no licenciamento o que me parece aceitável uma vez que a energia é um dos motores da economia. Finalmente queixam-se do impacto visual. Neste ponto deixo o TNT responder por mim:

Por acaso saberão os que falam contra os moínhos de vento que estes, quando estiverem obsoletos, podem ser desmontados sem deixar quaisquer vestígios? Prefeririam uma central a petróleo ou nuclear? Força!

quarta-feira, julho 20, 2005

505. Notícias que merecem reflexão

- Já é oficial! As conclusões expressas no relatório da PSP apontam para que não tenha havido um “arrastão” em Carcavelos. Agora gostava de saber se vão rolar cabeças nos orgãos de Comunicação Social ou se vamos todos assobiar para o ar e fazer de conta que este tipo de jornalismo não pode provocar incidentes graves!

- Mais de mil pessoas foram "apanhadas", no distrito de Braga, a acumular o rendimento do trabalho com o subsídio de desemprego. A fiscalização funcionou e estes casos foram detectados. A acumulação indevida e as baixas fraudulentas devem ser combatidas com cada vez mais vigor. Este tipo de situações, confesso, faz-me alguma confusão. Será que as pessoas não se apercebem que a fraude social e fiscal só atrasa o nosso país?

- A PSP e a GNR resolveram, até dia 31 do corrente mês, fechar os “olhos às infracções” consideradas menos graves em sinal de protesto pelas medidas do Governo. Ou seja depois de ameaçar cortar as pontes em Lisboa agora não vão obrigar o cidadão a cumprir as mais elementares regras da vida em sociedade. Já não sei o que diga! Considero estas acções duma extrema gravidade! Confesso que fico chocado ao aperceber-me que todos consideram a liberdade como um direito eternamente adquirido quando precisamos de estar, a todo o momento, a lutar para que não a percamos.

terça-feira, julho 19, 2005

504. Em DVD: House of Sand and Fog, Dancer Upstairs, Noite Escura, Seinfeld: Season 3



House of Sand and Fog
Realizador: Vadim Perelman
Elenco: Jennifer Connelly, Ben Kingsley

Síntese da Opinião: Esperava mais deste filme! A interpretação de Ben Kingsley está irrepreensível e, em certa medida, também está a de Jennifer Connelly. Mas confesso que achei pouco realista a abordagem às tragédias pessoais de cada personagem desde a do polícia até à do imigrante. Foi o resultado de tentar adicionar à história inicial o drama da xenofobia. Mesmo assim recomendo!



Dancer Upstairs
Realizador: John Malkovich
Elenco: Javier Bardem, Laura Morante

Síntese da Opinião: Gostei da estreia na realização de Malkovich. Uma realização competente e uma história bem contada. O perfume português é que deixou algo a desejar com uma Alexandra Lencastre que mal sabia falar inglês e imagens do Porto a retratar uma capital dum país da América Latina. Finalmente vou percebendo a histeria à volta de Bardem porque está perfeito neste filme.



Noite Escura
Realizador: João Canijo
Elenco: Rita Blanco, Beatriz Batarda, Fernando Luís

Síntese da Opinião: Eu não podia deixar de comprar aquele que, para mim, é dos melhores filmes que o cinema português apresentou em largos anos. Já o tinha ido ver ao cinema (ver aqui) e fiquei de novo com a impressão que está aqui um grande filme! Não perfeito, mas um grande filme na mesma!



Seinfeld: Season 3
Realizador: Vários
Elenco: Jerry Seinfeld, Julia Louis Dreyfus, Michael Richards, Jason Alexander

Síntese da Opinião: Nada como rever uma das comédias mais bem conseguidas da televisão americana. Não é politicamente correcta e conta com um conjunto de personagens e situações que ainda hoje fazem-me sorrir. Atenção aos extras de qualidade bastante razoável. Aconselho a compra da versão inglesa na amazon para poupar uns trocos mas só para quem não se importa em ter legendas em inglês.

503. Herman José



Quando assisti no Domingo ao vídeo da música “És tão boa” pensei para os meus botões que só podia ser o Herman a gozar com algum músico pimba. Depois descobri que, afinal, já lançaram um single com essa música com a descrição de “O Melhor de Herman”. Pensei logo que este álbum não ia vender. Hoje, para minha surpresa, entro num café e um grupo enorme cantava esta música. Tenho que aprender a viver com os gostos dos meus congéneres para que eles também tolerem os meus...

Ou eu mudei muito ou foi o Herman que mudou muito. Eu adorava o Humor de Perdição, o Herman Enciclopédia e até a Roda da Sorte porque acho que o humor era inteligente e quebrava com o humor tradicional e conservador que ainda se fazia. Mas, hoje em dia, já não reconheço esse humor no “Herman SIC”. Aliás, já nem consigo ver o programa porque o humor foi substituído pelo mau gosto. Não sei se o programa tem boas audiências mas presumo que sim para estar no ar há tanto tempo. Eu sei que nunca houve a preocupação com o politicamente correcto no Herman e não considero que o humor popular seja mau, mas aquela inteligência e classe com que ele conseguia virar o texto e transformar o banal em algo subtil desapareceu, na minha modesta opinião. Hoje nada é subtil nele, tudo é feito a nú (literalmente) e nada nos obriga a pensar. Diria que tudo é demasiado gratuito e formatado.

Estamos na era do populismo e das receitas fáceis. Pelos vistos só eu é que ainda não me habituei...

502. Sistema OPS



O sistema OPS ("Organic Prestressing System") é uma “tecnologia pioneira na construção de pontes” que permite poupar 20 por cento dos custos e aumentar os níveis de segurança. Este sistema foi baseado no funcionamento do corpo humano e, para mim que sou leigo na matéria, encaixa que nem uma luva a terminologia “Pontes com músculos”.

A tecnologia envolvida neste sistema é inovadora mas eu não tenho conhecimentos técnicos para avaliá-la. O meu objectivo, com este post, é realçar esta feliz cooperação entre uma Universidade Pública (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – FEUP) e uma empresa privada (Mota-Engil). Este sistema, desenvolvido pelo professor Pedro Pacheco, permite que a estrutura seja muito mais leve, mais segura, mais fácil de transportar e mais barata. Reduz o tempo de execução da obra e já está a ser utilizada na construção da ponte sobre o rio Sousa, em Lousada.

Este parece-me o caminho óbvio do nosso esforço de inovação, ou seja, o risco ser assumido pelas empresas privadas mas utilizando os meios do Estado na investigação. Só assim evitamos investigações megalómanas. A inovação é focalizada na competitividade das nossas empresas. Mas surgem-me duas dúvidas. Será o sistema de patentes actual suficiente para proteger a rentabilidade da faculdade e do empresário? E se fosse uma empresa estrangeira a financiar a investigação na FEUP o Estado devia permitir? Se sim, com que contrapartidas?

segunda-feira, julho 18, 2005

501. Como colar o Plano Espanhol com o Programa Português?


(clique na imagem para ampliar)

O Governo Espanhol anunciou o Plano Estratégico de Infra-estruturas e Transporte (PEIT), o equivalente ao nosso Programa de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias (PIIP). As diferenças estão à vista na ambição mas não podemos comparar a dimensão e a realidade económica actual dos dos países. Pior, para nós claro está, é o grau de profissionalismo com que os projectos foram apresentados. Repare-se que o projecto espanhol está numa fase muito mais adiantada no que se refere aos investimentos ferroviários.

Mas há um “pormenor” que me inquieta! É impressão minha ou estes investimentos não são complementares? É que ainda não decidimos, em definitivo, o nosso trajecto e o Plano Espanhol já prevê não só um trajecto pouco consensual entre nós como uma linha de transporte combinado de pessoas e mercadorias. Parece que é possível tecnicamente uma linha mista de alta velocidade e até pode ser uma boa ideia mas o que me preocupa é que ainda não conheço a posição portuguesa em relação a este assunto (quem souber que me indique onde posso perceber a estratégia portuguesa)...

domingo, julho 17, 2005

500. O Homem



Devemos acreditar no homem?

Advogado do diabo #1: Não!

Porque lutamos? Por uma sociedade mais justa? Não! Nós não somos altruístas, nunca vamos ser. Tirem-nos a pizza para dar pão a terceiros e começa uma revolução. Por uma recompensa divina? Não! Nós já não acreditamos em deuses e muito menos em deuses que foram “criados” para necessidades diferentes das que temos hoje. Não foi Deus que criou o homem à sua imagem mas sim o homem que criou Deus à sua imagem. A ciência destruíu a fé. Os dogmas cairam, o homem está só!

O problema actual do homem é o mesmo de sempre. Precisa dar um sentido à vida quando ela pode resumir-se ao que sempre foi, leia-se, uma luta pela sobrevivência. Sobrevive, mesmo à custa dos seus congéneres. O resto são floreados e ilusões feitas por sonhadores criativos que se recusam a aceitar que o que nos separa dos animais não é a inteligência mas sim a dificuldade de aceitar o óbvio.

O homem precisa de novos valores e objectivos, mesmo que sejam novas ilusões. Até porque eu também quero viver na ilusão, porque felizes são os que vivem sob o seu jugo! E só quando voltarmos a sonhar com utopias podemos voltar a acreditar que humano significa bondoso, benigno, compassivo, próprio do homem, relativo ao homem. Porque, no fundo, bem no fundo... somos meros animais que tentam sobreviver a todo o custo! Precisamos de nos iludir para não sermos seres mesquinhos e conflituosos, leia-se, para combater a nossa natureza! O mundo em que vivemos é o reflexo do homem... desorientado, perdido, inerte, egoísta... porque é o homem que criou o capitalismo, o comunismo e o socialismo, que elegeu o Bush, que permite a pobreza, que trava a sabedoria, que quer globalizar-se...

Advogado do diabo #2: Sim!

O homem é um ser único intrínsecamente movido por objectivos nobres que nenhum outro ser vivo consegue atingir. Isto significa que, no fundo, somos bondosos e generosos mas que ainda não encontramos a forma de nos organizar que consiga potenciar isso. Pensamos como espécie e, assim, somos capazes de oferecer uns aos outros as mais belas formas de arte e constantemente desafiar os nossos limites à procura de conhecimento e, mais importante, de sabedoria.

Só acreditando nas nossas potencialidades seremos capazes de merecer o nome de humanos. Sim, porque o mundo ainda não assistiu à capacidade do homem em ser generoso e altruísta porque estamos enredados em lutas artificiais que retiram o pior de nós e que nos adormecem. Quem defende que a nossa natureza é egoísta não conhece um sorriso duma mãe, a bondade dum amigo ou a sincera ajuda de uma pessoa que teve mais oportunidades.

Devemos ser socializados e seguir a ideologia de homens iluminados ou devemos ser honestos com a nossa essência altruísta para que antijamos uma sociedade mais justa? A segunda resposta é a única que é racional porque as ilusões que nos vendem só são criadas por uns poucos homens com mentalidade distorcida para nos desviarem da conquista da sabedoria. A culpa é da forma de nos organizarmos, não do homem! Porque afinal tudo tem sentido que é o homem evoluir como espécie, leia-se, tornar-se cada vez mais sábio!

Quem tem razão?

P.S. Quero agradecer à Anastácia, ao TNT, ao C. Índico e ao Anónimo pelos comentários que têm proporcionado excelentes reflexões neste blogue! Só assim vale a pena escrever...



Falas de civilização...
Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Alberto Caeiro


sábado, julho 16, 2005

499. Os (degradados) valores ocidentais


Principezinho, não assistas a isto!

O último post revelou comentários interessantes! Um deles foi o do TNT ao afirmar que os valores ocidentais não são o motor da luta contra o terrorismo. Eu só pergunto que valores são esses? Qual é a nossa luta nos dias de hoje? Tudo está aparentemente adquirido e nenhum de nós dá o verdadeiro valor a nada! A própria fé foi destronada por uma ciência que descobriu os calcanhares de Aquiles dos filósofos. Lutamos, hoje em dia, por mais bens materiais e para manter o poder de compra...

"POLICE believe that they have identified the British-born man who masterminded the suicide bomb attacks on London. It also emerged yesterday that one of his recruits was a primary school teaching assistant."
http://www.timesonline.co.uk/article/0,,22989-1693463,00.html

Por isso não me espanta que os Ingleses tenham perdido, esta semana, o rumo. Depois duma reacção madura ao medo, isto é, a vida económica podia seguir sem grandes sacrifícios fizeram uma descoberta terrível. Os terroristas já são e foram criados dentro deles. Não são pessoas sem educação nem oriundos dum Afeganistão qualquer. Foram criados, educados e convertidos em solo inglês. E agora? Onde nos vamos agarrar para tentar manter a aparência duma luta entre os bons e os maus? Como vamos combater a ignorância quando os terroristas surgem do nosso sistema educativo? Quem vamos invadir para manter a ilusão que os nossos valores são supeirores? Só me ocorre bombardear e invadir as escolas...

Também não fico espantado que, em Portugal, um ou mais sindicatos da polícia ameacem cortar o trânsito na ponte 25 de Abril. É o esquecimento total do que demoramos séculos a conquistar. É dar tudo por adquirido como que já fosse impossível regredir. Lamento informar que a história nos ensinou que tudo se perde num ápice. Se um conjunto de cidadãos corta uma ponte é crime e chamamos a polícia. Quando a polícia corta uma ponte acaba-se o respeito pela liberdade. E quando os polícias já não sabem o seu papel mais vale pensar no que já não funciona nos nossos aclamados valores ocidentais. E, entretanto, porque não despedir sumariamente quem sequer se lembra de tais ideias subversivas? Será que resolve o problema de fundo?

O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry

"Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
- AH! Então, desculpa! - disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que tu andas à procura?
- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - O que é que "estar preso" quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar - disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?
- Não - disse o principezinho. Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
- Parece-me que estou a começar a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor...tenho a impressão que estou presa a ela...
- É bem possivel - disse a raposa. - Vê-se cada coisa cá na Terra...
- OH! Mas não é da Terra! - disse o principezinho.
A raposa pareceu ficar muito intrigada.
- Então, é noutro planeta?
- É.
- E nesse tal planeta há caçadores?
- Não.
- Começo a achar-lhe alguma graça...E galinhas?
- Não.
- Não há bela sem senão...- disse a raposa.
Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual, à quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta-feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
O principezinho lá foi ver as rosas outra vez.
- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vocês ainda não são nada - disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês e vocês não estão presas a ninguém. Vocês são como a minha raposa era. Era uma raposa perfeitamente igual a outras cem mil raposas. Mas eu tornei-a minha amiga e, agora, ela é única no mundo.
E as rosas ficaram bastante incomodadas.
- Vocês são bonitas, mas vazias - ainda lhes disse o principezinho. - Não se pode morrer por vocês. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sózinha, vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a que eu reguei. Porque foi a ela que eu pus debaixo de uma redoma. Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.. Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas). Porque foi a ela que eu vi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer."

sexta-feira, julho 15, 2005

498. “Abu Ghraib Tactics Were First Used at Guantanamo”



"Reasonable people always suspected these techniques weren't invented in the backwoods of West Virginia"
Tom Malinowski, the Washington director of Human Rights Watch

Cada vez torna-se mais claro que os incidentes de Abu Ghraib não foram actos isolados de soldados “maléficos”! Meia dúzia de soldados foram alvo de sanções exemplares para tentar provar ao mundo que não havia uma estratégia coordenada a partir do Pentágono para incentivar a tortura e humilhação (física, psicológica e sexual). Mas o quadro começa a ficar mais claro!

É que uma investigação pedida pelo Senado americano dá indicações claras que as torturas já eram uma prática corrente em Guantanamo e que teriam sido autorizadas por Rumsfeld. A humilhação sexual foi incentivada a partir do topo da hierarquia. Já não bastava haver prisioneiros que não são julgados e agora fica claro que a falta de respeito mínimo pela sua dignidade foi coordenado.

Mais pormenores aqui!

Como é que deixamos o mundo ficar tão frio e perigoso? Como é possível sermos indiferentes a esta regressão no respeito pelos direitos humanos no mundo? Será assim que vamos resolver o problema do terrorismo? Será que não é inevitável haver efeito “boomerang”?

quarta-feira, julho 13, 2005

497. Sim, vou voltar a falar da Economia




Dizem que os economistas falam, falam mas não fazem propostas consequentes para resolver os problemas do país. Vou tentar contrariar essa ideia...

Diagnóstico do Banco de Portugal:

- [Portugal é] “um país com [um nível de desenvolvimento] intermédio e de pequena dmensão”. [Por isso, está na] “pior situação perante a integração europeia e a globalização”: “Não tem dimensão nem massa crítica para competir em áreas mais tecnológicas, nem pode competir por custos”, [em comparação com países com mercados maiores ou em estados menos avançados de desenvolvimento.]

- [Em 2004], “interrompeu-se o ajustamento dos desequilíbrios que estava em curso desde 2000”; [houve um] “aumento importante do consumo e da procura interna”. [Esse aumento] não sinificou uma subida da produçãp, mas sim das importações” [-um reflexo da] “falta de competitividade” [da economia portuguesa.]

É portanto obrigatório que a estratégia do Estado:

- Não insista numa economia competitiva pelos custos em concorrência directa com países num estado de desenvolvimento inferior porque estamos fadados a perder sempre.

- Passe por apostar na qualidade e diferenciação, assumindo que Portugal está preparado a entrar na próxima fase de desenvolvimento. Nesse caso convém apostar nas áreas mais tecnológicas ou nos produtos diferenciados que possam competir com as economias que tenham custos mais elevados na protecção social e recursos humanos mais especializados e caros. Para isso precisamos de massa crítica em recursos humanos e dum mercado potencial alargado que não se resuma ao mercado nacional. Por isso é obrigatório continuarmos a ser uma economia aberta!

- Atraia Investimento Directo Estrangeiro (IDE). Para que isso aconteça precisamos de recursos humanos especializados, uma fiscalidade competitiva e leis do trabalho mais equilibradas entre empregador/empregado.

Então sugiro ao Estado algumas medidas concretas e indispensáveis para retomar o rumo do crescimento:

- É necessário apoiar fortemente a exportação. E como um dos maiores problemas das exportações prende-se com o risco financeiro da transacção devíamos imitar a política espanhola neste campo. O Governo Espanhol, perante uma encomenda, assume o risco da transacção dispensando as garantias bancárias. Se a empresa estrangeira não cumprir o pagamento o Estado paga à empresa exportadora e assume o papel de cobradora da dívida;

- Temos que diminuir a dependência com o exterior via importações. Como não adianta fazer políticas proteccionistas que aumentam o mercado paralelo e provocam sanções temos que fazer uma análise das nossas dependências e necessidades. Um exemplo óbvio é o sector energético e temos que grarantir maior produção a preços menores de energias alternativas ou não, para garantirmos a nossa independência energética. A utilização de tecnologias limpas e eficientes a nível energético nas casas, empresas e transportes deve ser subsidiada e incentivada;

- É necessário estancar a subida dos impostos já! A única solução para que isso aconteça é diminuindo as despesas de funcionamento do Estado e as despesas socias. Aqui está um dos maiores desafios que vai mexer com as regalias de todos mas que é inevitável para que, no futuro, não hajam cortes ainda mais drásticos (proponha muitas medidas neste campo mas, dado o número elevado das mesmas, esclareço mais tarde num post independente);

- A introdução do mérito é essencial para aumentar a qualidade dos serviços públicos. Adicionalmente é crucial simplificar os processos de funcionamento do Estado. Ninguém imagina como a burocracia e a ineficácia dos serviços do Estado prejudicam a economia. Seja porque a justiça é lenta, porque as listas de espera na saúde provocam absentismo, porque é difícil obter autorizações e licenças, porque a educação é muito desigual e desconexa, porque o Estado é mau pagador e por aí fora;

- O combate à evasão fiscal e ao desperdício a nível social tem que ser implacável. Não só é necessário aumentar o número de efectivos no combate à evasão como simplificar o sistema e promover regalias aos cumpridores. O Brasil, por exemplo, troca facturas de restaurantes e outras que não usamos em sede de IRS para oferecer ingressos em espectáculos de índole cultural. Cumpre dois objectivos: combate a evasão e torna a cultura menos dispendiosa para o Estado. A situação de impunidade actual cria um ciclo vicioso de desrespeito pelas funções do Estado;

- A fiscalidade tem que ser diferenciada. Não me canso de defender que um sistema fiscal competitivo não é aquele que baixa as suas taxas mas sim aquele que premeia a inovação, a formação, a incorporação de tecnologia, a utilização de energias limpas, os criadores de emprego e por aí fora. Mas para isso acontecer sem fiscalização é melhor nem iniciar esse rumo porque ia acontecer o mesmo que aconteceu no cavaquismo, com outros moldes porque eram subsídios, com os fundos da União Europeia . Temos que nos habituar que a execução das leis é tão ou mais importante que a qualidade das mesmas.

Fica muito por dizer e fazer mas o post já vai longo. Portugal ainda não está arredado das oportunidades de melhoria da qualidade de vida. Temos é que romper com um modelo de desenvolvimento esgotado. Mas sem dramatismos porque a confiança também é um critério económico. Voltando a parafrasear Rita Blanco em Noite Escura: Toca a dar andamento a isto...

496. Vamos voltar a falar da Economia?

O investimento, o crescimento económico e as exportações retraem-se. O endividamento continua alto e cada vez mais o consumo é usado em produtos importados. As exportações com a Alemanha caem a pique por causa do alargamento. Este é o retrato do Banco de Portugal após nova revisão em baixa das nossas expectativas.

Sou da modesta opinião que não vale a pena entrarmos de novo numa espiral de pessimismo. Já bastam os últimos 4 anos! Até porque o pessimismo é a pior face da economia já que amordaça o investimento e torna os privados ainda mais aversos ao risco.

Já basta de lamentos e de nostalgia! Toca a dar andamento a isto... (sim, estive a ver a Rita Blanco na Noite Escura de novo)

terça-feira, julho 12, 2005

495. Terrorismo Cívico




Há graves problemas de pobreza e desemprego no país. Isso é indiscutível! Mas há situações de intolerável injustiça por aproveitamento indevido de bolsas, subsídios e reformas. Nada como exemplificar:

- Ontem lia no Público um exemplo duma senhora que resolveu comprar anos de trabalho. Simplesmente levou duas testemunhas e pagou 400 € para “comprar” 6 anos de trabalho no sector privado podendo agora reformar-se muito mais cedo do que o previsto. Note-se que uma das testemunhas tinha 10 anos na altura dos acontecimentos;

- Ninguém duvida da justiça elementar duma bolsa de estudo. Porque é, então, que mais de metade dos bolseiros que conhecia e conheço tinham mais rendimentos que os dos meus pais? Uns porque eram filhos de pais divorciados e, na candidatura, afirmavam que viviam com o rendimento só de um e outros porque os pais tinham profissões liberais e/ou independentes e, apesar dos avultados rendimentos, não declaravam nada às Finanças;

- Não consigo imaginar o caos que seria neste país ao nível social se não houvesse subsídio de desemprego. Mas acumulam-se situações que conheço de pessoas que usufruem desse subsídio e fartam-se de recusar trabalho no sector privado porque a diferença perante o subsídio não compensa sair de casa. Só vão trabalhar ou metem baixa quando o centro de emprego, tarde e a más horas, os obriga. Porque se fôr no sector privado simplesmente recusam-se porque sabem que não há cruzamento de dados. Seria interessante observar quantas empregadas de limpeza usufruem do subsídio ao mesmo tempo que dos rendimentos provenientes do seu trabalho;

- Finalmente o paradigmático caso do Rendimento Mínimo. Eu acho este subsídio da mais elementar justiça mas de difícil, quase impossível, fiscalização. Nos dias da visita da assistente social há uma verdadeira revolução nos lares, isto é, os filhos dos vizinhos já lá moram, os electrodomésticos de valor são removidos, os filhos que trabalham já não moram lá e outras situações completamente surrealistas.

Que fazer? Não se trata duma questão orçamental mas duma questão de elementar justiça social. Enquanto o Estado permitir estas situações é óbvio que vamos aproveitar essas regalias. Só com uma conveniente fiscalização fiscal e social podemos credibilizar este sistema. Porque actualmente paga o justo pelo pecador porque o Estado permite levianamente que todos comam uma fatia do seu bolo redistributivo.

segunda-feira, julho 11, 2005

494. Medidas na Política dos Medicamentos



O Governo vai alterar a política dos medicamentos. Apresenta novas propostas e, surpresa das surpresas, vai obrigar a que se cumpra a lei actual. É que a a actual lei não era aplicada por causa da negociação entre o anterior Ministro da Saúde e a Indústria para congelar os preços e por uma “lacuna” na lei. Só mesmo neste país um Governo tem que legislar para que se cumpra a lei em vigor.

A lei (a antiga que vai passar a ser nova) obriga a uma revisão dos preços comparando-os com os preços mais baixos dos mesmos medicamentos vendidos em Espanha, França e Itália. Os produtos inovadores que ainda têm preço provisório vão ter preços mais baixos do que nestes países de referência. O ajuste vai passar a ser imediato e não gradual como até agora. E como não eram actualizados os preços com os países de referência para comparação há a possibilidade da diminuição dos preços ainda ser maior. Não me perguntem qual o critério escolhido para usar estes três países como referência e não outros porque nem consigo responder nem compreender! A nova lei também vai reduzir a margem de lucro do armazenista e do farmacêutico.

Uma regulamentação deste género pode inviabilizar a produção de certos medicamentos, pode causar entraves à inovação e pode provocar adiamentos no lançamento de novos medicamentos por isso confesso que não sou apologista da regulamentação directa! Mas na área da saúde não quero ver ninguém a “brincar” com os preços através da lei da oferta e da procura. Por isso, neste sector, acho que as medidas vão no bom caminho até porque o Estado não pode continuar a suportar o aumento exponencial deste tipo de gastos. E quanto à inovação pode até ser uma falsa questão porque se já se utiliza noutros países não é concerteza uma inovação portuguesa e porque se dá lucro nos outros países não há razão para que a margem de lucro aqui também não seja suficiente.

A Indústria Farmacêutica está em “choque”! Mas como vai gastar menos dinheiro em medicamentos para o tratamento desse “choque” pode ser que a lei venha no momento certo.

Mais pormenores aqui!

sábado, julho 09, 2005

493. X-Files: Carcavelos, 10 de Junho



Sempre achei o suposto “arrastão” um caso muito mal explicado! Resolvi não comentar. Vou continuar a não falar do que desconheço mas convém deixar aqui duas notas:

1. Não devemos aceitar as notícias televisivas ou jornalísticas sem fazer uma filtragem. Basta usar o nosso bom senso e inteligência;

2. Independentemente da raça, religião ou classe social dos responsáveis por um crime ou por uma situação pouco clara não devemos retirar conclusões sobre o todo a partir de uma parte. Estamos no século XXI e já não há a desculpa da ignorância para sermos intolerantes e preconceituosos.

492. Balanço da Coligação PSD/PP, versão Pires de Lima



[O ex vice-presidente do CDS-PP Pires de Lima afirmou que] “a direita não estava preparada para governar” [em 2001, e confessou o] “sabor da desilusão e até da incompetência” [desses três anos no poder]. (...) “A falta de autenticidade, a falta de convicção rapidamente se detectaram.”

sexta-feira, julho 08, 2005

491. Em DVD: The Fog, 21 Grams, The Party, Seinfeld: Seasons 1&2, Hellboy



The Fog
Realizador: John Carpenter
Elenco: Adrienne Barbeau, Jamie Lee Curtis, John Houseman, Janet Leigh

Síntese da Opinião: Um clássico do terror. Recomendo aos quem não têm preconceito com a série B. O Carpenter em boa forma é inesquecível!



21 Grams
Realizador: Alejandro González Iñarritu
Elenco: Sean Penn, Benicio Del Toro, Naomi Watts

Síntese da Opinião: Uma meia desilusão. A realização e a interpretação estão a excelente nível mas que história é esta?



The Party
Realizador: Blake Edwards
Elenco: Peter Sellers

Síntese da Opinião: Um clássico da comédia non sense. O filme é excelente pelo menos na primeira hora e depois cai nos exageros normais deste tipo de comédia. Acaba por forçar muito o humor depois da fórmula inicial se esgotar.



Seinfeld: Seasons 1&2
Realizador: Vários
Elenco: Jerry Seinfeld, Julia Louis Dreyfus, Michael Richards, Jason Alexander

Síntese da Opinião: A série que revolucionou as comédias americanas. É sobre o nada que povoa o nosso dia a dia. Aconselho o DVD porque tem extras de qualidade e porque está barato se não se importarem de adquirir a versão com legendas em inglês nas lojas virtuais inglesas.



Hellboy
Realizador: Guillermo del Toro
Elenco: Ron Perlman, Selma Blair

Síntese da Opinião: Haverá alguma forma convincente para recomendar que evitem este filme? Se existe pensem nela antes de comprarem este filme.

490. Que ninguém se esqueça...

... que o grau de sucesso dos terroristas mede-se pela velocidade em que abdicamos dos nossos direitos individuais para combater esta táctica de guerra!

quinta-feira, julho 07, 2005

489. A táctica do terrorismo


Salvador Dali - Visage of War

Hoje tive a certeza que o terrorismo não vai destruir os fundamentos da Democracia e do Estado de Direito. Quando vi que os londrinos retomaram a sua vida normal e mantiveram aparentemente a calma, apesar da escala da tragédia, percebi que não vamos capitular à maior arma da táctica de guerra que é o terrorismo: a difusão do medo! E não posso deixar de sublinhar a reacção adulta das autoridades inglesas ao não cometerem o mesmo erro dos congéneres espanholas de especularem sobre a fonte do terror. Adicionalmente a não interrupção da cimeira dos G8 é mais uma vitória do mundo civilizado perante a barbárie do terror. Por cá o exemplo também foi dado ao não suspender o normal funcionamento da nossa sociedade.

Quem lê regularmente este blogue sabe que sou muito céptico em relação ao modelo actual de combate ao terrorismo. Em vez de introduzir novas reflexões vou simplesmente colocar as ligações às discussões de sempre:

Maio 16, 2004 (50) O Verdadeiro Perigo
Maio 28, 2004 (63) A Zona Cinzenta

Setembro 11, 2004 (162) 3 anos
Setembro 30, 2004 (180) Porque a Memória é Curta


Estou disposto a apoiar qualquer Governo no combate ao terrorismo mesmo que seja necessário recorrer a intervenções militares. Não vou é apoiar um combate que se auto intitula de guerra ao terrorismo baseada em critérios que desconheço e que só dispersam as energias do verdadeiro combate. A segurança da Europa e a do mundo passa pelo combate à pobreza, pela cooperação dos serviços de inteligência, pela captura e julgamento dos que planeiam e/ou executam tácticas de terror, por um respeito pela diferença étnica e religiosa e pela intervenção diplomática (e se esta falhar pela militar) nos países que incentivam ou protegem o fomento do terrorismo. No Afeganistão travou-se uma guerra necessária que devia ter precedido uma intervenção diplomática na Arábia Saudita e em alguns países africanos que albergam ou fomentam o aparecimento de tácticas terroristas. Mas ao invés disso optou-se por uma guerra (no Iraque) que não trouxe nada de positivo ao combate ao terror. Perdeu-se um consenso único e deu-se a oportunidade da Al Qaeda instalar o caos numa região que até nem tinha acesso anteriormente. Ainda por cima desgastou ainda mais a imagem do Ocidente na região, agravado pelo desrespeito constante à lei internacional e aos direitos humanos. Basta ler os relatórios dos serviços secretos americanos para se perceber que nem haviam armas de destruição em massa nem ligações à Al Qaeda no Iraque.

A melhor forma de lutar contra o terrorismo é não ceder nas conquistas individuais e colectivas que a Democracia e o Estado de Direito nos deram! Vamos lutar por um mundo melhor e não vamos claudicar perante o medo!

488. Londres, 07/07 2005







487. Sala de Cinema: Sin City



Realizador: Robert Rodriguez e Frank Miller
Elenco: Mickey Rourke, Bruce Willis, Benicio Del Toro, Clive Owen, Brittany Murphy, Nick Stahl

Eu sou admirador do mundo violento de Frank Miller desde que este revolucionou a forma como os comics eram encarados com a sua visão do Daredevil e do Batman. Desde o princípio da sua já longa carreira a visão que tinha das cidades nos seus álbuns era cruel e negra (Dark Night Returns, Ronin). O passo mais lógico deste trajecto artístico era criar uma cidade à medida do seu universo. A própria cidade é uma das suas "personagens" angustiadas. E assim foi. Sin Ciy, a cidade do pecado, é a personagem principal dum conjunto de álbuns que criou com completa liberdade criativa. Esta cidade é a síntese de todos os males dos tecidos urbanos densos. Quem visita esta cidade tem a oportunidade de conhecer pessoalmente a decadência da moral e da dignidade.

Robert Rodriguez ficou apaixonado por esta visão cínica da sociedade onde a moral adapta-se ao contexto. Resolveu não filmar uma interpretação da obra de Miller mas a própria obra, página a página. E para isso utilizou técnicas revolucionárias que já tinham sido usadas em Sky Captain utilizando a tecnologia digital para manter a bidimensionalidade e o aspecto gráfico da BD (o filme é bastante estilizado). E ao contrário do que tenho lido por aí acho que esta fórmula funcionou na perfeição até porque Miller co-realizou e garantiu que a sua visão não era desvirtuada. E até acabou por ser relativamente barato fazer este filme pois foi todo (ou quase todo) filmado na casa de Rodriguez sobre um fundo verde (ou azul). Houve actores que lutam no filme mas que só se conheceram na estreia o que demonstra as potencialidades desta técnica.

O filme é um cruzamento de histórias, personagens e vivências que só têm em comum o pano de fundo, leia-se, a Cidade do Pecado. É um mundo de desespero e solidão onde a dor é descrita com intensidade em voz off. O filme tem que ser considerado como puro entertenimento porque não há moral nesta cidade ou se há ela é completamente distorcida. São todos aqueles que estão à margem do sistema ou que não o respeitam que merecem ser salvos nestas histórias. Esta sempre foi a imagem de marca de Miller, leia-se, retirar os heróis do seguidismo cego ao sistema. A violência é desproporcionada, a acção irreal quanto baste e a relação homem mulher bastante datada (apesar das mulheres não serem objectos de porcelana) mas é isso que torna a Cidade do Pecado única. James Ellroy vai gostar de certeza do filme. Destaque ainda para Mickey Rourke que está surpreendente.

Síntese da Opinião: Não tenho culpa! Adoro o universo de Frank Miller!

486. Produtividade: Considerações Finais (5)


Salvador Dali - Joven Virgen Autosodomizada por su propia Castidad - 1954

O meu objectivo era escrever um conjunto extenso de posts sobre a Produtividade com o intuito de “provar” que não temos desculpas para fazer mais e melhor. Adicionalmente queria recentrar a discussão deste país nas questões que realmente interessam e não na eterna questão das contas orçamentais. O balanço orçamental é um pilar para o desenvolvimento sustentado mas não pode ser o início e o fim do rumo que traçamos.

Mas vou ficar por aqui! Essencialmente por duas razões. Por falta de vontade e tempo para desenvolver as outras áreas em que Portugal podia ser mais competitivo e porque acho que já cumpri o meu objectivo de demonstrar que há muitas medidas simples orientadas para a produtividade que devem ser implementadas e cujo sucesso só depende de nós. Fica por destacar a importância de serviços públicos como a Justiça com maior qualidade porque nas questões económicas só há justiça se a alcançarmos em tempo curto; das infraestruturas de transporte e comunicação ao serviço da economia; da motivação no local de trabalho; do sector energético e das questões ambientais; da importação e utilização de tecnologia e muitos outros temas que espero aprofundar noutra oportunidade.

Acima de tudo temos que sair deste pessimismo que está instalado no país porque o futuro depende de nós. Não podemos ter medo de cortar com um passado que já está esgotado e que cria injustiças (não Raio, não estou a falar da UE). Nem precisamos de tentar manter tudo como está com medo de nunca mais conseguirmos conquistar o Bem Estar que temos. O futuro exige cortes constantes com o passado. Se estivermos à espera que tudo se resolva sem sacrifícios tentando manter artificialmente o que já não é sustentável estaremos a constatar que não acreditamos que podemos melhorar como sociedade! Disse!

terça-feira, julho 05, 2005

485. O Balanço dos 100 dias do Governo, versão Sócrates



A entrevista de José Sócrates à SIC foi uma tentativa de dar algum sentido global às inúmeras medidas dispersas que o Governo tem implementado. Não considero de grande utilidade eu estar a afirmar se esse objectivo foi ou não alcançado porque iria ter um grau de subjectividade elevado e uma componente política que neste momento pouco interessa. Ao invés disso vou só fazer uma análise parcial a algumas declarações.

Continuo a considerar que José Sócrates está equivocado na sua linha de raciocínio quando analisa a subida do IVA como um elemento de credibilidade externa das suas intenções em combater o défice orçamental. Acredito que essa medida foi das mais difíceis a nível pessoal (e no campo das convicções) que tomou até porque afectou a sua imagem após as promessas pré e pós eleitorais e, por isso, não questiono que ele não tinha intenção de a implementar quando fez essas promessas. Mas duvido que tenha implementado uma medida correcta para o país. Não acredito que a credibilidade externa do país fosse afectada se o imposto não tivesse sofrido um aumento na sua taxa máxima porque o conjunto das outras medidas do lado da despesa são corajosas e coerentes, apesar de ainda insuficientes (aguardo novidades na Segurança Social, por exemplo). Mesmo que os juros a Portugal fossem agravados estes seriam atenuados pelo crescimento que o Governo acabou por limitar e provavelmente voltariam ao valor inicial assim que as empresas de rating estivessem convencidas que o plano de combate às despesas era mesmo para ser cumprido. E teria a vantagem adicional de lançar um sinal à União Europeia de que o problema do défice orçamental só se resolve através da economia e da competitividade (e da redução das despesas ineficientes do Estado) e não pelo aumento de receitas. Esperava de Sócrates a mesma clarividência na Fiscalidade que teve ao acabar com as Receitas Extraordinárias que “comprometem o futuro”.

Sobre o plano de investimentos acho que é extremamente positivo o sinal que lança à sociedade de que há um conjunto de infraestruturas e apostas onde é seguro que a iniciativa privada invista sem incerteza sobre a sua implementação. Não vou discutir a aposta no TGV, na OTA, no conhecimento e tecnologia e no sector energético porque ia estar a dar opiniões sobre investimentos onde não domino as implicações económicas. Este tipo de investimentos têm efeitos difíceis de medir à partida e não podem, desde já, serem considerados como bons ou maus. Desde que sejam feitos com rigor prevendo os efeitos na economia e com controlo orçamental podem até ter um impacto positivo. Só peço moderação e estudos de rentabilidade sérios, por exemplo, no TGV para evitar projectos megalómanos. Basta a ligação a Madrid e eventualmente a ligação ao Porto com o mínimo de paragens possível.

Com o resto das medidas estou genericamente de acordo e espero que sejam aplicadas sem recuos! Disse!

484. Produtividade: Fiscalidade (4)


Salvador Dali - St peters in Rome Explosion of Mystical Faith in the Midst of a Cathedral

A Fiscalidade não é uma varinha mágica para aumentar a produtividade e, na maior parte das situações, só resolve problemas conjunturais. A Fiscalidade deve fornecer um enquadramento saudável aos empresários mas não é uma garantia que isso aconteça porque mesmo que um Governo decretasse o não pagamento de impostos às empresas estas podiam reagir muito timidamente ao nível do aumento da produtividade. Mas, mesmo assim, há muitas notas que convém deixar aqui e que podem originar várias reflexões.

(IVA) Para além da Justiça Social, considero que a Fiscalidade deve estar ao serviço da competitividade e que as despesas é que se têm que adaptar a essa competitividade. Em Portugal fez-se ao contrário! Há 3 anos a Espanha tinha 16% de IVA e nós 17%. Hoje a Espanha continua com 16% e nós temos... 21% de IVA. Este é um exemplo claro de como podemos perder competitividade facilmente. A Espanha fez a consolidação orçamental em períodos de expansão e não usou a fiscalidade na recessão. Convém referir que a perda de competitividade, per si, não afecta a produtividade laboral mas torna o produto final menos competitivo e isso estrangula recursos que poderiam ser usados no aumento da produtividade.

(IRS/IRC e Fiscalidade Selectiva) Por isso a medida de Santana Lopes de baixar o IRS era extremamente polémica. Era uma medida de curto prazo porque incentivava o consumo e não a produção. Mas baixar o IRC não é garantia de que a produtividade vai aumentar. Para que isso seja verdade é necessário que a folga concedida pelo Estado fosse usada em capital ou formação dos recursos humanos. Por isso desconfio sempre da mexida das taxas no sentido da alta ou da baixa. Acho que as taxas não devem acompanhar as necessidades orçamentais ou sociais mas devem tender a serem relativamente constantes. Por isso defendo mais uma Fiscalidade selectiva, isto é, em vez de baixar o IRC considero mais útil dar incentivos fiscais a quem investe em tecnologia, inovação e recursos humanos (factores potenciadores da produtividade). Mas duma maneira simplificada para que a fiscalização seja simples. De burocracia estamos todos fartos.

(Exportação/ Importação) Por fim quero realçar, no campo da competitividade e não da produtividade, que o nossa Fiscalidade está desadequada dos nossos objectivos. Um funcionário da Alfãndega num fórum que assisti advertiu que a Espanha ao incentivar a burocracia nas importações estava a cometer um erro porque só estava a aumentar a contrafacção. Sublinhou que esse não era o caminho. Mas acrescentou que a política das exportações espanhola funcionava muito bem porque os empresários só tinham que ter uma encomenda sinalizada e dispensavam a burocracia das garantias bancárias e afins. Isto porque o Governo Espanhol responsabiliza-se por todos os pagamentos que não são efectuados e por cobrar essa dívida. É um verdadeiro motor para as exportações retirando o problema da aversão ao risco dos empresários.

Esta análise simples demonstra que a nossa Fiscalidade podia estar muito mais adequada aos objectivos de produtividade e competitividade sem afectar a Justiça Social.

(Continua...)

483. Produtividade: Ainda sobre a SONAE no Brasil

No último post sobre produtividade respondi a um comentário do Parsec sobre a presença da SONAE no Brasil. Fiquei a saber que a SONAE inova no Brasil:

"Tlantic (Sonae) já exporta software de e-commerce para a Europa

Já está saindo para a sede portuguesa do grupo Sonae o softrware de PDV (Ponto de Venda) que a Tlantic desenvolveu na sua fábrica de software de Porto Alegre. Ele será implantado na rede européia de 200 supermercados Continente. Para a Europa também irá o modelo de e-commerce (B2C) que o Nacional já utiliza em Porto Alegre e implementará na semana que vem em Curitiba. A Tlantic foi aberta há menos de um mês na Tecnopuc, em Porto Alegre, onde já trabalham 60 profissionais graduados. “Poderemos chegar a 300 empregados, mas isto não é para agora e dependerá de como evoluiremos”, contou ao colunista o diretor de TI (Tecnologia da Informação), Álvaro Paraná. Até o final deste ano, com o apoio da Unisinos e da PUC, a Tlantic pretende obter a sua certificação CMM (Capacity Maturety Model), que a habilitará internacionalmente como empresa de TI altamente capacitada."

segunda-feira, julho 04, 2005

482. Definição de Xenofobia, versão Alberto João Jardim



"Portugal já está sujeito à concorrência de países fora da Europa, os chineses estão a entrar por ai dentro, os indianos a entrar por ai dentro e os países de leste a fazer concorrência a Portugal... está-me a fazer sinal aí porque? Que estão chineses ai? É mesmo bom que eles vejam porque não os quero aqui"
Alberto João Jardim

Nota:
A TSF disponibiliza o registo audio.

domingo, julho 03, 2005

481. Produtividade: Educação e Inovação (3)


Salvador Dali - The Dream of Christopher Columbus

A produtividade não aumenta por decreto. Não basta decidir que em 2 ou 3 anos vamos resolver o problema da competitividade porque é um trabalho que tem que ser persistente e longo. E é muito mais fácil dar cabo da produtividade do que fomentá-la...

E aqui surgem os nossos problemas estruturais. Nós não somos intrínsecamente pouco produtivos. Os portugueses, trabalhadores ou estudantes, que emigram têm geralmente bons resultados no que toca à avaliação do seu desempenho.

Por isso é que surge uma questão pertinente, leia-se, porque é que as empresas industriais ou de serviços não conseguem absorver essa capacidade intrínseca de produtividade dos portugueses?

Eu avanço uma possível explicação! Há uma certa megalomania na nossa educação em Portugal. Falando da área que conheço, a economia, estamos preparados para teorizar sobre as mais impressionantes teorias económicas inventadas por um prémio Nobel que vive do outro lado do mundo. Mas não estamos preparados para preencher um formulário de IRC. Claro que o ensino teórico é excelente e claro que a capacidade de adaptação é boa mas este tipo de ensino está divorciado dos interesses específicos das empresas portuguesas. Não há em Portugal redes formais ou informais de cooperação e não falo só das empresas com as universidades e vice versa.

Agora vou partilhar duas curiosidades que o meu irmão me contou! Uma é sobre o tipo de investigação que se faz na FEUP. Há professores de economia que insistem com o estabelecimento de ensino de engenharia que a investigação que lá se faz não é boa para a economia portuguesa, isto é, não interessa desenvolver e financiar tecnologia de ponta quando as empresas portuguesas não a conseguem absorver. O que acaba por acontecer é que os investigadores ganham prémios (alguns monetários) e vendem a frágil patente para o estrangeiro. O que é que o Estado (no fundo Portugal) ganhou com esta política? Colectivamente muito pouco. A outra história tem a ver com o excelente curso de Engenharia Aeronáutica (também há um Curso Avançado de Medicina Aeronáutica) que existe em Portugal. Parece que o curso é tão bom que até exportamos recursos humanos para a NASA. Mas a realidade é que, salvo raras excepções, não capta valor acrescentado para o nosso país. Na Coreia, acrescentava o meu irmão, a inovação resume-se a encontrar soluções práticas para problemas específicos das empresas. Não em investigar o sentido da vida ou a fusão a frio, acrescento este pequeno exagero. Não está em causa o mérito individual dos investigadores mas a falta de estratégia e cooperação global!

Acho que são tópicos de discussão importantes porque, sem duvidar da capacidade dos portugueses, parece óbvio que falta planeamento estratégico e cooperação. E isso necessita duma certa continuidade nas nossas políticas. E principalmente dum sentido de Portugal como um todo onde as universidades e as empresas são parceiros dum objectivo mais amplo, isto é, o Bem Estar individual conciliado com o Bem Estar colectivo...

(Continua...)

480. Produtividade: Conceito(s) (2)


Salvador Dali - The Broken Bridge and the Dream

A Produtividade não é um conceito irreal ou inquantificável e muito menos inalcançável. Convém clarificar este conceito...

A Produtividade pode ser vista de forma absoluta, isto é, a quantidade de metros de tecido produzidos por hora num determinado sítio usando um determinado número de trabalhadores ou pode ser vista de forma relativa, comparando a produção de uma hora aqui ou na China. Mas convém alargar esta definição usando o conceito de competitividade, leia-se, entrar em linha de conta com os custos de produzir o mesmo produto ou produtos que competem directamente e não esquecer da capacidade de produzir artigos cuja qualidade é perceptível e que conseguem libertar-se da concorrência directa dos artigos de qualidade inferior.

Não nos podemos esquecer que temos uma das mais baixas produtividades laborais da União Europeia o que tem consequências gigantescas para o crescimento, para o desenvolvimento e para o Estado Social deste país. Interessa assim que cada trabalhador seja capaz de produzir mais e melhor (produzir o dobro no mesmo tempo ou produzir algo que tenha vantagem competitiva no custo e/ou na qualidade) para que Portugal possa voltar a ter controlo sobre o seu futuro e sobre a sua capacidade de disponibilizar condições sociais justas.

Convém também realçar que os objectivos de maior competitividade e produtividade são o grande quadro. Todas as medidas que o Estado está a implementar agora devem ter em conta este objectivo económico e por isso é tão importante libertar recursos para dar condições ao próprio Estado e à economia em geral para produzir mais e melhor. Só assim podemos almejar obter valor acrescentado que permita aumentar os salários e a protecção social de forma sustentada...

(Continua...)

sábado, julho 02, 2005

479. Produtividade: Pessimismo (1)


Salvador Dali - Geopolitical Child Watching the Birth of the New Man - 1943

O post “A Idade da Reforma” provocou comentários apaixonados. Até a civilização esteve em discussão! Neste momento os portugueses discutem tudo, estão desconfiados e têm razão para estar. A moral está destroçada porque já não confiamos em ninguém e é desesperante ver um país sem iniciativa nem esperança. Os políticos são alvo das mais espantosas declarações que já nem os noticiários têm pudor em mostrar. No fundo já ninguém acredita neste país e ninguém sabe como colocar a sociedade ao serviço do homem.

Eu não sou um filósofo. Também não sou um político. Muito menos sou um historiador. Não posso idealizar uma sociedade nem vou encontrar a solução para os males da alma do homem mas sei que esta não foi a primeira nem será a última vez que o homem encontra-se numa encruzilhada.

O país está em debate! Parece-me óbvio que Portugal precisa de voltar a acreditar no seu futuro. Enquanto o Governo colocou em marcha um tímido plano de adequação das despesas do Estado à nossa nova realidade parece que ainda não conseguiu implementar um verdadeiro e ambicioso plano de desenvolvimento económico para Portugal. E é isso que temos que discutir. Estamos inseridos num mundo que não vai ficar à nossa espera e temos que ser capazes de reagir para mantermos a nossa identidade e a capacidade de controlar os acontecimentos.

Num país paralisado pela inércia e pelo pessimismo onde só se discute as megalomanias do nuclear ou se anuncia o fim dos baldes higiénicos nas prisões até 2007, é preciso voltar a discutir o rumo da nossa economia de forma séria. E vou iniciar aqui um conjunto de posts para discutir um dos nossos maiores males, isto é, como é que um português em Portugal pode atingir os patamares mínimos de produção e custos que seria natural esperar numa democracia estabilizada com todas as condições para ser próspera? Não vou voltar a discutir o passado e perseguir os culpados mas deixar algumas sugestões do que pode e deve ser feito ao nível da Produtividade.

(Continua...)

sexta-feira, julho 01, 2005

478. Sala de Cinema: Batman Begins


Batman Begins

Realizador: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Liam Neeson, Katie Holmes, Michael Caine, Morgan Freeman, Rutger Hauer

Pensei que este projecto recuava à origem do cavaleiro das trevas mas que fazia ponte com os antigos filmes da saga. Mas a única ponte que há com os anteriores quatro filmes é o nome do herói de serviço. E se não era preciso muita coragem para quebrar com o estilo de Joel Schumacher o mesmo não posso dizer de fazer o mesmo com a marca que Tim Burton deixou nesta saga. Mas Christopher Nolan também é um autor e não um simples tarefeiro e soube trazer a sua marca pessoal para o filme demonstrando não ter medo das comparações. Em vez de fazer uma imitação de segunda de Burton, reinventou completamente o ponto de vista cinéfilo do Batman. Enterrou a continuidade mas só assim era possível revitalizar esta personagem.


Batman: Year One, de Frank Miller e David Mazzucchelli (Clique na imagem para ampliar)

E eu digo que revitalizou o ponto de vista cinéfilo e não geral do Batman porque este filme “bebe” a sua inspiração dum álbum de Banda Desenhada bastante popular: Batman, Year One, de Frank Miller (sim, é o mesmo de Sin City). Neste álbum Batman não vive numa sociedade surrealista e gótica como a que Tim Burton idealizou (apesar do gótico estar presente pontualmente) mas sim numa sociedade realista e decadente. E é esta a visão que Nolan idealiza para este filme.

O início do filme assusta no mau sentido! Demoramos a perceber que se trata dum filme do Batman e durante algum tempo parece que o espírito da personagem não está presente. Mas ao chegarmos a Gotham tudo faz sentido. Apesar de haver algumas concessões comerciais e visuais (o Batman a planar, a relação com Katie Holmes) o filme é intrinsecamente anti comercial e duvido que vá obter um resultado de bilheteira muito elevado. Mas o importante é que foi feito um bom filme onde Batman não é um herói de acção mas alguém que assusta e incita o medo aos criminosos de Batman. A escuridão esconde o cavaleiro das trevas, versão Frank Miller e Christopher Nolan!

Síntese da Opinião: A minha opinião é suspeita porque adoro BD. Mas apesar de ter ido ver o filme vacinado contra as más adaptações, a injecção era desnecessária!

477. Template Retocado




(Clique na imagem para ampliar)

Depois duma discussão filosófica e política com um amigo entre estética e significado resolvi ceder por ter esgotado os argumentos válidos que sustentavam a minha frágil tese!

Nota em forma de aviso: O livro de reclamações desapareceu misteriosamente. Há valores inegociáveis mas nem sempre há disponibilidade para defende-los :)