966. A Denúncia na TVI
A TVI tem estado a funcionar, nos seus longos e desinteressantes noticiários, com base em notícias que "surgem" através de denúncias. No início do ano a filha de uma utente dum hospital da capital, após uma longa espera nas urgências, telefonou para a TVI. Numa questão de poucas horas a reportagem saiu no noticiário e, segundo a denunciante, a sua mãe foi atendida no espaço de minutos e surgiram médicos para reforçar o serviço de urgências. No dia seguinte os repórteres da TVI lá estavam na perseguição do ministro da tutela a exigir explicações em relação ao caso denunciado.
Contava-me um amigo meu que, no ano passado, uma cliente de um banco onde este trabalha, insatisfeita com o serviço prestado, virou-se para o funcionário e disse-lhe que este esperasse uma denúncia na TVI. Nunca mais ouviu falar da cliente mas o que é sintomático é que o poder que a TVI oferece ao denunciante funciona como uma ameaça.
Este tipo de acontecimentos merece uma cuidada reflexão. E convém reflectir em dois planos separados: o que leva o cidadão a recorrer a este tipo de denúncia e se este é ou não um método útil para melhorar a nossa vida colectiva.
Um cidadão, perante uma injustiça ou um mau serviço, note-se que segundo a sua percepção, utiliza os instrumentos que tem a seu dispor para corrigir essa situação. O que pergunto é se é a justiça e os procedimentos administrativos que funcionam mal no caso duma reclamação e motivam esta denúncia ou se, independentemente do bom ou mau funcionamento dos meios à disposição do cliente ou do cidadão, estes recorreriam, na mesma, à denúncia televisiva. Não sei responder.
O cidadão português, pouco exigente por natureza, quase conformista, que pouco ou nada participa em acções cívicas, que pouco ou nada reclama nos locais próprios do que está a funcionar mal, resolveu, com a ajuda da “televisão do povo”, utilizar a denúncia como forma de reivindicação dos seus direitos. Não é aquele tipo de denúncia que revela a situação fiscal do vizinho mas um grito histérico de denúncia a tudo - literalmente tudo - o que funciona (ou acha que funciona) mal neste país. Se é inaceitável esperar numa urgência, se a repartição de finanças “roubou” uns cêntimos, se o banco cobra mais uma comissão, se a estrada tem um buraco então interessa que todo o país saiba isso e que o seu caso seja resolvido com prontidão. Podemos considerar esta acção como cívica? Ou corresponde a um grito de revolta? Ou é apenas um acto de conveniência?
O Estado e as empresas têm que gerir esta situação com muito cuidado e adaptarem-se aos tempos. Não é útil estar a apagar fogos ao som da denúncia. E é também impossível que tudo esteja a funcionar bem a todo o momento. É necessário haver uma cultura de exigência tanto no sector público como no privado mas nada está blindado à voragem da imprensa e dos denunciantes. Por isso só há uma saída que passa por saber conviver com a eminência dum escândalo mediático quando menos se espera e isso implica que muitos consultores de imagem e de relações públicas vão ser contratados, não para resolver o essencial (se é que há algo que valha a pena resolver tal é a variedade de denúncias, da vital à sem importância), mas para gerir o impacto mediático da denúncia. O que não deve acontecer, parece-me óbvio, é estruturar a empresa conforme as denúncias porque corresponde a navegar à vista e negligenciar o quadro geral e as situações estruturais. Ou será que é exactamente o contrário e a denúncia mediática vai colmatar o défice de reclamações e exigência do cidadão/ cliente e, simultaneamente, contornar as deficiências da justiça? Só tenho a certeza que tanto o Estado como as empresas vão ter que aprender a conviver com este método de delação.
6 Comments:
At 1:00 da tarde, Lou said…
O Português s+o denuncia se o resultado for imediato, caso contrário não se está para esforçar para se quixar. Eu como muita gente simplesmente viro costas quando não gosto do atendimento, mas também não me vi perante situações de urgência. A TVI é um meio imediato para expor as nossas frustrações.
At 8:20 da tarde, Pedro Morgado said…
Excelente visão e perspectiva. Acredito que possa haver um meio termo: a televisão pode servir para ajudar a melhorar alguns serviçoes.
At 7:12 da tarde, Anónimo said…
chamo me jose tive um acidente de viacao tive muito mal no hospital o que kero dizer é que estou ha 4 meses sem nenhuma ajuda da segurança social já com muitos pedidos já lá feitos é por isso que estse pais nao vai pra frente so quem tem cunhas é que se safa
At 2:46 da tarde, Anónimo said…
Mais sete técnicos despedidos no Sheraton Algarve...
A verdade de tudo isto é o proprietário deste Hotel&Resort Sr. Talal Jassim Al-Bahar não ter conhecimento destas coisas...
A exemplo do BPI e BPN um grupo de meliantes Directores seus Assistentes e outros...e depois da morte do Sr. Al- Bahar, os desfalques, desvios e negócios paralelos nunca antes vistos.
Uma máfia instalada nunca antes vista.
Sacrificam os trabalhadores quando quem devia ir para a rua eram estes malvados gatunos (as).
At 11:26 da manhã, Anónimo said…
Bom dia
Tenho vergonha de ser português, pois querem introduzir portagens nas SCUT como por exemplo, na A-29 e ainda não pagaram a alguns proprietários onde passa a A-29, neste país passa-se por cima de tudo e todos sem primeiro pagar o que devem, estamos num país de aldrabões e mentirosos que querem reduzir o défice a custa de quem esta sem o dinheiro das indemnizações.
Espero que denuncie isto na televisão.
Cumprimentos:
José Álvaro
At 10:02 da manhã, Anónimo said…
Mais uma prova do país que temos: No Centro de Saúde de Lamego estão esgotadas as vacinas para o colo do útero que já estão incluidas no Plano Nacional de vacinação. As utentes dirigem-se lá para a 2ªdose e é-lhes dito que não há porque em Vila Real também não e não sabem quando virão. Pergunto: brincam com a saúde das nossas jovens?Quem é o responsávl por esta situação? Quando será resolvida?
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