Filho do 25 de Abril

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sábado, setembro 09, 2006

898. Sala de Cinema: United 93 (Flight 93)



Realizador: Paul Greengrass
Elenco: Cheyenne Jackson, David Alan Basche

Trabalhar este tema, o 11 de Setembro de 2001, não é fácil. É preciso não esquecer que, de todos os eventos dos últimos anos, este é o mais inimaginável, o mais difícil de compreender ou explicar. As marcas que este acto deixou em todos nós são profundas, ainda mais nos americanos, e, sem dúvida, é o acontecimento isolado que mais mudou o mundo nos últimos tempos. Cinco anos depois o tema começa a ser trabalhado no cinema e nota-se que tudo o que sublinhei acima ainda condiciona, e de que maneira, o trabalho atrás das câmaras.


Um documentário aborrecido? Uma tese sobre o medo?

Por muito mais que o enredo pareça perfeito para um filme de acção a realidade é que o que aconteceu em 11 de Setembro desse ano não foi ficção. E o tempo que medeia o acontecimento do filme ainda não é suficiente para fazer uma abordagem corajosa dos eventos. Tudo isto para dizer que Paul Greengrass não acrescenta nada à reflexão sobre o 11 de Setembro e que, muito provavelmente, nenhum realizador ainda está disposto a correr esse risco (nem mesmo Oliver Stone segundo a crítica americana a WTC). O realizador prefere, então, fazer uma “tese” sobre as reacções humanas perante o medo e envereda por uma teatralização do que se passou durante o voo 93. Aborrece-nos com as conversas casuais, estremece-nos com as conversas de despedida e empolga-nos com o heroísmo dos passageiros. Para dar realismo a tudo opta por diálogos e um aspecto visual encenado a partir de telefonemas verídicos e suposições mais ou menos credíveis.

Resta perguntar se precisávamos deste filme. Não posso responder por mais ninguém mas pessoalmente acho que não. Os inúmeros documentários que vi na caixa mágica até esta data deram-me o grosso das informações que o filme transmite e, como nunca tive dúvidas que o que se passou naquele dia foi horrendo, dispensava uma peça de teatro, sem dúvida bem feita, montada para espiar os últimos momentos ficcionados de homens e mulheres desesperados.

Não posso deixar de acrescentar que todas as cenas das torres de controlo, postos militares e aeroportos são duma banalidade constrangedora.

Síntese da Opinião: Fica aqui a prova que ainda é muito cedo para a Sétima Arte correr o risco de fazer o que lhe compete – arte – em relação aos acontecimentos do dia 11 de Setembro de 2001.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

2 Comments:

  • At 9:30 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Deve ser um filme futurista: O 11 de setembro é só depois de amanhã!?

     
  • At 12:31 da manhã, Blogger Nuno Guronsan said…

    Apesar de não concordar com a tua análise do filme, Ricardo, compreendo as tuas palavras. Apenas gostava de acrescentar que, pelas reacções que ouvi quando saí da sala, há muito boa gente que vive desinformada e, se calhar, este filme é uma boa maneira de acordarem para a realidade.

    Podes sempre ir ao Espaço ler as palavras que deixei sobre o mesmo assunto.

    Um abraço.

     

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