Filho do 25 de Abril

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domingo, setembro 03, 2006

896. Sala de Cinema: Miami Vice


Colin Farrell e Jamie Foxx na versão cinematográfica da série de televisão Miami Vice

Realizador: Michael Mann
Elenco: Colin Farrell, Jamie Foxx, Gong Li

Mulheres, automóveis e armas. Parece, à primeira vista, a “receita” ideal para que um filme tenha sucesso na bilheteira e não tenha qualquer substância e/ou qualidade. Na maior parte das vezes é verdade que é assim, ou seja, os filmes são tão débeis que a orgia visual começa a chatear em vez de empolgar. Neste caso o resultado é diferente tal é a destreza de Mann em manipular a imagem e o espectador.

Aprecio o estilo de Michael Mann apesar de reconhecer que é maniqueísta na forma como tenta misturar o tom documental com o aspecto “cool” da imagem (no fim não é carne nem peixe mas é um festim para a vista). Da sua realização saíram filmes quase documentais (The Insider, Ali) com o mesmo estilo visual e dramático que puras obras de ficção (Heat, Collateral). Este filme não é excepção, concretizando, por vezes tem um realismo que parece só ser possível encontrar num documentário e, de repente, tem imagens oníricas que vão ficar na retina durante meses, imagens essas completamente desfasadas da imagem pouco tratada e tremida de quem imita um documentário. Mas a combinação de estilos, sem deixar de ser manipulativa, funciona bem nas mãos de Mann.


Don Johnson e Philip Michael Thomas no Miami Vice original (anos 80)

Miami Vice foi o precursor dum estilo televisivo crú e realista (às vezes mais do que a própria Sétima Arte, basta ver as séries da HBO) – já na altura com o dedo de Mann – e que vivia da opulência (e decadência) de Miami dos anos 80, da violência sem fronteiras morais e da forma desprendida como as suas personagens (principalmente da personagem de Don Johnson, agora interpretada por Colin Farrell) encaravam a vida. O filme é diferente (na banda sonora, no estilo de vida, no tipo de violência) mas isso não é uma traição à série original mas antes uma actualização. De resto tem o condão de continuar a parecer internacional, ou melhor, a expressão correcta agora é globalizada com todas as características inerentes a isso, ou seja, multilingue, multirracial, multinacional. O prazer que se retira, ou não, deste filme depende muito das expectativas que se constroi, ou seja, se estamos à espera dum blockbuster de verão saímos da sala com a sensação que foi um dos melhores – senão o melhor – filme de verão deste ano mas se formos à espera dum policial “noir” com uma história densa e personagens empolgantes corremos o risco de sair com a sensação que faltou algo para que este filme fosse memorável.


Mulheres, armas e automóveis, versão Michael Mann

Resta referir que a química entre a dupla de protagonistas não é a melhor e que a densidade e interesse da história – do subplot – da personagem de Jamie Foxx é confrangedora (para não dizer angustiante). Para a “história” cinematográfica fica o “pontapé de saída” da relação entre as personagens de Colin Farrell e Gong Li com a exorbitante viagem a Havana...

Síntese da Opinião: É um filme com os defeitos e qualidades do cinema de Mann, ou seja, maniqueísta mas cheio de esplendor visual e técnico. É a prova que um filme pode estar cheio de testosterona e, mesmo assim, ser um espécime agradável da arte que representa, neste caso da sétima.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

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