(204) Paula Rego em Serralves
Paula Rego
Nada melhor que aproveitar as manhãs de Domingo para visitar Serralves. E pergunta o atento leitor porque raio hei-de acordar num Domingo de manhã para visitar Serralves? Porque é de graça, respondo eu. Como diria Sampaio, "Os tempos estão maus". E porque está lá uma exposição de Paula Rego com obras posteriores a 1996. E devo dizer que a exposição é impressionante, como já estava à espera que fosse.
Tenho dificuldade em descrever o que vi e em sublinhar o que gostei porque na apreciação de arte cada um sabe o que lhe provoca impacto. Gostos não se discutem, apenas lamentam-se. De qualquer forma não resisto a fazer umas considerações breves sobre a exposição.
Estão expostos em Serralves quadros e esboços de obras importantes de Paula Rego. Pessoalmente fiquei encantado com obras como Anjo (1998), Entre as Mulheres (1997), Metamorfoseando-se segundo Kafka (2002), A Sereiazinha (2003), Obediência (2000). A alma das personagens dos seus quadros está retratada nas suas faces, nos seus rostos num realismo quase grotesco. Retrata o insólito, o realismo da intimidade já que a dor, a alegria, o sofrimento e o prazer geralmente abafados pelas quatro paredes duma casa são completamente expostos. O mais original que Paula Rego tem para nos oferecer é conseguir a partir de situações do quotidiano lançar um conjunto de mensagens para a sociedade, do íntimo alcançar o quadro geral da sociedade.
Outros quadros destacam ainda o Estado Novo, a decadência humana, o papel da mulher (note-se que é a mulher que aparece com o rosto marcado por uma vida de trabalho e o homem tem um corpo menos musculado, às vezes até mais frágil), a subserviência (com os corpos desproporcionados). Nada é convencional.
Mas ainda mais satisfeito fiquei ao apreciar alguns conjuntos de quadros articulados entre si. Os três quadros sem título sobre o aborto foram do melhor que eu já vi para descrever a humilhação e a exposição que as mulheres estão sujeitas. Nos rostos lia-se tudo! Destaco ainda três sequências de seis quadros. Uma sobre o Capuchinho Vermelho, numa alusão clara à Pedofilia e à Vingança. Outra com o título Possesão (2004), talvez a mais bela das sequências onde as expressões faciais e corporais descrevem os acontecimentos na perfeição. Por fim Misericórdia (2001) não pelo seu impacto visual mas por ter-me arrepiado o retrato da intimidade das pessoas na terceira idade.
Compreender Paula Rego
Aconselho este livro por ter boas reproduções de algumas das obras de Paula Rego assim como várias perspectivas interessantes da obra dela. Como suplemento no Público ou em Serralves está a ser vendida a bom preço.
Termino como comecei! O estilo de Paula Rego é original porque é um realismo grotesco, insólito e íntimo com um aspecto visual inovador. Os sentimentos expressam-se nas faces, nos corpos, nas mãos, nos pés. Por isso muitos gostam e muitos detestam. Não faz mal! Porque Rego tem uma "infinita capacidade de provocar e renovar" (Ruth Rosengarten).
1 Comments:
At 12:18 da manhã, Politikus said…
Paula Rego é uma pintora acima da média, calculo o reço dso seus quadros quando falecer, se podesse comprava já um agora...
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