680. Diário das Presidenciais 2006 (11)
"Deus queira que não tenhamos um Presidente da República que tenha a ideia de que não pode fazer nada. O Presidente deve pensar que pode fazer."
Cavaco Silva
Estou de acordo com o conteúdo das palavras de Cavaco Silva! De facto o Presidente pode e deve pensar que tem influência (o que não quer dizer que concorde com o que este mesmo candidato acha que deve fazer). O que é preocupante é que é a terceira vez consecutiva que ouço esta frase dita da mesma forma, ou seja, é a terceira vez que Cavaco Silva apela a Deus para que o Presidente possa fazer alguma coisa ("O candidato [Mário Soares] disse que o Presidente da República não tem quase nada para fazer. Deus nos livre disso! Deus nos livre disso!" - 21 de Dezembro de 2005). Será consciente a escolha das palavras divinas? Não sei mas confesso que à terceira é caso para pelo menos desconfiar. Eu diria que Deus nos livre que Cavaco Silva esteja a apelar a Deus - ou aos cidadãos católicos - para que o Presidente tenha poderes para fazer alguma coisa.
"Não quero fazer aqui comentários porque as declarações do prof. Cavaco Silva são muito graves. Não quero fazer comentário aqui no meio da rua porque são demasiado graves"
Mário Soares
"Esse incidente inicia um problema sério: ou o professor Cavaco Silva não sabe exactamente o que é um Presidente da República no quadro constitucional português, ou, se sabe, está a propor uma espécie de golpe constitucional, uma vez que está a querer que o PR, a partir de Belém, possa intrometer-se contra o que está previsto na Constituição na organização interna do Governo português"
Vitalino Canas (PS)
Eu já comentei que o discurso de Cavaco Silva foi completamente desadequado - pelo menos em público - em relação ao posicionamento que um candidato a Presidente da República deve ter em relação aos seus potenciais poderes se for eleito. Já sublinhei que o PR não deve nem interferir nem sugerir modificações na orgânica do Governo. Mas adjectivar estas declarações como "muito graves" ou como "uma espécie de golpe constitucional" é um claro exagero, ou seja, é dar uma proporção errada às declarações. Eu sugeria aos candidatos - e ao PS - uma clara demarcação das posições de Cavaco Silva mas não uma dramatização desproporcionada das suas palavras.
3 Comments:
At 1:16 da tarde, Unknown said…
Caro Ricardo,
"Mas adjectivar estas declarações como "muito graves" ou como "uma espécie de golpe constitucional" é um claro exagero, ou seja, é dar uma proporção errada às declarações"
Mas as declarações de Cavaco Silva são mesmo muito graves e mostram que se ele for eleito Presidente da República (lagarto, lagarto, lagarto, o diabo seja cego surdo e mudo) vai-se intrometer no que não é chamado.
Um Presidente pode dar sugestões ao Primeiro-Ministro nas suas conversas de Quinta-Feira, sugestões em privado, claro.
Mas dizer estas coisas publicamente é arranjar guerras onde não as há.
É óbvio que é necessário evitar a deslocalização das empresas mas isso pode e deve ser feito da forma que o Governo ache mais adequada. Aliás, já existe um agência para o investimento que obviamente observa estes casos, agência essa que até foi instalada pelo Durão Barroso e cujo primeiro Presidente foi o Miguel Cadilhe (agora é o Basílio Horta).
Se o Cavaco for eleito (novamente, lagarto, lagarto, lagarto, o diabo seja cego surdo e mudo) já temos uma pequena guerra... o Senhor Presidente acha que a tal agência deve ser dividida em duas (uma para lutar contra a deslocalização e outra para a trair investimento novo) e a parte da luta contra a deslocalização deve ser Secretaria de Estado. Isto é sério pois se os jornalistas e comentadores não deixarão de perguntar ao hipotético Presidente Cavaco se ele insiste ou não na Secretaria de Estado... e ou ele diz que muda de ideias (pouco provavel) ou já temos uma guerrinha Presidente x Governo! Isto ainda antes de ser eleito!
Tudo isto mostra que Cavaco não tem perfil para o cargo. Ele quer fazer, o quê, talvez não saiba bem, mas que quer, quer. E o fazer não é uma competência do Presidente da República, é uma competência do Governo!
E, agora, caro fmb,
A dramatização é a estratégia do Cavaco! Não do Soares ou de qualquer outro candidato.
Não é Cavaco que diz que o país está mal e que ele (certamente com a ajuda divina) vai fazer tudo o possível para consertar isto?
Um abraço aos dois,
At 1:34 da tarde, Ricardo said…
Caro fmb,
Quanto à dramatização ninguém escapa. Ou não ouviste Cavaco Silva a anunciar a crise, a desgraça e as tempestades caso não seja eleito?
As referências divinas parecem-me voluntárias e premeditadas tais são as frases chave utilizadas para o efeito.
Abraço,
At 1:40 da tarde, Ricardo said…
Caro Raio,
É um claro exagero porque o candidato recuou logo a seguir nas suas intenções. Erros cometemos todos e não é por isso que o céu vai cair.
É verdade que Cavaco Silva tem um perfil desajustado ao cargo mas não vale a pena demonizar o homem porque o único resultado disso é o seu fortalecimento. Se Cavaco provocar tensões desnecessárias - e eu acredito que as vai causar - é necessário confiar nos ajustamentos do nosso próprio regime. Nós os dois estamos de acordo de que ele vai ser um péssimo PR mas ambos sabemos que nem a Democracia nem as instituições estão em perigo.
É necessário - sem hesitações - "censurar" estas derivas governativas do candidato mas sem dramatizar em demasia! Porque assim daqui a uns dias está desvalorizada a crítica - que é justa - em relação ao seu perfil.
Abraço,
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