Filho do 25 de Abril

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domingo, março 26, 2006

818. Tempo de Impunidade


Tony Blair, José María Aznar, George W.Bush e Durão Barroso na Cimeira dos Açores

Observo com estupefacção a singeleza com que certas declarações vêm a público. Há poucos dias - no 3º aniversário da guerra ao Iraque - Durão Barroso proferiu as seguintes declarações no programa "Le Grand Jury" a justificar o seu apoio – e por arrasto o de Portugal – aos EUA para a intervenção militar no Iraque:


"Tínhamos documentos que nos foram dados. Foi com base nessas informações que tomámos aquela decisão"

"A decisão que tomei, e que muitos governos tomaram, foi baseada em informações que tínhamos recebido e que, depois, não foram confirmadas: que havia armas de destruição maciça"

[Há três anos, Bush, Blair e Aznar comprometeram-se a] "aprovar uma administração apropriada para o período do pós-conflito no Iraque", [assegurando que] "toda a presença militar" [seria] "temporária" [e destinada a]
"encorajar a segurança e a supressão das armas de destruição maciça"


Durão Barroso pode ter muitos defeitos mas não é ingénuo e sabe que só disse o que disse porque vivemos tempos de impunidade global. O que é inaceitável é que se diga que as informações não foram confirmadas e que agora vamos todos para casa porque o assunto está encerrado. Não pode ser assim, não posso aceitar isso! Das duas uma, ou Durão Barroso cometeu um sério erro de avaliação perante os documentos que possuía e deve, por isso, tirar as devidas ilações na sua carreira política ou recebeu informação falsa e, por isso, deve exigir que quem o fez explique cabalmente o que aconteceu. Em que ficamos? Eu não estou a exagerar, simplesmente estou farto que tudo seja inconsequente, ainda mais em questões que não são meras decisões económicas como alterar ou não o escalão do IRS mas sim decisões com forte correlação directa entre a vida ou a morte de milhares de pessoas.

Houve uma intervenção militar num país baseada em informações falsas, na manipulação de opiniões públicas e com justificações infundadas (não só a questão das armas mas a ligação de Saddam com a Al Qaeda) e o resultado óbvio desta metodologia foi acentuar a desconfiança das populações em relação aos seus representantes, foi enfraquecer a luta contra o terrorismo, sem falar de todas as outras consequências naturais de uma guerra. E, no fim, basta dizer que as informações não foram confirmadas e está tudo resolvido? Não era tudo muito mais transparente se, simplesmente, tivessem dito que esta guerra não envolvia a guerra ao terrorismo nem era um acto de legítima defesa mas que era feita para defender os direitos humanos de um povo ou, numa lisura de carácter, que era uma guerra essencial para o controlo económico dum bem precioso?

6 Comments:

  • At 1:14 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Pois é, Ricardo, tens razão nessa indignação toda. Estamos em falar em milhares de pessoas que morreram e morrem todos os dias, mas isso parece ser uma minudência.
    Quando resumem tudo a "erros" de avaliação e sobra a impunidade, que fazer?

     
  • At 7:18 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Das Duas Uma... Ou Nenhuma! É claro que o "Zémanel" tirou ilações mas, ficou com elas! Questionar quem lhe deu a informação falsa? Estaria fora de questão, porque a progressão na carreira politica ficaria comprometida. No Ranking do Poder mundial não há lugar a esclarecimentos ou explicações, isso fica para quem não tem mais nada em que pensar, como nós: Os indignados.

     
  • At 9:47 da tarde, Blogger H. Sousa said…

    Sobre este assunto, desde antes do início da intervenção no Iraque, alertei para o bluff. Se estes crápulas são tão estúpidos que insistam na política da mentira, problema deles. Como diz o ditado, "tantas vezes o cântaro vai à fonte, que um dia lá fica". Pode ser que um dia já ninguém acredite em nada, mesmo que seja verdade.

     
  • At 1:31 da manhã, Blogger Alien David Sousa said…

    Para mim, escreveste uma frase que responde às questões que levantas: "...porque vivemos tempos de impunidade global..."

    Não há mais nada para dizer. É isso mesmo.

     
  • At 5:41 da tarde, Blogger Politikus said…

    Pura e dura hipocrisia...

     
  • At 8:07 da tarde, Blogger Rui Martins said…

    "muitos governos tomaram"? Quais? Em que Universo Paralelo? Ou será que os cinco ou seis seguidores incondicionais do costume, já valem por "muitos"?... Onde estavam e de que lado, estavam, as grandes potencias europeias? Deixem-me adivinhar... do lado da razão? Ou do lado de Fujão Barroso? Hum?

     

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