Filho do 25 de Abril

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sábado, março 18, 2006

810. Sala de Cinema: Crash


Crash, de Paul Haggis

Realizador: Paul Haggis
Elenco: Don Cheadle, Matt Dillon, Ryan Phillippe, Sandra Bullock, Brendan Fraser, Terrence Dashon Howard

Este Crash não tem nada a ver com o outro Crash, o do David Cronenberg que envolvia acidentes automóveis, desejo, sexo e é melhor ficar por aqui. Neste caso Crash refere-se ao choque entre pessoas, à colisão da vida de várias pessoas integradas na mesma sociedade.


Crash, de Paul Haggis

Estarão as sociedades doentes? Será que perdemos o nosso rumo? Será que alguma vez tivemos um rumo? Crash descreve, de forma extrema, a vida dum conjunto de pessoas mais ou menos representativa dos problemas mais graves que existem na cidade de Los Angeles (as questões que o filme levanta não são exclusivas da cidade). Este conjunto heterogéneo de pessoas interage directa ou indirectamente de forma consequente – o que não é propriamente uma novidade no mundo do cinema – e cada uma delas parece personificar um problema relevante da sociedade – como se fossem uma amostra representativa da população. Ao mesmo tempo que há personagens bem estruturadas também há, infelizmente, personagens que são meros clichés ou matrizes estereotipadas dessa amostra que referi anteriormente. O poder da imagem que retrata a sociedade a ferro e fogo, suas tensões e angústias é, assim, minimizado por haver situações forçadas, humor fora de contexto e personagens caricaturais. É pena...

Os temas levantados por este filme são múltiplos e, apesar de não ser uma boa política dispersar a atenção do telespectador, percebe-se que a intenção de Paul Haggis é mostrar que há um fio condutor nesta teia de problemas, ou seja, que a doença que afectou a nossa sociedade alastra-se a passos largos, concretizando, que perdemos a nossa humanidade.

Antes de continuarmos a caminhar, cegos, surdos e mudos, em direcção a sociedades que se auto organizam conforme critérios que ninguém sabe se são úteis para a nossa evolução como seres humanos acho que devíamos repensar qual é o verdadeiro papel duma sociedade. Pelo menos o filme tem o mérito de obrigar a esta reflexão.

Síntese da Opinião: Crash levanta muitas questões de forma interessante e intensa mas muitas personagens nunca conseguem ser tridimensionais, ou seja, nunca deixam de ser um conjunto de atributos estereotipados. Mesmo assim, um filme acima da média.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

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1 Comments:

  • At 8:31 da manhã, Blogger pedro oliveira said…

    É um filme que nos confronta com as nossas certezas.
    Um filme onde tudo é colocado, permanentemente, em causa.
    A personagem de Matt Dillon é um bom exemplo. Há alturas em que nos identificamos com ele e outras em que nos causa repulsa.
    Na minha opinião, Matt mereceria o Óscar por esta interpretação [a personagem de Clooney não tem a mesma densidade e vale, sobretudo, pela transformação física do actor].
    "Crash" faz-nos esquecer que é um filme, interroga-nos sobre a efemeridade da vida e da morte.

     

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