801. Sala de Cinema: Capote
Entre a realidade e a ficção ... um romance não ficcionado
Realizador: Bennett Miller
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper
Truman Capote foi um escritor polémico cujo último livro foi um polémico romance de “não ficção”. Baseando-se numa extensa investigação e múltiplas entrevistas a dois assassinos duma família no estado do Kansas, Capote descreve de forma romanceada acontecimentos reais duma forma tão obsessiva que deixa marcas profundas e irreparáveis na sua vida.
Philip Seymour Hoffman na sua melhor interpretação até à data
O filme também pode ser considerado um romance de “não ficção” pois também baseia-se, à semelhança do livro de Capote, em “factos reais”. E a grande vantagem deste “biopic” é não se espalhar em múltiplos pormenores da vida de Capote mas apenas na sua obsessiva relação com o prisioneiro Perry Smith e na forma como isso afecta a sua vida.
Capote versão Philip Seymour Hoffman é das personagens mais complexas, dúbias e destrutivas que tenho memória de ter visto no cinema. A interpretação de Hoffman – que só veio confirmar que é um grande actor – consegue ser subtil quanto baste para que todos conheçam quem era Capote e para que todos não façam a mínima ideia quem realmente era Capote. O escritor norte americano versão Hoffman é um homem ácido e manipulador que não consegue deixar de ser egocêntrico e auto destrutivo e toda esta forma de estar e sentir cria inúmeras oportunidades para o actor brilhar, com exagero mas credibilidade o que é a condição básica para o exagero passar a ser virtuoso. Esta complexidade associada à relação que este mantém com o seu objecto de análise para o livro – o assassino Perry Smith – resulta numa personagem única e que é explorada com mestria pelo actor.
É aqui que reside o problema do filme, ou seja, a personagem que cria é maior que o próprio filme. Mesmo assim o filme aguenta-se bastante bem até final e consegue ser sólido a exibir os exageros – neste caso no bom sentido – da representação de Hoffman. Note-se que Hoffman está nomeado para melhor actor na edição deste ano do Óscar e, mesmo sem ter visto toda a concorrência, posso afirmar que muitos actores já ganharam o Óscar com representações bem inferiores.
Nota: Para a história do cinema ficam as conversas de Hoffman sobre o seu tortuoso passado com Chris Cooper e a divisão profunda da personagem Capote entre a obsessão e a destruição do seu objecto de análise.
Síntese da Opinião: “Capote versão Philip Seymour Hoffman é das personagens mais complexas, dúbias e destrutivas que tenho memória de ter visto no cinema” – É preciso dizer mais? Talvez só que a personagem é bem maior que o filme. Mas um filme que nos oferece esta representação só pode ser um filme de excepção mesmo que tudo o que não envolve directamente Hoffman seja banal.
Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)
Technorati Tags: Capote, Bennett Miller, Philip Seymour Hoffman, Cinema
2 Comments:
At 12:12 da tarde, Anónimo said…
este é um dos melhores blogs portugueses parabéns!
At 4:46 da tarde, pedro oliveira said…
O filme é um bom filme e a interpretação é uma boa interpretação.
Há um pormenor que gostei no filme as imagens iniciais que apareciam no écran como se fossem uma projecção de "slides" esse artifício será repetido.
Uma frase que marca: "entre quarenta a cinquenta dólares"
Foram destruídas sete vidas [os quatro inocentes (assassinados), os dois assassinos (executados)e o próprio Truman que entra num processo auto-destrutivo(pormenor da comida para bebé com whisky)]... tudo por causa dum roubo de 40 a 50 dólares.
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