Filho do 25 de Abril

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sexta-feira, março 03, 2006

800. Sala de Cinema: Transamerica


Transamerica, de Duncan Tucker, com Felicity Huffman e Kevin Zegers

Realizador: Duncan Tucker
Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers

Confesso que o início do filme assustou-me, não pelas razões que a maioria das pessoas que sabe qual é o tema deste filme julga, mas porque senti que o filme corria o sério risco de ser uma versão melhorada dum telefilme lamechas que costuma passar nas tardes de Domingo numa qualquer estação de televisão generalista. Tinha razões sólidas para esta preocupação ser legítima. Tínhamos uma transsexual que descobre que tem um filho e cuja psiquiatra não a deixa mudar (completamente) de sexo enquanto não resolver a sua relação com o filho e, para apimentar mais esta fantasia melodramática, dá boleia ao filho até a Califórnia fazendo-se passar por uma crente da Igreja do Pai Potencial. Este início é assustador!


Transamerica, de Duncan Tucker, com Felicity Huffman e Kevin Zegers

Mas, pouco a pouco, o filme ganha dimensão dramática e consegue arrancar algumas situações de humor de forma inteligente. Adicionalmente afasta-se dos estereótipos dos filmes lamechas ao oferecer-nos uma visão tolerante e pedagógica das pessoas que fogem às normas sociais no que toca à sexualidade. E grande parte da responsabilidade desta melhoria global do filme deve-se à excelente interpretação de Felicity Huffman como Bree/ Stanley (nomeada para o Óscar de Melhor Actriz).

Felicity Huffman é uma das “Desperate Housewives” e tem sido bastante premiada pela sua participação nesta série de televisão. Pessoalmente não é a minha personagem “favorita” na série nem acho que a sua interpretação seja a melhor em comparação com outras actrizes da série. Mas rendo-me à sua capacidade de tornar algo que podia ter descaído facilmente para a caricatura – uma mãe/pai transsexual – em algo comovente e com humor. A personagem do filho de Bree/ Stanley (Kevin Zegers) parece-me mal construída, as suas reacções parecem-me pouco naturais e o actor também não ajuda a melhorá-la já que tem um défice de intensidade dramática.

Síntese da Opinião: Um filme que consegue atingir um patamar bastante aceitável de humor e ternura e que corre alguns riscos “morais”. Mas podia ter ido bem mais longe. Vale por Felicity Huffman.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

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