798. Corrupção entre políticos em Portugal?
Eu sempre achei que a corrupção entre os políticos em Portugal é mais local que nacional e que, mesmo a local, não atingia proporções gigantescas. Também nunca achei que se fizessem fortunas em Portugal com a corrupção. Não sei se estou a mudar de opinião mas às vezes questiono esse meu pensamento.
1. A corrupção em Portugal está enraizada por causa da burocracia ou vice versa. Como tudo é lento em Portugal - na saúde, nas câmaras, nos ministérios, na procura de trabalho - é natural todos fazerem um "jeitinho". Não sei se isto é corrupção mas eu sei que este modus operandi tem raízes neste país e que ninguém sai ileso;
2. Os grandes casos de corrupção são quase todos originários das autarquias mas há alguns casos "nacionais" mal explicados. Recentemente o caso Eurominas deixa algumas suspeitas não de apropriação indevida de fundos públicos mas novamente por causa de certos "jeitinhos" (que neste caso podemos chamar de "amiguismo") que adoramos fazer e há ainda o caso do financiamento do PP (e documentos oficiais no escritório de um dirigente) que não sei se já está esclarecido;
3. Os presumíveis casos - recentes - mais graves nasceram quase todos a nível local: Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais. Há ainda o caso dos Governadores CIvis que são autênticas fábricas de perdão de multas;
4. Esta minha acepção romântica da política onde as pessoas não enriquecem por actos de corrupção (apesar de indirectamente haver muitos casos de subidas profissionais fulgurantes) tem sido um pouco abalada. Comparativamente com outros países acho que, mesmo assim, os políticos nacionais (deputados, secretários de Estado, ministros) têm conseguido estar à margem de grandes casos de corrupção;
5. Estes pontos todos para chegar a este. O que se está a passar na Câmara Municipal de Lisboa revela, finalmente, com bastante clareza que algo está muito mal por detrás das aparências. É preciso separar vários casos que podem estar interligados mas também podem não estar:
i) o negócio dos terrenos da antiga Feira Popular com a Bragaparques não está claro. Num concurso em que o único critério é o preço não se compreende como quem ganha o concurso é quem oferece um preço mais baixo. Esta questão, levantada na campanha eleitoral, tem tido pouco eco;
ii) houve um acordo entre Carmona e o PS de contornos mal definidos. Alteraram - os dois partidos - a forma de eleição do Presidente da Junta Metropolitana para impedirem a eleição de um elemento do PCP e depois houve recuos estranhos. Mais tarde houve nomeações estranhas como a indicação de Jorge Coelho para um cargo relacionado com o turismo (que já não me lembro ao certo qual era) que posteriormente foi vetada (ou houve resistência) no PSD local e que representou mais um recuo. Porque será que PSD (pelo menos Carmona Rodrigues) e PS apoiam-se mutuamente sinalizando o interesse a cargos (Carmona e Coelho) e depois recuam?
Nota: Não estou a afirmar que haja relação entre as várias alíneas
iii) a alegada corrupção a Sá Fernandes para que este desista da queixa sobre o processo da venda de terrenos indicia que há fogo por detrás do fumo. A também alegada afirmação do representante da Bragaparques que o "PS já está" e o "Você não vê o que aconteceu no Vale de Santo António?" deixam-me intrigado.
Conclusão: Não quero perder a minha visão romântica da política nem estou a afirmar que algum destes casos é verdade ou que há relação entre os casos, mas, há sempre um mas, não acredito muito em coincidências. Espero estar errado!
12 Comments:
At 3:09 da manhã, João Dias said…
Pois também a mim o romantismo escasseia...
Existe uma naturalidade perante estes assuntos que é preocupante. Se a corrupção é aceite ela generaliza-se, até porque uns começam a dizer que para "vingarem no sistema" tem mesmo de ser assim.
É urgente perceber que corrupção não é apenas uma versão fina de roubo, é mesmo um roubo.
At 11:41 da manhã, Bruno Gouveia Gonçalves said…
Citava apenas mais um factor que contribui para um clima de corrupção, que é o tamhano do nosso país. Quer queiramos quer não, este facto contribui e muito para o tão apregoado "amiguismo"...
Abraço
At 1:00 da tarde, Pedro Morgado said…
Excelente texto.
Assino por baixo!
É por isto que a política partidária me deioxa muitas dúvidas... Mas, ainda não consegui pensar uma forma melhor...
At 5:53 da tarde, Rui Martins said…
Espero que a PJ arrange um tempito para levar até ao fim as investigações sobre este "o PS já está" que é de extrema gravidade, tendo em conta que Lisboa é a maior Câmara do país e o PS o partido do governo. Mas terão tempo agora que anda obcecados a fazerem fretes para Souto Moura e que estão em "greve de zelo"? Espero que sim!
At 7:15 da tarde, Fernando said…
Sá Fernandes vem provar que nem toda a gente que está na politica é corruptível. Este é o aspecto mais importante a destacar depois dos casos conhecidos publicamente. O caso Eurominas, é para mim um caso indevido de apropriação de dinheiros públicos com a cumplicidade de altas figuras politicas. Não são jeitinhos. Talvez o caso Sá Fernandes possa explicar os muitos negócios da BragaParques com a Câmara de Braga. Quem faz o que faz, a Sá Fernandes, julga-se impune e actua à vontade. Espero que não percas essa visão romântica da politica porque ela necessária (nem tudo é corrupção e precisamos de politicos sérios) e há muita gente, acredito, que está de boa fé na actividade política. Sá Fernandes vem mostrar/provar que nem toda a gente tem um preço.
At 2:05 da tarde, bravo said…
Acho o ponto 1 muito importante e aquele onde me parece mais fácil fazer algo para melhorar. É vital que os processos administrativos sejam mais transparentes e que quem os desempenha seja responsabilizado por atrasos injustificados. Com as novas tecnologias de informação não há desculpas para isso não acontecer. Um cidadão com um processo a decorrer num qualquer serviço do Estado deveria poder ver na net qual o ponto de situação do mesmo e qual o motivo de um eventual atraso. Penso que nalguns casos isso já é possível, o que é de louvar.
Abraço
At 5:03 da tarde, Samir Machel said…
Permite-me discordar de ti na fulanização em "Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais". Apesar de méritos indubitáveis na arte do empobrecimento de terceiros, duvido que sejam os expoentes maiores. Apenas são os que foram apanhados/denunciados e ainda há muito culpado por ai (ver no Bitoque "Corrupção no Poder Local" de 23-2.
Deixa-me ainda referir que os casos nacionais mal explicados são bem mais do que supomos. E muitas vezes bem gravosos. O Eurominas é o exemplo mais recente mas são certamente muitos mais. Espero brevemente ter algo sobre a corrupção no poder central no bitoque.
Abraço
Samir
At 11:35 da tarde, Politikus said…
Estou em condições de afirmar, que a maxima na política nacional é:
Uma mão lava a outra" como tantas vezes ouvi. Ou seja eu dou-te x e tu em troca dás-me y. Até o emprego para os filhos dos Srs. Ministros.
At 12:47 da tarde, A. Cabral said…
Nao ha um grande perigo na resignacao de que a politica e' mesmo isto, corruptos sem diferenciacao? O cinismo nem sempre e' transformador, e o cinismo portugues tende a ser fadista/fatalista e recolhido.
At 7:34 da tarde, Unknown said…
O texto é interessante. Acho, no entanto, que a corrupção em Portugal não é nada do outro mundo. No indíce de corrupção da Transparency International estamos em 27º lugar, praticamente com o mesmo valor de França ou Espanha (que estão à nossa frente) e muito acima da Itália, Grécia ou Polónia.
Quanto ao Bruno Gonçalves, um país grande ajuda a esconder a corrupção.
A corrupção a nível da União Europeia é, por exemplo, muito maior do que a portuguesa.
As contas da Comissão há anos que não são auditadas (nenhum auditor se arrisca a audita-las), o caso de corrupção no Eurostat foi abafado (os funcionários comunitários gozam de imunidade), etc., etc.
Mas disto ninguém fala...
Um abraço
At 7:48 da tarde, Macillum said…
Se querem saber onde está o bicho que está a deixar a maçã podre, sugiro-vos repararem nas Folhas-de Acácia que ornamentam o Brasão de Portugal desde a Instauração Da República, quando este é utilizado para oficializar qualquer documento, repartição de Estado, ou agentes policiais e militares do Estado português.
Peço-vos que reparem também que existem umas Folhas-de Acácia no logotipo das Nações Unidas. Peço-vos, mais uma vez, que olhem com atenção o Selo Oficial dos Estados Unidos da América e reparem que a garra esquerda da águia está a agarrar, também ela, umas Folhas-de-Acácia. Que simbolo é este? Um símbolo internacional, por excelência, da Maçonaria. E o que faz ele a enfeitar o logotipo da União Africana? E porque é ele uma parte integrante do logotipo da Ordem dos Advogados de Portugal? E quem é o Grupo Bilderberg? E a Comissão Trilateral? E o que se passa em Bohemian Grove? Investiguem... investiguem...
At 3:49 da tarde, b.s.desassossego said…
OK Ok.Muita verdade aqui é dita,
o País precisa de soluções não de critica!!
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