788. Jorge Sampaio visto por Miguel Sousa Tavares
Jorge Sampaio
"(...) os seus discursos viveram sempre desta contradição insanável e desesperante entre o que dizia e a sensação de absoluta inutilidade do que dizia. Basta atentarmos ao último exemplo em data: o que sucedeu com o ultimado ao procurador-geral da República para que 'num prazo curtíssimo', esclarecesse como é que, no âmbito do processo Casa Pia, o Ministério Público entrou na posse da lista dos telefonemas particulares efectuados por um vasto leque de políticos que nada liga ao processo, naquilo que o próprio Presidente classificou como 'uma forma intolerável de intromissão na reserva privada dos portugueses, que não pode passar em claro'? Sucedeu que, uma semana decorrida, Souto Moura foi a Belém segredar qualquer coisa ao Presidente, que aparentemente se deu por satisfeito, nunca mais tendo falado no assunto. E, entretanto, o 'curtíssimo prazo' já ultrapassou um mês e, como é habitual, o procurador confundiu o que está em causa: em vez de investigar quem obteve e quem facultou essa lista, resolveu investigar o jornal que deu a notícia."
(...)
"Há uma substancial, e não apenas subtil, diferença entre o que foi a 'magistratura de influência' de Mário Soares e a de Jorge Sampaio. Talvez porque Soares tinha um peso político próprio, aqui e lá fora, que Sampaio nunca teve. Talvez porque Soares, ao contrário de Sampaio, concentrou-se no essencial e não se dispersou em milhares de temas, desgastando-se em palavras e mais palavras, ao ponto de já quase ninguém as escutar. Mas, sobretudo, porque Soares não viu o cargo como um púlpito do politicamente correcto ou uma eterna fábrica de consensos, onde tantas vezes o que se exigia era rupturas e escolhas. A grande desilusão que me fica dos anos de Sampaio em Belém é a sensação que ele deixou instalar de que o cargo é perfeitamente inútil."
(...)
"Este frenesim condecorativo assenta como uma luva no perfil político de um Presidente que não foi capaz de dar uma lição pública a Durão Barroso, não foi capaz de dizer não a Santana Lopes, que não foi capaz de meter na ordem democrática Alberto João Jardim e nem sequer foi capaz de despedir o procurador-geral da República. Foram dez anos vividos a cultivar os seus queridos 'consensos' - com o bom, com o mau e com o insustentável. E está à vista de todos o que o país regrediu nestes dez anos de consensos. Valha-nos que, ao menos, não faltam comendadores!"
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 18 Fevereiro 2006
Se quiserem ler Jorge Sampaio visto por mim: O definhar do Semi Presidencialismo
8 Comments:
At 7:39 da tarde, Fernando said…
Concordo. Contigo e com o Miguel Sousa Tavares.
At 9:25 da tarde, H. Sousa said…
O mais "apagado" de todos. Tendo a dar razão a MST.
At 10:25 da tarde, pedro oliveira said…
Concordo mais contigo que com o senhor Tavares.
A tua análise está bem estruturada e fundamentada a dele são umas bocas que qualquer um de nós mandaria numa mesa de café.
At 11:07 da tarde, Ricardo said…
Pedro,
Em relação ao meu texto há uma actualização: o caso "Envelope 9"!
Subscrevo a visão de MST.
Abraço,
At 11:30 da tarde, Ruvasa said…
Viva, Ricardo!
O marquee está ok, sem dúvida.
Não queres, porém, alargar um pouco - apenas um pouco - as letras?
Abraço
Ruben
At 11:53 da tarde, Ricardo said…
Viva, Ruvasa!
Antes de mais volto a agradecer a ajuda técnica.
Já segui a sugestão. Espero que o marquee - estou sempre a aprender - esteja mais legível agora. O tamanho da letra continua baixo porque não quero que seja o centro das atenções mas aumentei um pouco.
O problema do tamanho das letras e do aspecto do blogue é que este varia conforme o browser que estou a usar ou do computador que estou a consultar. Às vezes, aparentemente, está tudo bem e consulto o blogue doutro computador e até fico assustado.
Quando tentei instalar o marquee da primeira vez - antes de pedir ajuda - no Firefox estava a funcionar e avisaram-me que o blogue andava a viajar com o marquee no internet explorer. Todo o texto ia da direita para a esquerda.
Por isso as sugestões são sempre bem vindas.
Mais uma vez obrigado.
Abraço,
At 10:20 da manhã, H. Sousa said…
"Todo o texto ia da direita para a esquerda." Só o texto? Ehehehe!!!
At 1:47 da tarde, Rui Martins said…
Todo o consulado de Sampaio deixa este intenso sabor a desinteresse e demissão sistemática das responsabilidades de um Presidente que deixou como maior marca para a posteridade a responsabilidade pela chegada ao poder daquele que foi o pior PM da História de Portugal: Pedro Santana Lopes. Por isso e pelo silêncio enquanto Guterres malbaratava aquela que foi provavelmente a última grande oportunidade de Portugal.
Fica um PR marcado pela inacção. Veremos agora se Cavaco não ficará marcado pela... Acção. Mas demasiada...
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