Filho do 25 de Abril

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domingo, março 05, 2006

804. Óscar 2006



Este ano não vou ter a oportunidade de comentar a cerimónia de atribuição do Óscar - nem sei se vou conseguir ver - à semelhança do que fiz o ano passado. Mas, mesmo assim, vou deixar umas notas sobre o conceito do Óscar (ver Óscar 2005 aqui).

Um dos pontos mais negativos do mundo do cinema é a promoção que é feita aos filmes na antecipação a um festival de cinema. Durante meses fala-se de filmes que ainda não estrearam e, mesmo após a estreia, dá-se destaque às reacções ao filme muito antes de visioná-lo. E o mais engraçado é ler os cenários, escritos muitas vezes sem qualquer contacto com a obra em si, em que as pérolas abundam e deixo alguns exemplos típicos: o filme ganhou muitos prémios e, por isso, parte como favorito e, noutro lado lê-se que o facto de ser favorito pode ser mau porque a academia gosta de surpresas e, ainda, a melhor interpretação não vai ganhar porque no ano passado o actor que ganhou entrava numa película muito semelhante. Por isso, para evitar esta campanha de desinformação e hipocrisia, não leio nenhuma crítica de um filme que ainda não vi. Assim não sou nem influenciado quando faço uma crítica a um filme nem crio expectativas. Apenas leio notícias sobre a Sétima Arte e só leio críticas a filmes após o visionamento.

Não vou fazer cenários mas vou transmitir algumas impressões dos filmes que vi, ou seja, uma opinião comparativa sujeita ao meu gosto pessoal:

Filme: Só assisti, entre os nomeados, a Capote e Munich. Nenhum dos filmes parece-me talhado para melhor do ano mas, mesmo assim, achei Capote muito mais bem conseguido que Munich. Apesar disso é mais um filme de e para um actor do que propriamente uma obra prima;

Realizador: Como na categoria anterior só posso avaliar o trabalho de Bennett Miller e Steven Spielberg, respectivamente por Capote e Munich. Spielberg cria um filme com um aspecto visual muito bem conseguido mas como achei a película muito aquém do seu potencial não vou desejar a sua vitória. Já Miller é eficaz na realização - mas sem rasgo - principalmente na adequada exposição de Philip Seymour Hoffman;

Actor Principal: Só assisti à interpretação de Philip Seymour Hoffman. Vou apenas republicar o que já escrevi: "Capote versão Philip Seymour Hoffman é das personagens mais complexas, dúbias e destrutivas que tenho memória de ter visto no cinema"; "Note-se que Hoffman está nomeado para melhor actor na edição deste ano do Óscar e, mesmo sem ter visto toda a concorrência, posso afirmar que muitos actores já ganharam o Óscar com representações bem inferiores";

Actriz Principal: Assisti ao trabalho de Felicity Huffman e Charlize Theron em Transamerica e North Country. Não achei nenhum dos filmes especialmente bom mas o trabalho de Felicity Huffman parece-me mais bem conseguido;

Actor Secundário: George Clooney tem uma transformação física impressionante e uma interpretação segura em Syriana. Não vi a actuação dos outros nomeados;

Actriz Secundária: Gostei bastante da actuação de Rachel Weisz no filme The Constant Gardener. A actuação de Frances McDormand (North Country) também é consistente mas prefiro a actuação da primeira. Já Catherine Keener (Capote) não me pareceu ao nível das anteriores;

Notas:

Estou dividido na categoria de Argumento Original porque adorei os argumentos tanto de Syriana como de Match Point;

No Argumento Adaptado não percebo a nomeação de The Constant Gardener já que achei o argumento o ponto mais fraco do filme. O trabalho de Fernando Meirelles é que podia ser premiado. Também não gostei da montagem deste filme e é mais uma nomeação que não concordo;

Há algumas ausências que quero destacar: a de King Kong (um dos filmes da área do fantástico mais espectacular dos últimos anos), a de Jonathan Rhys-Meyers (excelente em Match Point) e, como já referi, Fernando Meirelles (o aspecto visual de The Constant Gardener é fabuloso);

Para terminar constato que os temas dos filmes nomeados são muito políticos e polémicos. Na globalidade e, tendo como amostra os filmes que vi, há boas representações e argumentos. Sem ver Brokeback Mountain e Good Night, Good Luck (talvez esta semana) não posso concluir se a média de qualidade das películas nomeadas para melhor filme é ou não boa.

Nota Final: Só volto a colocar textos no próximo fim de semana. Como avisei durante a semana anterior durante três semanas este blogue só pode ter actividade aos fins de semana. Mantém-se a moderação de comentários. Até já.

4 Comments:

  • At 4:11 da tarde, Blogger pedro oliveira said…

    Já vi o "Good night and good luck", paceceu-me um filme muito consistente e bem dirigido.
    É daqueles filmes que vale pela forma e, também, pelo conteúdo.
    É um filme militante, da mesma maneira que era militante o jornalismo americano dos anos 50.
    Quanto aos actores Philip Seymour Hoffman nunca me fez esquecer que era um actor a representar (bem)um papel; David Strathairn está excelente no papel de Edward R. Murrow e Joaquin Phoenix é muito convincente como Johnny Cash, apostaria num dos dois últimos como vencedor.

     
  • At 5:14 da manhã, Blogger Unknown said…

    A 78ª cerimónia terminou há pouco... estou danada com os resultados! A vitória de crash é um insulto...

    Giamatti foi ROUBADO. Contenta-me a vitória do magnífico Phillip Seymour Hoffman.

     
  • At 1:38 da tarde, Blogger dinah said…

    Para mim os dois que faltaram eram os melhores. O Brokeback Mountain foi filmado com uma sensibilidade extrema, sobretudo para o tema, e tem representações de antologia. O Good Night and Good Luck só tem o defeito de ser mais curtinho que o habitual, o que não chega a ser defeito, mas consequência de ser um filme de baixo orçamento. Inteligente, politicamente oportuno, subtil e bem filmado, só vem confirmar George Clooney como um grande realizador.
    Quanto à cerimónia em si, vi-a em directo e foi mais ou menos o esperado, à excepção do oscar de melhor filme para Crash, que nao era, de todo, merecido.

     
  • At 5:38 da tarde, Blogger Inês said…

    mas o match point nao é do ano passado, ou é?

     

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