Filho do 25 de Abril

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domingo, fevereiro 27, 2005

(345) Óscar 2005




Para que serve um Óscar? Desenganem-se aqueles que acham que são para premiar os melhores filmes e actores (entre outros intérpretes do mundo do cinema) dum ano em particular. Cada vez isso acontece menos. Serve para consagrar ou lançar actores e realizadores ou até mesmo para fomentar resultados de bilheteira a filmes em dificuldade. Esta perspectiva doentia de premiar conforme a pressão dos estúdios descredibiliza os prémios e cria um ciclo vicioso de compensações e jogos de interesses.

Veja-se o exemplo de Martin Scorsese. Para que é que ele precisa dum Óscar? Os Óscares é que precisam dele para ganhar credibilidade. Alguém compreende como é que Scorsese não tenha uma única estatueta? Perdeu a estatueta em Taxi Driver para John G. Avildsen (Rocky!?!?) e até mesmo Kevin Costner com Dances with Wolves ganhou a Scorsese com Goodfellas!!! Terá isso afectado a carreira de Scorsese? Acho sinceramente que se afectou foi para benefício deste já que pôde assim manter a sua independência dos grandes estúdios. E o mais irónico é que este pode ser o seu ano porque a Academia tem que compensar Scorsese logo com um dos filmes que nem é dos 5 melhores que ele fez. Não concordo nem nunca concordei em confudir prémios de carreira com prémios a um filme específico. Essa confusão dá vantagem a Scorsese como melhor realizador mas tem sido a principal razão (entre outras) porque ele não ganhou quando devia ter ganho.

Outro bom exemplo é Al Pacino. Não ganhou o Óscar nem com a terceira parte de GodFather e foi logo ganhar com Scent of a Woman, um dos piores filmes da sua brilhante carreira. E como explicar que a categoria de Actor/Actriz Secundário(a) tenha muitas vezes actores principais? Porque é preciso jogar o jogo com as regras da indústria e colocar nessas posições actores que precisam ser promovidos ou aproveitar uma categoria “menor” para premiar quem nunca foi premiado. É uma enorme hipocrisia, é um voto de simpatia!

Este ano o grande “combate” é entre Clint Eastwood e Martin Scorsese. Acho o filme de Eastwood mais consistente apesar de não ser um filme perfeito mas como pode haver compensações por injustiças anteriores nunca se sabe quem pode vencer. Paradoxalmente Eastwood tem contra si o facto de já ter ganho um Óscar por Unforgiven. Outra curiosidade está no Óscar de melhor actriz. Hilary Swank (Million Dollar Baby) volta a concorrer contra Annette Benning (Being Julia) já que em 1999 o seu desempenho em Boys Don´t Cry foi o preferido da Academia em detrimento do magnífico desempenho de Benning em American Beauty. Provavelmente as estatuetas estariam mais bem entregues se trocassem a ordem dos prémios com Benning a ganhar em 1999 e Swank este ano. Mas os membros da Academia já têm uma vasta experiência na sua política de compensações.

Apesar de tudo é um ano com bons filmes e muito equilíbrio ao contrário do ano passado onde houveram poucas surpresas e o Return of the King “limpou” todas as categorias que estava em competição. Repito que a importância destes prémios é muito relativa.

Mas agora como é que eu vou explicar, perante o que acabei de dizer, que nunca perdi uma cerimónia dos Óscares e que continuo a ser influenciado pelas suas escolhas? Porque encaro os Óscares como mais um (e só mais um) festival de cinema que procura promover um certo tipo de filmes. Esta atribuição de prémios não é, para mim, mais importante que outras como o FantasPorto porque tudo é relativo e nós, espectadores de cinema, temos é que saber filtrar a verdadeira importância de cerimónias como esta. Apenas servem para alimentar os mitos do cinema com muito glamour e as nossas escolhas só devem ser condicionadas com alguma inteligência da nossa parte. É que no fundo qualquer um de nós sabe que na vida nada tem valor absoluto. Assim sendo este festival é só mais um entre centenas que nos ajudam a filtrar os filmes que vamos ver e dessa conclusão advém a importância de sabermos os “truques” dos mecanismos de escolha dos prémios. Só assim pode ser (mais) um contributo para separar o trigo do joio cinematográfico.

O importante é que cada um de nós dê prémios a quem mais gostamos para aproveitarmos ao máximo o prazer de ir ao cinema. Todos os outros prémios valem bem menos que os “nossos” prémios... e são esses prémios que nos devem influenciar quando fazemos as escolhas cinematográficas!

3 Comments:

  • At 10:50 da tarde, Blogger Pedro F. Ferreira said…

    O Óscar tem tudo o que é Hollywood. Por uma lado, a beleza, o glamour, o sonho. Por outro, a injustiça, o carácter perverso da negociata. Mas... a noite de Óscares é sempre a noite de Óscares.

     
  • At 10:53 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Pedro... não diria melhor! A noite de Óscares, apesar de tudo, é sempre a noite de Óscares!

     
  • At 4:01 da manhã, Blogger mfc said…

    A noite está muito previsível.

     

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