Filho do 25 de Abril

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quarta-feira, fevereiro 23, 2005

(338) Sala de Cinema: Million Dollar Baby, de Clint Eastwood


Muitas pessoas devem perguntar se este é o mesmo Clint Eastwood dos tempos de Dirty Harry. Eu próprio pergunto-me muitas vezes o que é que aconteceu a este actor/realizador para sofrer uma metamorfose tão profunda. A realidade é que aqui está ele, cada vez melhor e mais surpreendente. Já é um lugar comum mas nunca é demais dizer que Eastwood envelheceu bem e ganhou uma dimensão humana impressionante.




Clint Eastwood por Alain Duplantier


Tenho que confessar que ia desconfiado ver este filme. Um filme sobre boxe não costuma ser a minha praia mas depois pensei, Scorsese também já seguiu esta estrada e não se deu mal. Fiquei também curioso com as excelentes críticas ao filme que lia em todo o lado uma vez que achava difícil este filme ser melhor que o anterior de Eastwood, Mystic River.
Lá fui ver o filme e...

...UAU...


... mesmo tendo em conta a carreira recente de Eastwood tenho que confessor que não esperava tanto. Mystic River era duma dor quase visceral, Million Dollar Baby é duma dor tranquila. Se o primeiro chocava pela crueza das imagens este vai até à alma das personagens. É um filme intimista que até parece que estamos na mesma sala que as personagens. O trio de actores está perfeito para este filme.

Nenhum filme é perfeito e este também não é. Nem sempre podemos ter os dois mundos, ou seja, nem sempre podemos levar os sentimentos ao extremo e manter uma dignidade quase higiénica. Mas Eastwood é assim, há-de morrer com a sua dignidade e verticalidade intocadas. Só ele para conduzir a narrativa desta forma. Depois há a lutadora alemã cuja caricatura é um pouco tosca, ganhando desde já a corrida para a "Darth Vader" desta década. Mas todo o resto é tão perfeito que estes pormenores são isso mesmo, simples pormenores.

Eastwood aposta cada vez mais num estilo minimalista a filmar o que funciona como um trampolim para os actores. As cenas dos combates estão excelentes e Hilary Swank faz um impressionante trabalho físico e dramático, num trajecto de superação inesquecível. Aqui sim há um papel merecedor dum Óscar já que em Boys Don´t Cry não fiquei rendido á sua actuação. Morgan Freeman está igual a si próprio mas no máximo do seu potencial transmintindo uma serenidade madura ao filme. Falta dizer que o actor Eastwood não fica atrás do realizador Eastwood. A sua personagem vive com culpa e nunca a supera, num ciclo frenético de acontecimentos que deixam cicatrizes até ao osso, daquelas que não podemos fechar.

O ano passado fiquei tocado com a leveza refrescante de Lost in Translation e o poder demolidor de Mystic River. Este ano fico atordoado, até mesmo siderado, com a força intimista deste filme...

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