Filho do 25 de Abril

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terça-feira, janeiro 30, 2007

984. Cronologia do caso Bragaparques

Cada negócio tem uma história. Aqui fica um ponto de vista sobre a história do caso Bragaparques.

- Eleições Autárquicas 2001: Pedro Santana Lopes conquista a Presidência da Câmara Municipal de Lisboa com 41,98% dos votos. João Soares fica a 0,28 pontos percentuais.

1º erro: Eleger Santana Lopes para o cargo.

- Santana Lopes anuncia o seu plano para a renovação do Parque Mayer, arquitectado por Frank Gehry.

2º erro: A Revista como género de teatro – consiste na crítica satírica de situações políticas ou sociais – teve o seu apogeu natural durante o Estado Novo porque estava formatado para dizer tudo sem dizer nada. Após o 25 de Abril este género de teatro tem progressivamente perdido importância. É natural que assim seja. Será que apostar num “elefante branco” num género em pleno declínio não é um saudosismo bacoco?

- Carmona Rodrigues assume a Presidência da Câmara de Lisboa em 2004 e reformula o plano de Santana Lopes para o Parque Mayer. A Câmara não tem capacidade financeira para avançar com a obra tal como estava projectada e opta por outra estratégia que envolve a permuta de terrenos. A Assembleia Municipal, após várias hesitações, aprova o plano.

3º erro: Reinventar uma ideia já por si pouco brilhante foi juntar ao erro original um negócio de contornos no mínimo incompatíveis com as regras básicas de transparência (o famoso direito de preferência da hasta pública dos terrenos da antiga Feira Popular).

- Em 2005 Santana Lopes reassume a Presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Perante um negócio que já não é o seu avança, na mesma, com a permuta de terrenos. Classifica o plano para o Parque Mayer como “capaz, robusto e seguro” para os interesses municipais. Actualmente, como é seu hábito, contraria-se e afirma que o negócio era “confuso”, que esteve quase a “impugnar a venda” e que tinha "dúvidas relativamente ao direito de preferência".

4º erro: Se Santana Lopes reconhece agora que o negócio era “confuso” devia ter suspendido o processo. Ao invés disso resolveu insistir cegamente no erro.

- Durante a campanha eleitoral das Autárquicas 2005 o então candidato José Sá Fernandes interpela por várias vezes Carmona Rodrigues no sentido de obter esclarecimentos sobre o negócio. Carmona Rodrigues, sempre parco em explicações, garante a total transparência do negócio.

5º erro: Não se pode, em plena campanha eleitoral, garantir que o negócio é transparente quando já se sabe que há uma nuvem negra de suspeição a rodear todos os pormenores do negócio e não hipotecar a credibilidade. Agora que os contornos do caso são mais claros fica a sensação que Carmona Rodrigues teve um discurso oportunista e que escondeu voluntariamente informações ou suspeitas que já tinha sobre o negócio.

- Há uma tentativa de suborno a Ricardo Sá Fernandes para que o irmão, José Sá Fernandes, não avance com a investigação do caso para que a construção nos terrenos da antiga Feira Popular possam avançar. O sócio-gerente da Bragaparques, Domingos Névoa, foi o alegado autor desta tentativa de suborno.

6º erro: O cerco sobre o negócio continuava a ficar cada vez mais apertado mas, mesmo assim, Carmona Rodrigues mantém uma estranha apatia e o seu Vice-Presidente, Fontão de Carvalho, chega ao ponto de classificar o caso como algo que nada tem a ver com a Câmara, ou seja, que é um problema apenas entre o vereador Sá Fernandes e uma empresa (Bragaparques).

Esta sucessão de erros culmina na investigação a que todos estamos a assistir. Só há uma certeza até este ponto, concretizando, a transparência continua a não ser uma prioridade em Portugal.


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