Filho do 25 de Abril

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quinta-feira, maio 26, 2005

(427) O “Monstro” continua a ser alimentado (3)


"Nós não vamos aumentar os impostos porque essa é a receita errada (...)Não vamos cometer os erros do passado ", José Sócrates, RTP, 14.04.2005

Eu sempre considerei imprudente fazer determinadas promessas eleitorais. Há sempre condições que o Primeiro Ministro não controla e cuja melhor solução pode estar na subida dos impostos. Além de ter cometido várias imprudências nas promessas eleitorais, Sócrates veio agora cometer mais um erro grave. Independentemente do contexto, Sócrates reforça a ideia de que não somos representados, mas sim manipulados. Depois de tanto criticar as políticas recessivas de Durão e de ter prometido que esse não era o caminho dá a sensação, se é real ou imaginária pouco importa, que é mais do mesmo. Poucos acharão que a "surpresa" foi real e para a generalidade das pessoas é mais um
“trafulha” numa lista que vai engrossando e que um dia vai resultar no fim deste regime (Tópico Relacionado: (121) A Refundação da Democracia).

Para ser coerente com o que tenho defendido, apesar de continuar a ter esperanças no desempenho deste Governo, acho que o
“Monstro” está novamente a ser alimentado. Há medo desta figura criada por um dos nossos pais da pátria que também foi o pai das promoções automáticas (se ninguém está a ver quem é apenas digo que adora comer bolo rei).

As medidas anunciadas são novamente de curto prazo e novamente vão penalizar a sociedade real. Não vou analisar uma a uma, mas apenas deixar umas breves notas:

- O aumento dos impostos indirectos e dum escalão do IRS não significa que Portugal vá ter uma carga fiscal superior a outros países da UE mas que novamente este aumento não é fruto duma tentativa de melhorar a qualidades dos serviços públicos e sociais mas unicamente para tapar
“buracos”;

- A progressiva equiparação da função pública à privada é fundamental mas vai depender muito do que se quer equiparar. A exigência, a igualdade nas reformas, as promoções por mérito e o fim das regalias são bem vindas. A precaridade do trabalho e salários miseráveis para os quadros mais baixos já não me parecem um bom caminho;

- Perante um
“buraco” de 5000 milhões de euros só neste Orçamento o Governo só ataca em 700 milhões de euros (de 6,83% para 6,2%). Parece muito sacrifício para tão pouco mas, também em defesa da coerência do que defendi, o ataque deve ser progressivo ao longo da legislatura para não penalizar em demasia o crescimento;

- O fim parcial do segredo fiscal parece-me uma medida mais adequada apesar de ainda não ter percebido o seu real alcance.

A adicionar a tudo isto espero anúncios em breve para resolver os problemas estruturais (não só os conjunturais) e para incentivar o investimento privado.

7 Comments:

  • At 11:46 da manhã, Blogger armando s. sousa said…

    Olá Ricardo,
    Tanto criticavam a senhora Ferreira Leite pela obsessão pelo déficit e na primeira oportunidade fazem exactamente a mesma coisa. No entanto, neste momento os números apresentados são estimativas daquilo que será o déficit no fim do ano, mas as medidas apesar de ser tomadas em função das estimativas são bem reais para os bolsos dos portugueses. Sócrates enveredou pelo caminho mais fácil para fazer dinheiro no curto prazo e através disso reduzir drásticamente o já debilitada poder de compra dos portugueses. Para mim é uma trafulhice inqualificável.
    Um abraço

     
  • At 12:59 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Armando...

    Há aqui dois problemas:

    1. Ou os políticos repensam seriamente as suas acções de representatividade (ou falta dela) ou vamos chegar a um ponto de total descrédito;

    2. O défice não pode ser uma obsessão. O crescimento deve ser a prioridade e o défice um instrumento para que o primeiro seja sustentável. É obvio que não podemos gastar mais do que temos mas quando atingimos uma espiral viciosa de défice mais vale não estagnar a economia mas sim tornar as despesas mais eficientes no médio prazo, leia-se, de forma suave. O importante é apostar na economia e de forma progressiva controlar o aumento de despesas. Aumentar impostos indirectos com a economia estagnada parece-me uma garantia que as despesas sociais e de desemprego do Estado não vão parar de crescer e que as receitas vão aumentar a um ritmo bastante decrescente.

     
  • At 12:59 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Esqueci-me... abraço e bom feriado!

     
  • At 2:53 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Apesar de tudo as medidas anunciadas parecem coerentes (no seu todo), mas em relação ao aumento de impostos, que nunca é bom,eu diria que tudo vai depender se esse aumento criará ou não condições de desenvolvimento. E se assim for, então valerá a pena.
    Ricardo, gracias pela tua visita:*
    Um beijinho

     
  • At 6:25 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Guadalupe...

    Não escondo que até nem acho as medidas escandalosas mas o abismo entre a campanha partidária e a acção governativa faz-me confusão. As tais condições de desenvolvimento é que são importantes.

    Não tens que agradecer uma visita que fiz com todo o prazer,

    Beijo

     
  • At 6:47 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Eu de Finanças Publicas nada percebo (nem Cristo, segundo Fernando Pessoa).
    Mas não consigo fazer qualquer paralelo a nivel de decência comportamental e qualidade intelectual entre este governo e os 2 anteriores.Penso que só lá vão 2 meses, é pouco tempo para falar num quase abismo,etc.
    Pode muito bem ser que estas medidas não sejam intempestivas, mas façam parte de actuação mais ampla no tempo.Acontece que hoje em dia,no nosso país, um governo é demasiado débil em relação aos poderes ilicitos exteriores mas instalados no estado, como sanguessugas, que é impossível apresentar publicamente essas intenções.Seriam todas arrasadas imediatamente.

     
  • At 2:13 da manhã, Blogger Ricardo said…

    C. Indico...

    Tu percebes pouco de Finanças e acho que no Governo há o mesmo problema, hehe

    Sim , os lobbies são o principal mal da nossa democracia.

    Abraço,

     

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