Filho do 25 de Abril

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sexta-feira, março 23, 2007

1051. À procura do aeroporto utópico


"a Ota é uma péssima localização, com excepção de todas as outras"
Vital Moreira, Causa Nossa, parafraseando Churchill


A novela, ainda mais emocionante que as da TVI, sobre a localização do novo aeroporto é mais uma prova que o nosso país é um poço de burocracia, com défice de decisão política e com um conservadorismo sem paralelo. Eu não sou técnico e não vou aqui defender qual a localização ideal, apesar de muitos terem essa presunção sem o serem, mas posso opinar sobre o óbvio. E o óbvio é que o conjunto das forças de decisão deste país não conseguiram e não conseguem avançar com um investimento que já é avaliado e considerado necessário há décadas.

Eu não sei se a Ota é a melhor localização. Parece que esta localização foi escolhida por exclusão de partes, ou seja, as outras soluções são piores e esta também não é boa mas, repito, parece. E das duas uma, ou andamos à procura dum aeroporto utópico ou, em 30 anos de Democracia e mais alguns de Ditadura, temos que concluir que os estudos técnicos não conseguem alcançar uma análise comparativa rigorosa ou ninguém tem capacidade política para decidir e correr riscos ou a maioria da população prefere que não se construa nada. Se, à partida, sabemos que qualquer localização vai ser alvo do argumento "vamos gastar tanto dinheiro e esta localização tem tantos defeitos" então, pelo menos, devíamos ter em consideração que os recursos gastos no actual aeroporto e em projectos para um novo, para adiar de 3 em 3 anos a sua ruptura, já davam para ter financiado a quota de despesa pública para o novo, seja em que localização fosse. Ou então ter em consideração o único consenso técnico, isto é, que a capacidade actual das estruturas aeroportuárias está subdimensionada em relação à procura e às nossas necessidades.

Este fracasso nacional não é inédito. É mais fácil investir, em Portugal, na continuidade do que na mudança, concretizando, é mais fácil encher o país com mais e mais rotundas com uma estátua rodeada de água que esguicha para todos os lados, pelo menos durante dois anos antes de ficar tudo entupido e cheio de lodo, do que mudar de localização uma urgência (mesmo que já não tenha equipamento ou só receba cinco pessoas por dia) ou do que mudar o local duma lota de peixe. Esta novela, num investimento estruturante como este, e reafirmo que até pode ser que a Ota seja uma péssima decisão política, de nunca conseguirmos atingir um consenso, só prova que somos incapazes de decidir, que há "forças" ou grupos de pressão de bloqueio, que o nosso fado é sermos utópicos esquecendo que o óptimo é inimigo do bom. No fim, o balanço é simples, ou seja, gastamos os mesmos ou mais recursos a manter soluções que nos afastam cada vez mais do nosso potencial de crescimento.

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3 Comments:

  • At 8:39 da tarde, Blogger H. Sousa said…

    «...temos que concluir que os estudos técnicos não conseguem alcançar uma análise comparativa rigorosa ou ninguém tem capacidade política para decidir e correr riscos ou a maioria da população prefere que não se construa nada»
    Caro Ricardo, escolhi esta frase como poderia ter escolhido uma outra que procura mostrar que o país não avança porque os Velhos do Restelo não deixam. Mas lembra-te com que entusiasmo, há bem pouco tempo, embarcámos na Expo, no Euro, com as mesmas promessas de tirar o país da lama. Os resultados estão à vista, mais sacrifícios são pedidos ao povo com as mesmas promessas. Eu só sinto que cada vez mais tenho que fazer furos no cinto para apertar enquanto outros os fazem para alargar. Como eu, uma grande maioria que boicota.
    Abraços

     
  • At 9:55 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Henrique,

    Defender que o país está bloqueado na decisão de investir no que é necessário não é o mesmo que defender que não haja rigor ou que devemos fazer investimentos não reprodutivos.

    Um novo aeroporto não nos vai tirar da lama mas andar décadas a atirar recursos para remendar a Portela também não vai. Seja qual for a localização ou a solução adoptada temos que chegar a um consenso mínimo. E não há desenvolvimento sem sacrifício e se vamos evitar que haja sacrifício cada vez vamos ter menos para dividir, ou seja, o sacrifício é ainda maior.

    Abraço,

     
  • At 9:37 da manhã, Blogger H. Sousa said…

    Há desenvolvimento quando o sacrifício tem limites. Quando se pode ver luz ao fundo do túnel. Ora eu não vejo porque o desenvolvimento é só para benefício dos tios. Às bestas pede-se sacrifício, aos tios dá-se benefícios. Desenvolver assim? Para quê?

     

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