1178. Manifestação de 02 de Março
Faço um ponto prévio. Considero que com justiça podemos estar todos de acordo, indepententemente da contabilidade da manifestação, é impossivel não associar a manifestação de ontem a uma enorme frustação nacional que se vive. Enquanto o Governo segue convicto que está a ter sucesso no que julga ser a sua missão, é preciso observar que factualmente desde a tomada de posse deste Governo: a carga fiscal agravou-se ainda mais (para níveis cujo retorno já é dúbio), que os salários desceram (a redução dos rendimentos nada tem de diferente no curto prazo do que o efeito do aumento da taxa de um imposto directo) e que os benefícios que a sociedade nos oferece de forma ampla regrediram de forma substancial.
É certo que a tendência já vinha de pelo menos uma década atrás, e que a herança foi pesada e castradora, mas sinceramente não é possivel ver neste mandato do Governo nada particularmente aproveitável. Mesmo que esta estratégia resultasse em melhoria do défice e dívida pública (que não consigo ver de forma cabal), nunca a poderia apoiar porque, no fundo, nada está a resolver, nada está a melhorar.
Particularmente chocam-me dois sinais: a forma como começamos a aceitar com naturalidade que há certos tratamentos e medicamentos que vamos ter acesso de forma limitada e conforme a disponibilidade financeira e a cobardia como tratamos quem já não pode reagir, como os reformados.
Posto isto, admito que há a percepção por parte do Executivo de uma fase II, a tal fase da redução real dos custos do Estado em 4 mil milhões. Não sou ideologicamente contra esse rumo, temos Estado a mais em muitas áreas (e bem a menos noutras) mas a grande questão é que o Estado seja eficiente nas suas funções, quer económicas quer sociais, e nesse aspecto não vejo razões para olhar para a frente com confiança. Interessa-me um Estado bem dimensionado capaz de executar as suas tarefas essenciais, e continuamos a ter e a antever um Estado mal distribuído, com tarefas que não são suas e incapaz de providenciar o que é de facto essencial. E é aqui que este Governo verdadeiramente falha (e que esta oposição também vai falhar), porque nem superficialmente vê-se capacidade técnica, visão e vontade de realmente tornar o Estado num factor de diferenciação positiva, só vejo a mais pura vontade de cortar onde se consegue, não onde se deve.
1 Comments:
At 3:06 da tarde, Anónimo said…
Pois é, passado cinco anos estamos mais pobres, sem algum deslumbre de retrocesso. Qual vai ser o limite para o empobrecimento?
És o filho do 25 de abril, mas estamos a voltar ao antes, em que só os ricos podem ir para a faculdade, ter boa assistência médica e acesso aos melhores empregos
Bem-vindo à escrita!
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