Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, abril 19, 2004

19 de Abril de 2004 (7) – Religião (2)

Sempre que estou aflito e não sei o que fazer recorro aos Dicionários da Porto Editora. Estava eu na minha viagem espiritual, iniciada sem solavancos apesar de viajar com o espírito nem sempre ser fácil, quando deparei-me com outra dúvida existencial, serei judeu ou cristão, ou nenhum dos dois. Graças a Deus (ou Alá, ou outro Ser Superior que inventa estas coisas) existe a Porto Editora para esclarecer-me.

Esta distinta entidade (terrena e útil), agride-me como sempre com frases directas e sintéticas (que mau feitio). Cristão é, então, aquele que pertence ao Cristianismo, que crê em Jesus Cristo. Uau! Estou esclarecido, que longa dissertação sobre o tema, aproveito para dar os parabéns pelo dicionário (de grande qualidade como podemos observar) estar disponível gratuitamente no mundo virtual. Como tudo o que é virtual, incluíndo este Blog, não vale nada. Mas deu-me umas pistas, falou em Jesus Cristo. Vou reter este nome para futura reflexão.

Como eu sou masoquista, consultei a mesma entidade para ver se sou Judeu. Então Judeu é (e mais nada!) aquele que segue o Judaísmo e ainda um indivíduo materialista, malvado e de má índole. Sou capaz então de ser Judeu, tudo coincide, só tenho ainda que esclarecer aquele pormenor do Judaísmo. Como parece que finalmente a Porto Editora leva-me a algum lado, insisto. O Judaísmo é uma doutrina religiosa monoteísta, assente no Antigo Testamento. Para tudo! Lá está tudo a complicar de novo! Mais uma palavra a reter antes de rotular-me, Antigo Testamento.

Chego à conclusão que Deus não é igual para todos, mesmo o mesmo Deus (sim, o mesmo!), porque este mesmo Deus para os cristãos e judeus tem comportamentos diferentes ao longo da sua existência. Para um Ser infinitamente sábio está numa crise existencial, também. No Antigo Testamento narra-se um Deus que retinha a chuva, causando fome, via mães comer os filhos e permanecia tão feroz como a peste. Um homem como eu tem repúdio por estas atitudes e não pode ser solidário com este comportamento. Injuriar e maltratar sim, matar à fome é que não. Apesar de, inicialmente, tudo apontasse para que fosse judeu, afinal não sou.

No Velho Testamento Deus é o juiz, no Novo Cristo é misericordioso. Promete! Mas, na realidade o Novo Testamento é mais cruel que o Antigo. Senão vejamos, o Antigo não tem a ameaça do sofrimento eterno, a vingança terminava na sepúltura do homem (parece quase poético). No Novo Testamento a morte não é o fim, mas o início da punição que não tem fim (todos nós estamos a lembrarmo-nos de alguém, mas talvez não mereça tanto, afinal só não nos cumprimentou daquela vez). “Parti vós, malditos, para o fogo eterno, preparado para o demónio e seus anjos”, proferiu Deus. Eu não tenho imaginação para imaginar (sim, está certo!) tamanha tortura, ou contrariamente, felicidade etérea e despreocupada para o infinito. Contra Jesus nada tenho, foi um dos maiores filósofos da história da humanidade.

Já vai longo este capítulo da minha viagem. Continuo religioso natural, sem nada a acrescentar ao meu rótulo. Não sou nem Judeu nem Cristão, que Deus me perdoe e Cristo tenha misericórdia. Claro que continua, mentecapto(a)!