Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

segunda-feira, abril 11, 2005

(395) Páginas Soltas (14): O Insaciável Homem-Aranha, de Pedro Juan Gutiérrez




“Às vezes penso que a vida aqui se reduz realmente a música, rum e sexo. O resto é paisagem.”


O primeiro livro que li de Pedro Juan Gutiérrez foi “O Rei de Havana”. Achei o livro bastante diferente do que estava acostumado a ler. A linguagem parecia ter aquele “realismo das ruas”, de quem realmente viveu aquilo. E fiquei apaixonado pela forma como o autor descreve uma mentalidade que não tem nada a ver com a nossa. Para o autor conseguir-me fazer acreditar como uma pessoa só existe para ouvir música, beber rum e ter sexo (nem sempre por esta ordem) é porque o escritor é mesmo bom.

Depois li o seu primeiro livro publicado em Portugal, “Triologia Suja de Havana” e, mais tarde, “Animal Tropical”. A narrativa de “O Rei de Havana” era completa porque passava por todas as fases da vida duma pessoa e nestes dois livros há uma narrativa que apenas conta pequenas histórias na vida de um homem que nunca sabemos bem se é o autor ou outra pessoa qualquer mas temos sempre a sensação das histórias serem contadas com realismo. Gutiérrez assume sempre uma personagem que mistura factos da sua vida com histórias sobre pessoas (ou personagens) de Havana, tudo escrito duma forma extremamente credível. O dia a dia da vida em Havana é descrito com erotismo e crueldade...

“Converteu-se no cronista da realidade mais crua do país caribenho... (...) Como os melhores autores pícaros, nutre-se de si mesmo, da sua experiência e do seu desengano vital.”
Enrique Tomás

Neste livro, "O Insaciável Homem-Aranha", a saga da vida em Havana continua mas duma forma menos gutural. Talvez pela idade do autor ou da personagem o livro é menos crú, menos violento e mais higiénico (sim, era mesmo higiénico que queria escrever). Mas continua a não haver concessões porque a vida em Havana é dura mas, e também por isso, é o local ideal para percebermos quais as prioridades da vida. Ele só não sabe qual é a ordem dessas prioridades.

*Tópicos Relacionados:
Memórias do Filho do 25 de Abril: Literatura

Nota: Aconselho (a quem gosta deste género de literatura realista e crua e que nunca tenha lido este autor e quiser ler) para seguir a ordem com que ele escreveu os livros.

1 Comments:

Enviar um comentário

<< Home