(388) Comentário aos comentários
Os comentários dos últimos posts merecem que utilize o meu direito de resposta para esclarecer uns pontos.
(386) Ainda sobre a morte do Papa
Quando escrevi este post houve, da minha parte, a necessidade de explicar que era contrário aos unanimismos que se criaram à volta da figura do Papa. Disse que, antes de mais, eram prejudiciais à própria instituição que necessita, com carácter de urgência, de se adaptar aos novos tempos para que as novas gerações continuem a aderir como as anteriores. Deixei sublinhado que perante os elogios e críticas havia, com raras excepções, uma onda de respeito e que isso "não podia ser uma análise mais positiva do trabalho do Papa, leia-se, agradar os católicos e ganhar o respeito dos não católicos".
O Pedro Éfe, do blogue Salvos e Afogados, até se deu ao trabalho de explicar a sua fé por correio electrónico (num mail que gostei bastante de ler mas que não reproduzo por razões óbvias) sublinhando até a minha moderação na discussão do tema.
No blogue Velho da Montanha (blogue que gosto muito de ler e que retribuo os cumprimentos), o seu autor rebate as minhas opiniões de forma equilibrada. Concordo em parte com o seu ponto de vista moderado mas acredito que o Estado devia separar-se completamente da religião para respeitar as suas diferenças. Não como em França que o laicicismo foi levado a extremos inaceitáveis mas ser verdadeiramente neutro. Dessa forma respeita a liberdade individual do homem e, ao mesmo tempo, deixa a Igreja exercer livremente as suas convicções. Aconselho a leitura.
De forma surpreendente o Micróbio, autor dum blogue que gosto bastante de ler escreveu o seguinte comentário:
Este post faz-me lembrar o discurso daquele republicano que dizia a alta voz: "Enforcarei o último padre com as tripas do último bispo"...
Eu não quero entrar em desnecessárias polémicas mas aconselho o meu caro colega a ler melhor o que escrevi e o que defendo. Eu respeito a Igreja Católica e os seus membros e apenas reservo-me o direito de lutar pela diminuição da sua influência nas leis civis. Sempre defendi um Estado Laico e só fui coerente comigo mesmo, sem ofender as convicções de ninguém.
(387) Os caminhos da Europa
Depois escrevi este post sobre a Europa e o perigo dos referendos. Expliquei que o Tratado Constitucional é longo e difícil de explicar e constatei que, na maior parte dos referendos as razões que levam os cidadãos a votar "Não" e "Sim" não têm nada a ver com o que está realmente em discussão. Dei como exemplo a França que vai votar "Não" por causa da Turquia e da directiva Bolkestein, pontos que estão a ser discutidos fora do âmbito do Tratado, isto é, são questões que com ou sem a aprovação do Tratado Constitucional são discutidos da mesma forma.
O Raio, do blogue Cabalas, relembrou-me, e bem, que "os argumentos que manifestas contra a realização de referendos aplicam-se a qualquer eleição", acrescentando a seguinte pergunta "Quantas vezes um partido perde eleições por motivos fúteis?". Tenho que concordar que este argumento é válido e temos que conviver com as virtudes e defeitos das Democracias. Mas também relembro que defendi a realização do referendo apesar das minhas dúvidas que a discussão seja séria e esclarecedora: "Eu defendo um referendo em Portugal para discutir este tratado mas confesso que dou pouca credibilidade a discussões sérias em sede de referendo."
Já o Micróbio fez o seguinte comentário:
"Olhano para o post anterior e para este e passando em revisão todos os posts deste blog (sendo excepção os de índole "técnico-cinematográfico") levam-me a crer que tu não não acreditas na Igreja, como não acreditas na Europa e como não acreditas em nada. Posso perguntar se acreditas em ti?"
Tenho que confessar que olhei com surpresa para este comentário. Se há alguma coisa que me acusam com frequência é defender com demasiada paixão a integração europeia por isso fico sem perceber o comentário. Já o facto de não acreditar na Igreja o que digo é que sou agnóstico (tenho esse direito) mas tenho sempre o cuidado de realçar a importância da fé. Tenho um profundo respeito por quem não pensa da mesma maneira que eu e quando discordo faço-o sempre explicando as minhas razões com o máximo de objectividade que consigo. Mas confesso que li com mais revolta a parte final do comentário, o de não acreditar em nada e a questão se acredito em mim. Eu sou Republicano, Democrata, Socialista, Federalista e Agnóstico. Acredito na tolerância, na liberdade individual do homem e na liberdade. Exijo competência a quem gasta o meu dinheiro e o respeito pela lei nacional e internacional. Só não acredito em mim porque acho que não nos devemos levar muito a sério.
Antes de terminar este post queria aproveitar para comentar o último post do Micróbio com o título O Papa encarnou o evangelho da vida. O Micróbio escreveu:
" (...)Outro Óscar deste ano foi para o filme espanhol “Mar Adentro”, que representa sob uma mentalidade favorável ao suicídio – com cooperação alheia – a vida de um inválido tetraplégico. Em todo o mundo vive-se um relativismo sofisticado – mais nuns países que noutros – nas questões morais, por isso a Igreja Católica com este Papa assumiu sempre o papel de oposição oficial.
João Paulo II defendeu incansavelmente o valor sagrado da vida humana desde a concepção até à morte natural. Tornou-se um legado do que chamou o “evangelho da vida”, em oposição à “cultura da morte”. A Parkinson devia ter posto fim à sua campanha, forçando-o a isolar-se na sua debilidade. Mas o Papa fez com que a doença reorientasse todo o seu pontificado, colocando-se ele próprio como exemplo vivo da mensagem que nos deixou.(...)"
Este post é um bom exemplo do que venho defendendo. Eu compreendo que esta seja o ponto de vista dum católico, seria estranho é se fosse outro. Mas há aqui uma utilização que diria abusiva de determinadas expressões como “cultura da morte”. Eu defendo o meu direito de optar por terminar o meu sofrimento quando já não há perspectivas de vida mas nunca vou escrever aqui palavras de elogio ou condenação por quem opta por continuar a viver ou terminar de viver. É uma escolha que eu defendo que seja pessoal e que não faço apologia de nenhuma das situações, apenas do direito de optar. De uma coisa não abdico de defender... respeito a opção de cada um mas não aceito não ter o poder de decidir sobre a minha própria vida quando já não há perspectivas de vida!
3 Comments:
At 5:00 da tarde, Ricardo said…
Micróbio...
Continuo sem perceber o alcance da frase: "Enforcarei o último padre com as tripas do último bispo"... visto não me sentir minimamente identificado com ela! Também não percebi a razão de dependeres da minha posição europeia para dizeres que "e como não acreditas em nada. Posso perguntar se acreditas em ti?".
Sobre a eutanásia que colocas um paralelismo com o suicídio eu apenas tenho a posição que tenho em relação a doenças terminais e/ou situações que a vida só é garantida por meios artificiais. Sobre o suicídio a questão é extremamente complexa e tenho que confessar que é um assunto que ainda não me debrucei convenientemente.
De qualquer forma, e como não quero alimentar mais polémicas da minha parte o assunto fica encerrado a menos que solicites que esclareça mais qualquer coisa!
At 6:37 da tarde, Unknown said…
Acho que posso dizer que não acredito em nada. Creio que desde nascença ou quase.
E não percebo porque é que há gente que considera criticável não se acreditar em nada. O lógico é não se acreditar e, depois, indo acreditando numas ou noutras coisas mas sempre com prazo de validade. O que eu "acredito" hoje até pode ser diametralmente oposto daquilo em que "acredito" amanhã.
Exemplo: Na década de 70 e 80 "acreditei" na então CEE. Achava que acertava com o meu espírito internacionalista.
Só que uma análise desapaixonada da CEE/CE/UE levou-me a concluir que a CEE/CE/UE nada tem haver com internacionalismo, é mesmo o oposto.
(além de não gostar que eu, os meus filhos, netos, etc., sejam explorados)
E foi o facto de não acreditar em nada que me permitiu reposicionar rapidamente contra a CEE/CE/UE.
A minha opinião favorável à CEE/CE/UE era uma primeira opinião baseada em factos superficiais, a segunda é baseada em factos sólidos. Modestamente acho que segui o caminho correcto.
Mas vejo-te a ti, Ricardo, Republicano, Democrata, Socialista, Federalista e Agnóstico, prisioneiro daquilo em que acreditas e não queres deixar de acreditar. Isso impede-te de pensar pois todos os teus raciocínios esbarram com fronteiras que te recusas a ultrapassar.
At 7:19 da tarde, Ricardo said…
Raio,
Eu não acho criticável não acreditar em nada apesar de achar que temos sempre que acreditar em alguma coisa nem que sejam os valores da liberdade para podermos ter aqui esta contraposição de pontos de vista.
E como bem deves ter reparado eu fui "criticado" por não acreditar na Europa, o que nem é verdade. Não deixa de ser uma ironia.
Estamos de acordo noutro ponto. As nossas convicções existem só para serem novamente reflectidas, niovamente examinadas e contrariadas. Porque concordo que temos todos que evoluir nos nossos pensamentos. Quando eu escrevi aquela lista de "adjectivos" (ou rótulos) é porque eles definem o meu pensamento neste momento. Amanhã a conversa poderá ser outra como. As barreiras que crio são as mesmas barreiras de "quem não acredita em nada" cria porque para não acreditar em nada também é preciso resistir a acreditar em alguma coisa.
Quanto à UE pretendo escrever mais uns posts sobre o Tratado e a situação económica de Portugal e da Europa.
Abraço,
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