(378) A Terceira Idade (2 de 2)
Como defendia no post anterior há despesa não reprodutiva que, mesmo em alturas de crise orçamental, é defensável e mesmo prioritária. Por isso não fico chocado quando o Governo opta por dar uma prestação extra aos idosos (com mais de 80 anos) que não recebam, no mínimo, o valor do Limiar da Pobreza. Se há críticas a esta medida só podem ser por ela não ser ainda mais ambiciosa.
Há investimentos que eu acho urgente que sejam feitos em Portugal. Todos nós conhecemos casos de pessoas na terceira idade que vivem sozinhas. Ou casos de idosos que vivem com familiares que não têm capacidade para cuidarem deles seja por razões monetárias ou até por razões psicológicas e/ou físicas. O maior problema nestas situações é que a assistência ao domicílio é pouco incentivada pelo Estado e os lares sociais são escasos em número e qualidade.
Não é aceitável que uma idosa que viva sozinha e que fique doente tenha que esperar meses abandonada num hospital porque não há uma vaga num lar social. Também não é aceitável que idosos com doenças de foro mental tenham dificuldade em serem aceites num lar e que, quando são, sejam relegados a um tipo de coma induzido por excesso de calmantes porque não há capacidade ou condições para cuidar deles. Por tudo isto e por muitas outras situações que todos conhecemos é urgente investir na dignidade na terceira idade principalmente para aqueles que não têm capacidade financeira para se defenderem.
Eu não estou a defender os lares como primeira opção mas é consensual que o número de camas e a qualidade (nas instalações, no apoio médico, nas actividades recreativas) dos lares deixa muito a desejar. Uma das alternativas é o Estado apostar na assistência ao domicílio e nos centros de dia.
O problema é urgente e prioritário, independentemente das nossas convicções ideológicas ou das dificuldades orçamentais. O nível adequado dos impostos não é aquele que garante as melhores condições de desenvolvimento mas sim aquele cujo valor garante que o papel do Estado é cumprido. Mas cuidado, nem acima nem abaixo desse valor porque a economia precisa de ser competitiva e os desperdícios são o maior inimigo duma economia saudável. Urge apostar na dignidade das pessoas!
6 Comments:
At 1:05 da manhã, Anónimo said…
Ricardo, compreendo a tua apreensão que devia ser de qualquer pessoa responsável.Também acho que uma aposta séria nos centros de dia devia ser prioritária.Assim nunca os mais idosos se sentiriam abandonados, porque ao final do dia as pessoas (mais idosos) seriam encaminhadas para estarem novamente junto de seus familiares.O grande problema é quando se tem de ir trabalhar e ter que deixar um parente mais idoso sózinho em casa.Arte por um Canudo 2
At 1:41 da tarde, Anónimo said…
O papel do estado tem que ser repensado e redefinido.
O actual modelo está completamente esgotado e não responde às necessidades que a sociedade portuguesa actualmente tem.
O estado de hoje não pode, actuar da mesma forma que fazia na década de 80, e infelizmente é a isso que se assiste.
Não pode fazer tudo, mas tem que garantir que tudo seja feito em prol dos cidadãos, inclusivamente através da privatização de determinadas áreas com a saúde, a segurança social, a educação, etc, caso se verifique que observando as regras por ele (estado) impostas, os privados oferecem um melhor serviço aos cidadãos.
No entanto fica a ressalva de que preferencialmente deverá ser o estado a desenvolver as competências nas áreas sociais para que o mínimo de dignidade seja garantido a todos e para isso não é necessário aumentar a carga fiscal, é necessário isso sim, definir prioridades.
David
At 3:08 da tarde, Ricardo said…
David...
Apesar de concordar que o actual modelo do papel do Estado tem que ser repensado ainda não consigo ver a utilidade de privatizar certos sectores. Não por ter medo do "papão capitalista" mas unicamente porque ainda não consegui encontrar um modelo no mundo que funcione melhor a nível social. Entregar, por exemplo, a Saúde às Seguradoras mesmo com apertado controlo do Estado não me parece garantir um sistema de saúde universal. Mesmo a questão dos lares privados sabemos bem que é apenas o critério dinheiro que manda o que não resolve nada.
Abraço,
At 7:39 da tarde, Pedro F. Ferreira said…
Já cá deixei um comentário hoje. Pensei que ficara registado, mas, afinal, não. De facto, é de doidos...
Bem, vamos ao comntário. Na sequência do que comentara ontem, continuo a concordar com a tua opinião. O Estado não pode ser cego para com aqueles que lutaram uma vida inteira e que, de repente, se encontram sem possibilidades de continuar a lutar... é uma questão de dignidade, é uma questão de humanidade. E, como tu sabes bem melhor do que eu, a economia é feita em função do Homem e não o oposto.
At 8:21 da tarde, pindérico said…
Estou inteiramente de acordo contigo, embora cada vez mais se equacione a possibilidade de dever o estado optar por garantir que seja feito, em vez de fazer.
De toda a maneira julgo saber que esse não é o tipo de despesas que a nova versão do PEC admite tratar de forma excepcional! Estou enganado?
At 7:12 da tarde, Sandro said…
Urge agir com dignidade...
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