540. Sala de Cinema: War of the Worlds
Realizador: Steven Spielberg
Elenco: Tom Cruise, Dakota Fanning, Justin Chatwin, Miranda Otto, Tim Robbins
Parece que alguém resolveu lidar com o tema do 11 de Setembro nos Estados Unidos da América e misturá-lo com uma invasão de extraterrestres. O resultado só podia ser desequilibrado.
Este filme de Steven Spielberg tem uma primeira hora de película bastante razoável ao conseguir criar um paralelismo no pânico dos habitantes de Nova Iorque perante uma invasão alienígena com o medo que foi vivido no dia 11 de Setembro. As roupas voavam pela cidade, as ruas enchiam-se de poeira (e cinzas) e os americanos fugiam dum acontecimento que ainda não compreendiam. No meio deste acontecimento, Spielberg conseguia explorar as relações familiares disfuncionais entre a personagem de Tom Cruise (divorciado) e os seus dois filhos com relativa mestria. O comportamento humano (ou desumano) perante a tragédia também estava, nesta fase, a ser bem explorado, mostrando a face negra do homem ao tentar sobreviver a todo o custo.
Mas este equilíbrio inicial que o filme teve desmontou-se como um castelo de cartas perante uma brisa. Era impossível levar esta história a bom porto porque esta era por demais ambiciosa para conseguir obter um resultado credível. É que o terrorismo não é uma luta entre o branco e o preto nem é resolúvel num piscar de olhos. O filme aposta em simplificar os acontecimentos de tal forma que não deixa espaço para a complexidade dum medo duradouro, com causas que vão muito além da luta entre o bem e o mal. Por isso a fase final do filme, para além de ser má, estraga o impacto da fase inicial. O filme tornou-se caricatural. Um amigo meu costuma dizer que Spielberg não devia tentar retratar a realidade porque não está talhado para isso (veja-se o inarrável Terminal) e não podia concordar mais com ele. É pena porque a carreira de Spielberg parecia ganhar novo fôlego com Minority Report e Catch Me If You Can.
Divido então o filme em dois períodos. O primeiro estende-se até Ray Ferrier (Tom Cruise) encontrar a personagem de Tim Robbins. Até aí o tema do terrorismo domina o filme, o “herói” é apenas um homem assustado e desadaptado do meio, as reacções das pessoas parecem credíveis. Num segundo período o medo desaparece, as pessoas transformam-se em “heróis de acção”, o relacionamento da família deixa de ter sentido (alguém percebeu a utilidade do filho de Ray Ferrier desaparecer no meio da batalha para poder ver umas explosões? Que mensagem passou? Que consequências teve para a história para além das instrumentais, isto é, arranjar uma forma de colocar Cruise sozinho com a filha?) e o filme perde-se na filosofia dos germes e da selecção natural.
Síntese da Opinião: Não há nada a apontar tecnicamente ao filme (muito pelo contrário) mas a história torna-se tão banal (e desequilibrada) que estraga o arranque positivo do filme!
15 Comments:
At 9:26 da tarde, mfc said…
O filme..não conto ir vê-lo, mas não posso deixar de te dar os parabéns pela sequência fotográfica, aqui em baixo, da Casa da Música.
At 10:43 da tarde, Anónimo said…
Fui vê-lo.
O Estevão, para ser delicado,entregou a Direcção ao Dono da Luz Mágica.
At 1:12 da manhã, Unknown said…
Ricardo,
decerto que no longínquo ano de 1898 HG Wells não escreveu o romance sci fi inspirado no pânico do terrorismo... e muito menos Orson Welles aquando da adaptação daquele para a rádio, causando verdadeiro pânico no povo americano, que saíu em fuga para a rua depois de a rádio anunciar uma invasão alienígena.
O cinema que retrata a realidade é o documental. Todo o restante trata de uma perspectiva, +/- próxima do real.
"War of the Worlds" era um projecto muito anterior ao 11/9/2001. Era um daqueles que aguardava progresso nos efeitos especiais, agenda do realizador, adapatação do guião ao cinema, etc, etc. (Stanley Kubrick comprou os dtos de autor do AI no início da década de 80, pediu durante 10 anos amostras de crianças robots aos estúdios do george lucas recusando-os a todos... faleceu sem nunca realizar AI). Há muitas coisas por detrás de um filme. Este não foi criado para uma exploração comercial do medo do terrorismo.
O Ray altera-se depois de encontrar Harlan porque este é o retrato da psicose em pessoa. é menos humano do que aqueles trípodes chacinadores.Matá-lo obriga-o a endurecer-se, para não sucumbir à tragédia.
O filho não foge para ver explosões. Foge porque quer combater o inimigo. Porque isso é mais importante do que a família, ou a sua própria vida. é um idealista, precisa de liberdade de escolha.
Qto à filosofia dos germes... é mesmo essa: ninguém lhes dá importância.
Aos olhos dos marcianos a Terra era uma ant farm. A dada altura os humanos reagiram...
Mas a gota de água... essa eles não a observaram. Era demasiado insignificante.
É importante não descurar os pequenos detalhes. A vida é feita deles.
Spielberg é um excelente realizador ainda que não seja o melhor.
At 12:25 da tarde, gonn1000 said…
Fiquei sem saber se só tinha gostado ou se tinha gostado muito, já que tem alguns desequilíbrios, como referiste. De qualquer forma, vale a pena ver, mesmo ficando abaixo de "Minority Report".
At 12:50 da tarde, dinah said…
RSD, no meu décimo segundo ano, uma das obras obrigatórias era uma peça de teatro chamada "O Judeu", de Bernardo Santareno. A peça falava do período da inquisição em portugal e de um dramaturgo português judeu. A peça foi proibida pela censura, pois apesar de diferentes épocas históricas, toda a linguagem, todo o enredo apontava para uma denúncia da ditadura.Com isto quero eu dizer que não é descabida de todo a permissa da crítica original de que o filme era uma espécie de reenactment do 11-set. Mesmo sendo um projecto anterior é plausível que as realidades- e as imagens- do 11-set tenham influênciado a estética e a filosofia deste filme.
Quanto ao filme em si, acho-o desiquilibrado, e apesar de ter sequências muitíssimo belas em termos de, por exemplo, fotografia, tem buracos no argumento imperdoáveis, isto para já não falar no desiquilíbrio da sequência narrativa. Só se pode usar a elipse até um ponto, ou então não é elipse, é buraco no argumento. A sequência melhor do filme é, precisamente, a de Tim Robbins, e essa está irrepreensível. Pena o resto do filme não estar assim.
At 5:47 da tarde, Anónimo said…
rsd, vives na Papua e só falas da bola de cá?
At 5:51 da tarde, Anónimo said…
O final parece um anuncio de um shampô.Só faltou a camara lenta!
Parece um "family movie" americano para ver nos sábados á tarde!Arre!
At 9:52 da tarde, Ricardo said…
mfc,
Obrigado pelo elogio. As fotografias ficaram algo escuras, por isso só aproveitei três...
Abraço,
At 9:54 da tarde, Ricardo said…
C. Índico,
Não percebi o teu primeiro comentário! Tens que decifrá-lo para mim...
O final foi a gota de água num copo que já tinha transbordado há muito...
Abraço,
At 10:03 da tarde, Ricardo said…
rsd,
Não partilho a tua opinião mas, com isto, não quer dizer que a minha seja mais ou menos válida que a tua. Ainda bem que não gostamos todos das mesmas coisas. Ia ser uma chatice.
Eu não disse que o filme, inicialmente, pretendia fazer um paralelo com o terrorismo. Mas a realidade é que a evolução do projecto levou a que isso acontecesse. E, provavelmente, foi um dos maiores erros do filme. Não podemos encaixar estes temas numa pequena parte do filme e esperar que, no fim, saíssem de lá satisfeitos os que encontraram paralelismos com o terrorismo e os que encontraram apenas um filme de ficção científica. Enfim...
Sobre as teorias dos extraterrestres e da sua negligência perante os germes, essa era a parte do entretenimento puro. E até nisso não me pareceu muito eficaz.
Abraço,
At 10:05 da tarde, Ricardo said…
gonn1000,
A título pessoal fiquei sem saber se valeu ou não a pena ter ido ver. Espero que, no futuro, Spielberg volte a entreter-me da forma como fazia tão bem no passado...
Abraço,
At 10:10 da tarde, Ricardo said…
Dinah,
Não vou acrescentar nada até porque o teu comentário só visa discordar do que foi feito pelo Rsd. Genericamente estamos de acordo...
Um beijo,
At 10:14 da tarde, Ricardo said…
Micróbio,
Concordo com o teu ponto de partida mas não com a conclusão. Nada substitui ver um filme no cinema... a magia é outra!
Abraço,
At 11:37 da manhã, Anónimo said…
Ricardo,
definitavamente devo ser cauteloso na Ironia.
Dizia que o Estevão Spillberg abandonou o Estudio, e entregou a feitura do filme ao Jorge Lucas. Isto é, o Lucas aproveitou para mostrar toda a maestria da sua empresa em Efeitos Especiais, em detrimento do argumento.
É um pouco a teoria da conspiração, para a qual tenho um certo pendor....
At 2:03 da tarde, Ricardo said…
C. Índico,
Foi um comentário muito elaborado, por isso não percebi, hehe!
Tens toda a razão, foi a primeira vez que Spielberg rendeu-se à tecnologia digital. O resultado é muito bom mas ele também caíu no monumental erro de negligenciar o argumento. Está a ser moda fazer isso agora e talvez explique a crise de qualidade nas produções de Hollywwod.
Abraço,
Enviar um comentário
<< Home