Filho do 25 de Abril

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sexta-feira, janeiro 27, 2006

757. Sala de Cinema: Jarhead


Jarhead - Sam Mendes

Realizador: Sam Mendes
Elenco: Jake Gyllenhaal, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx, Chris Cooper, Dennis Haysbert

Jarhead é um filme baseado no livro de Anthony Swofford que relata as experiências de um grupo de militares norte americanos na altura da invasão do Iraque ao Kuwait.

Sam Mendes é o realizador deste filme sobre a ansiedade que antecede uma guerra, quer esta aconteça ou não. É um filme bastante diferente das suas anteriores obras porque, desta vez, nota-se que os meios à sua disposição são, não diria maiores, mas duma escala diferente. E é aqui que o filme começa a falhar. O aspecto visual do filme é inatacável e toda a logística que rodeia os soldados é credível. Mas as personagens falham e é aqui que fiquei surpreendido porque do realizador de Road to Perdition e principalmente de American Beauty esperava que pudesse falhar o aspecto visual, a fotografia ou o realismo das situações de guerra mas não que este apresentasse as personagens de forma tão esquematizada e superficial.


Jarhead - Sam Mendes

Não basta anunciar em voz off que estamos a enlouquecer mas também é necessário que o espectador sinta, com realismo, essa loucura. Eu não consegui sentir, durante o filme, que estava perante soldados à beira da loucura e não perante actores! A continuidade nas cenas é desequilibrado com demasiadas colagens de situações que não têm pontos em comum. Parece que se tentou contar um conjunto alargado de pequenas situações e que não se conseguiu atingir um todo equilibrado. Até das actuações esperava mais e fiquei desiludido com Jake Gyllenhaal – que não deixa de ser um actor bastante promissor – e com Jamie Foxx – o vencedor do Óscar para melhor actor no ano passado – e apenas fiquei agradavelmente surpreendido com Peter Sarsgaard – talvez porque no seu último papel, em Flight Plan, tenha ficado com uma péssima impressão dele como actor.


Jarhead - Sam Mendes

A questão política é apenas abordada superficialmente porque o principal é focar a câmara para as situações do dia a dia deste conjunto de soldados na Arábia Saudita. A sua missão inicial é, imagine-se, proteger os poços de petróleo dos “amigos sauditas”. Enquanto avançam em direcção ao Kuwait é visível algumas críticas ao modo como as guerras são feitas e, mais uma vez, o realizador tenta pessoalizar o ser humano, desta vez o que está do outro lado da barricada, o que está carbonizado ou perdeu o seu camelo, mas, novamente, não consegue a intensidade pretendida nessas cenas. Fica, novamente, o magnífico aspecto visual das cenas. Como ponto positivo destaco a inexistência de heroísmos onde todos parecem vítimas de algo superior a eles, onde só há lugar à contemplação, à meditação e à frustração. Depois da guerra fica o vazio, tanto para as personagens como para o espectador.

Quero realçar a excelente banda sonora do filme!

Síntese da opinião: Um filme com um défice de realismo nas personagens não porque estas não tenham existido mas porque não me senti nas suas peles em nenhum momento do filme. Salva-se a fotografia e a banda sonora.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

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6 Comments:

  • At 10:36 da tarde, Blogger A. Cabral said…

    Nao me agradou tanto a fotografia, sobretudo os momentos no deserto pareciam demasiado encenados - os pocos de petroleo a arder e as dunas meio veraneantes.

    A impressao que me ficou do filme foi de um realizador que nao tem uma visao a oferecer sobre a guerra. O filme repetidamente faz referencias a outros - intertextualidade - as cenas iniciais devem muito ao Full Metal Jacket, referencia o Apocalypse Now em pelo menos dois momentos, e continua a percorrer a cinematografia com um episodio feito em torno do Dear Hunter.

    As actuacoes nao comprometem, mas o texto e a visao nao estao la.

     
  • At 10:39 da tarde, Blogger João Fialho said…

    Ainda não fui ver.
    Mas penso ir. Depois falamos ...

     
  • At 10:56 da tarde, Blogger Ricardo said…

    A. abral,

    Não sei se os momentos no deserto são muito realistas na abordagem visual, mas são concerteza visualmente bonitos.

    As referências cinematográficas até podem não estar mal no filme mas ajudam ainda mais a fazer as óbvias comparações. E nem vale a pena comparar...

    Abraço,

     
  • At 12:18 da tarde, Blogger Laranjinha said…

    Também já vi o filme. Concordo que não está à altura de American Beauty.

     
  • At 8:22 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Entre as várias coisas certas que dizes, amigo Ricardo, destaco uma: a excelente banda sonora. Muito boa mesmo...

     
  • At 9:21 da tarde, Blogger Politikus said…

    ?????????
    Mas o que se passou? Maldito blogger. Eu já tinha comentado este post. Mas cá fica outra vez:
    Concordo com quase tudo a excepção é a actriz secundária. Em relação ao filme vencedor é uma obra primam, que relança a discussão sobre a eutanásia...

     

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