863. 10 de Junho
Comemorações do 10 de Junho na Alfândega do Porto
Não tenho qualquer dificuldade em elogiar o discurso do Presidente da República Cavaco Silva na Alfândega do Porto - nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas - da mesma forma que fui crítico do seu muito desinspirado discurso nas comemorações do 25 de Abril. E elogio porque o discurso tocou num ponto fulcral, sobre o qual já escrevi inúmeras vezes, ou seja, que temos que ser todos responsáveis e responsabilizados por tudo o que acontece de bom e mau neste país. Não podemos, pelo menos de forma exclusiva, culpar os políticos em geral pelas dificuldades que estamos a passar e, ao mesmo tempo, divorciarmo-nos dos nossos deveres cívicos mais elementares.
Os exemplos avançados no discurso não são propriamente uma novidade, mesmo neste espaço, mas nunca é demais sublinhar que se há problemas na educação, na saúde, na sinistralidade nas estradas ou nas receitas fiscais estes não são da exclusiva responsabilidade de políticos incompetentes, que afinal são o nosso reflexo e o reflexo da nossa exigência, mas sim de todos nós, porque há muito optamos por apontar aos outros o que não apontamos a um espelho que reflecte as nossas acções. O Portugal que temos hoje, a sua face gloriosa e a sua face decadente, foi o Portugal que todos nós resolvemos criar, com diferentes graus de responsabilidade, é o Portugal que reflecte o nosso comportamento colectivo.
Em consequência desta constatação que, repito, não é nova, é saudável relembrar que o caminho para o nosso progresso - e não me refiro só ao material - está intimamente interligado com o nosso grau de exigência, com a responsabilização cívica e profissional, com o nosso grau de apatia, com a nossa cidadania, com a nossa mentalidade. Não defendo nem nunca defendi a criação de riqueza como um fim em si mesmo e, por isso, como povo, devemos pensar no que queremos para nós duma forma mais global, mais abrangente, e trabalhar afincadamente, sem pretextos que nos ilibem dessa responsabilidade, para alcançar esse objectivo. O que não podemos continuar a fazer é culpar terceiros por aquilo que não conseguimos alcançar principalmente quando nem sequer fazemos um tímido esforço para atingir o que achamos desejável para o país. O discurso que não vale a pena fazer algo da forma correcta porque o nosso vizinho não o faz é outra forma de cumplicidade com o estado da nação. Mas se, por outro lado, estamos satisfeitos com o país que temos então, muito bem, só falta assumir que é "isto" que queremos e que "isto" é da nossa exclusiva responsabilidade.
11 Comments:
At 9:19 da tarde, H. Sousa said…
Creio que terás razão em relação a muitos, mas não a todos. Há quem não o quisesse mas foi vencido...
At 9:35 da tarde, Ricardo said…
Henrique,
O meu objectivo não é fazer generalizações até porque eu refiro no texto que somos colectivamente responsáveis pelo que de bom e mau aconteceu no país que construímos. O que me irrita é a forma como muitos de nós culpam terceiros (e os políticos em primeiro lugar) pela nossa situação quando são os primeiros a não cumprirem os seus deveres cívicos (fiscais, de cidadania, entre outros).
Não estou, com isto, a defender que não haja um elevado grau de exigência em relação aos políticos mas por muito maus que pudessem ser seriam incapazes de ser os exclusivos culpados por tudo o que acontece neste país e que estrangula o seu progresso.
Abraço,
At 11:01 da tarde, Anónimo said…
O Homem, para mim está a disfarçar oportunisticamente, aliás, sempre foi um Disfarção!
Não me fio nele!
E as centenas de milhões de euros roubados da Formação,ele moita. E não houve Formação nenhuma!
Já chegou onde queria a sua pedentice. Devia estar em Belém a fazer jogging no jardim e calado.
No 2º mandato vai tirar a capa "socialdemocratica", não tenhas duvidas. Passa a vida a dizer que apoia o governo, é preciso?
At 11:06 da tarde, Ricardo said…
Carlos,
Como sabes, não nutro especial simpatia - para não ir mais longe - pelo homem por detrás do cargo.
Não vou é deixar de concordar com um diiscurso cujo conteúdo é algo que tenho repetidamente defendido aqui.
Abraço,
At 11:00 da tarde, Pedro Morgado said…
Semdúvida um grande discurso e uma ajudinha para o Governo de Sócrates conseguir levar avante algumas das medidas pouco populares, mas muito necessárias de que o país precisa...
At 11:55 da tarde, Ricardo said…
Pedro,
Fica a dúvida se Cavaco Silva, para além da "cooperação estratégica", também vai saber ou querer contrabalançar a acção do Governo quando esta for muito desequilibrada em alguma das suas vertentes. Não tenho dúvidas que foi um discurso que defendo no conteúdo mas continuo desconfiado se este tipo de acção, em que o PR passou de árbitro a colaborador, é a melhor numa Democracia pluralista.
Abraço,
At 10:11 da manhã, Barão da Tróia II said…
Concordo contigo, o homem não fez um discurso de tirar o folêgo, mas este ve bem, pelo menos não disse a salarvidades que costuma proferir.
At 9:12 da tarde, Fernando said…
eu não consigo elogiar um discurso de Cavaco. Palavras de circunstância. Dizer que todos somos culpados ou responsáveis é uma banalidade inconsequente. Culpar todos é não culpar ninguém. O que quer dizer que ninguém tem culpa ou todos tem. Em tese todos temos "culpas" e "responsabilidades", mas entrar por aí é desculpabilizar quem deve ser responsabilidade. E os responsáveis tem nome. Um bloco central de interesses que nas questões essênciais, têm o mesmo discurso. Esse discurso não pega comigo. Outra coisa é ser "bota-abaixismo" que é outra forma de não encontrar culpados. A tua posição é muito conciliadora, Ricardo, politicamente certinha. Os políticos que nos governaram são os únicos responsáveis. Por acção ou omissão. Porque iludiram ou desiludiram, porque prometeram e enganaram. Cavaco Silva não mudou de orientação política, não mudou o seu pensamento político, as escolhas que fêz para a sua comissão de honra, para o Conselho de Estado, a "recusa à paridade, tudo isto e o mais que virá, não podem ser "suavizadas", com cantares da Grândola, com miltares de Abril, com discursos de inclusão (quando disse que poderíamos ser "invadidos" por imigrantes). Valorizar um discurso, politicamente correcto, não nos deve fazer esquecer o essencial das suas politicas.
At 11:02 da tarde, Anónimo said…
Ricardo, e os Nazis a entrarem com toda a força nos Média....?
At 10:30 da manhã, Rui Martins said…
a decadência de Portugal é tanto maior porque escasseiam (ou não existem de todos) objectivos transcendentes para a nação. Portugal sempre esteve acima de si próprio quando foi confrontado e desafiado para o Impossível, agora, que nos impõe de fora os mesmos objectivos dos bárbaros norteeuropeus, ficamos difusos, deprimidos e cinzentos. Portugal não é o PIB, nem as Exportações, Portugal é o país do século XIII de Agostinho e de Pessoa que tenta sobreviver por debaixo do peso da Globalização e da "tercialização" que lhe impõe a partir de fora e que tanto contranatura é.
At 11:12 da tarde, Anónimo said…
As leituras não são literais. Eu posso dizer : o SNS é uma porcaria, os médicos,etc, os doentes, também e é verdade, ser certeiro, isto é ver a infecção e dizer que é amarela e branca, está a intumescer,etc.
E o tratamento? Esse é que quero ouvir.
Não tenho qualquer duvida que o Presidente vê-se como uma pessoa Particular e não Publica. Aí a grande diferença.E como se vê Particular, vai ter de encobrir os milhares de milhões de euros que derreteu sem resultados na "MODERNIZAÇÃO", na "FORMAÇÃO", etc, entalando o Governo. O seu lema é "Como triunfar na Vida", com 30 anos de atraso em relação ao Capitalismo americano.
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