858. Gastos na Saúde em Portugal
World Health Organization (clique na imagem para ampliar)
O comentário do Hugo Mendes - do blogue Véu da Ignorância - no texto com o tema 856. A despesa da nossa saúde é deveras interessante. O Hugo, entre outras sugestões e opiniões, aconselha - e bem - a analisar as estatísticas antes de opinar sobre se o SNS é caro ou não. O quadro que acima construí dá para fazer uma análise superficial do problema.
1. Apesar de não confirmar alguns dos dados que o Hugo reproduziu o quadro mostra que os gastos em saúde (totais) em percentagem do PIB não é muito elevado em Portugal quando comparado com os outros países que escolhi para a comparação;
2. É surpreendente que, entre estes países, Portugal seja o quarto país que mais gasta em saúde privada em percentagem do PIB e gasta tanto (em percentagem do PIB) como os EUA na saúde pública, país onde a saúde não é universal;
Nota: Se tivermos em conta que o nosso PIB, em valores absolutos e por habitante, é menor do que o dos EUA ainda mais é contrariada a ideia que os gastos públicos em saúde sejam muito altos quanto analisamos o indicador de gastos da saúde públicos em percentagem do PIB
3. De entre estes países só a Espanha gasta menos por habitante (preços em dólares, paridade do poder de compra) em saúde;
4. As estatísticas do número de médicos por 100000 habitantes não parecem confirmar o mito que Portugal tem falta de médicos.
Estes números permitem muitas análises e esta é apenas superficial mas vem demonstrar, como o Hugo referia, que partir para uma discussão com o pressuposto que o nosso sistema de saúde tem gastos exagerados pode ser precipitada. Numa análise comparativa com países de referência ao nível dos gastos a conclusão de que há muito desperdício não é nítida mas falta avaliar a qualidade dos serviços médicos, principalmente os efectuados no sector público. Fica para um dos próximos textos, com mais indicadores para correlacionar.
2 Comments:
At 11:11 da tarde, Politikus said…
Creio que ficamos todos com uma triste ideia do SNS. Pelo dinheiro gasto andamos todos a morrer...
At 12:10 da tarde, João Dias said…
Aquilo que também me preocupa é se discutimos o SNS de saúde de forma séria ou se falamos na despesa no sentido de depois preconizar a privatização como cura para todos os males.(não é dirigido para ninguém pessoalmente)
É preciso desde já dizer algo bem claro, a questão privado e público é importante porque explica a aparência do privado ser melhor gerido do que o público. O privado exerce a sua gestão numa óptica de mercado e de competição, logo tenta reduzir despesas para ter maior lucro, por sua vez o serviço público tem a garantia da contribuição dos impostos logo pode concentrar-se em prestar um bom serviço em vez de se preocupar tanto em reduzir custos.
Além disso para nós a óptica da despesa no público é mesmo a despesa do SNS enquanto nos privados a despesa (na nossa óptica) são os preços praticados pelo mesmos, e aí fica bem claro que não seríamos propriamente bafejados por uma diminuição da despesa.
Mais, parece-me que as pessoas tendem a sobrevalorizar a gestão privada de forma errónea, isto porque a realidade dos privados na saúde é sempre para um "público" muito menor, enquanto o público lida com situações mais problemáticas e com mais gente.
Basta pensar para onde vão quase todos os casos de urgência...
Sobre os números, talvez o mais significativo seja mesmo os gastos em saúde per capita, aí Portugal de facto só gasta mais do que a Espanha. No entanto isto é passível de duas leituras, aqui até podíamos dizer que afinal o dinheiro afinal é bem gerido porque conseguimos que a despesa por indivíduo seja a menor. Por outro lado também podemos justificar alguma insatisfação com o SNS através do nível pouco significativo de investimento quando
abordado a nível individual.
Além disso os números que mais me preocupam são os da evasão fiscal e aqueles que não sendo evasão fiscal exercem projectos lucrativos sem produzir nada de "valor acrescentado" para a sociedade.
Enquanto isso estiver podre como está bem podemos esmifrar e reduzir despesas em sectores vitais para a sociedade que vamos continuar a ter de reduzir ainda mais tal é o fluxo de dinheiro que foge às mãos do Estado, às mãos de toda a gente.
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