Filho do 25 de Abril

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sexta-feira, maio 17, 2013

1187. Being Pedro Passos Coelho


No filme Being John Malkovich (Queres ser John Malkovich?) as personagens conseguem "entrar na mente" do actor. Confesso que gostava de ter a oportunidade de entrar na mente de Pedro Passos Coelho. Gostava de conhecer as motivações (não as vou chamar propositadamente de convicções) que estão por detrás de tudo o que nos está a acontecer.


Gostaria de perceber o homem que representa a primeira geração de jotas no poder, que sempre viveu da política, preparado pelo seu mentor Ângelo Correia para o cargo que ocupa e que se rodeou de amigos que criaram uma rede de conhecimentos de ajuda mútua (sim, refiro-me aos famosos cursos contratados por Miguel Relvas e denunciados por Helena Roseta). Este homem chegou a Primeiro Ministro.

Recuemos às vésperas da queda do Governo Sócrates, que tornou-se de novo notícia do dia quando António Lobo Xavier confirmou ontem que o memorando da troika foi mais desejado por Pedro Passos Coelho do que pelos próprios dirigentes europeus (sem em nada desculpabilizar o PS pelo descrédito que viviamos). Pior, confirma que poderíamos ter tido um programa de ajuda menos formal (“A senhora Merkel não queria este aparato formal de memorandos com regras, promessas, compromissos e tudo medido à lupa”) e, ainda pior, que a troika foi vista por Pedro Passos Coelho como um “instrumento de correcção de um país que eles achavam que estava errado". E aqui é que ainda mais importa entrar na cabeça dum homem que deseja que um país seja corrigido à força, que force a mais liberal das visões do Estado que tenho conhecimento no mundo, que imponha o maior desmantelamento do Estado Social de que há memória. O mesmo homem que escolhe um catedrático que não demonstra o menor pingo de formação humanística para executar a sua visão e que se escuda numa solução extrema de salvação do país junto aos credores (o memorando da Troika). Confirma-se também que muitas das soluções propostas nasceram da vontade deste de as aplicar, não da imposição da Troika.

Estamos em Maio de 2013, o balanço é desolador (na estatistica e na generalidade da vida das pessoas), e continuo a não conseguir entrar na cabeça de Pedro Passos Coelho, continuo a não conseguir perceber o que o motiva, onde quer chegar. Só me parece que lhe repudia o mesmo país que permitiu que homens como ele cheguem a Primeiro Ministro, e que quer criar algo novo das cinzas. O que quer criar é que não sei, até porque não lhe enxergo as convicções que costumam revelar os trilhos que vamos caminhar. Não sei se um dia vou compreender o homem, mas já não lhe consigo dar o benefício da dúvida (e felizmente parece que o CDS também não).

P.S. Mesmo na maior das depressões, vê-se luzes de esperança. Uma agradável surpresa a aprovação da lei da co-adopção, que me parece equilibrada, e que só foi possível graças à convicção de uma minoria e da coragem de uma maioria de dar liberdade de voto às suas bancadas. Um toque humano num país dominado por tecnocratas. Haja esperança.

1 Comments:

  • At 3:41 da tarde, Blogger TB said…

    Foi uma verdadeira surpresa a aprovação da lei em si, ainda maior por ter acontecido com um governo de direita.
    Mas daí a falar de luz de esperança...
    Não só não consigo perceber o que vai na cabeça de P.Passos Coelho, como não consigo vislumbrar nenhuma esperança com ele nem sem ele.....

     

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