Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

sábado, maio 08, 2004

08 de Maio de 2004 (33) – E se o céu é o limite?

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A cidade cresceu, cresceu em direcção ao céu. Nos níveis inferiores concentram-se aqueles que têm tudo para alcançar. Longe do nível do solo, perto do céu, vivem aqueles que tudo conquistaram.

Os pobres tentam alcançar os ricos, procuram as alturas para poderem voar. Os ricos cospem para baixo indiferentes de quem lá habita. Quem não vê, também não sente.

Para afortunados ou desamparados, o limite do desejo é o limite da imaginação. A força de viver é a vontade de ter mais, cada vez mais.

O rico, nostálgico, nada mais tem para alcançar. Domina o conhecimento, matou a curiosidade, já atingiu o céu. O pobre, motivado, tenta melhorar a sua vida, procura a altura que nunca alcançou, tem muitos degraus para subir.

O poderoso deixou de ter objectivos, nada mais há a atingir. Se é rico só pode ser pobre, se é poderoso só pode ser fraco, se alcançou o céu só pode cair. A escalada terminou, o homem morreu. O desafortunado caminha contente na esperança de um dia voar, a esperança invade o seu coração porque se é doente pode ser saudável, se é pobre pode ser rico, se é desamparado pode ficar protegido.

O homem, rico ou pobre, forte ou fraco, desamparado ou protegido, tenta alcançar a perfeição, procura o conhecimento completo, é ambicioso. Uma vez alcançada a perfeição a ambição morre, o espírito murcha, a vida deixa de ter sentido. Felizes os pobres de espírito, a eles pertence o reino dos céus.