Filho do 25 de Abril

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sábado, agosto 14, 2004

(134) Porque é que Sampaio desilude a Esquerda?


O que mudou? Posted by Hello

A esquerda está furiosa com Sampaio! Multiplicam-se comentários sobre que este não foi o Sampaio que elegeram, exponenciam-se afirmações de arrependimento. Afinal será que Sampaio mudou assim tanto? Eu acho que não...

Sampaio tem exercido os seus dois mandatos com base numa coerência a toda a prova. Quem pode refutar isso? Ninguém. Mas desengane-se quem está a pensar que eu estou a fazer um elogio! Vivemos num regime semi-Presidencialista onde a legitimidade do Presidente da República rivaliza com a legitimidade dos deputados eleitos para a Assembleia da República. É certo que o Presidente está progressivamente a ter os seus poderes esvaziados mas a interpretação que Sampaio faz da Constituição está a esvaziar a sua influência.

Será o Presidente da República o garante da estabilidade ou deveria ser o garante do desenvolvimento. Onde acaba a sua intervenção? O estilo dita tudo e é isso que está a irritar a esquerda. O curioso é que só agora está a irritar a esquerda, quando o PSD está no poder, porque Sampaio em nada mudou, infelizmente na minha opinião, na maneira de exercer o seu mandato desde os Governos Guterres. O que irrita a esquerda não é o que me irrita.

Que adianta ter um Presidente da República que não é ouvido nem respeitado? Sampaio multiplica-se em intervenções ocas que não têm nem impacto na Comunicação Social nem nos Governantes. Todos os ignoram, porque é assim que Sampaio interpreta o seu papel, conciliador e sem utilidade. Quando é que o ouvem? Só quando interessa como no vergonhoso caso de Barrancos, que a solução resultou num retrocesso civilizacional. Aí era importante ouvir Sampaio porque ia de encontro às pretensões de Durão. E quando não iam? Ignora-se, que "ele" não faz ondas. O melhor exemplo é a deselegância que Durão disse e reafirmou, em Portugal e no estrangeiro, que havia um acordo para não haver eleições. O que levou Durão a tomar uma atitude tão mesquinha? A certeza que o sentido de Estado de Sampaio faria que ele não respondesse com vigor e impacto. Quem não se faz respeitar, não é respeitado. Já ninguém espera que Sampaio resolva mais esta crise na Justiça, a menos que a solução vá de encontro às pretensões de Santana.

Eu não critico Sampaio por não ter convocado eleições, foi mais uma vez coerente e conhecia o estado da oposição. Mas a única coisa que realmente me surpreendeu foi o discurso que explicava a decisão. As palavras continuidade em áreas que o anterior Governo devastou e ele tanto criticou deixaram-me estupefacto! As Finanças, a Justiça e a Política Externa eram os únicos cavalos de batalha de Sampaio quando criticava o anterior Governo, de repente era necessário continuidade.

Terá Sampaio mudado? Eu acho que, no essencial, não! Coerente até ao fim no seu papel de transformar a nossa Democracia num regime parlamentar. Eu não concordo, acho os seus mandatos fraquíssimos mas não me venham falar em desilusão ou mudança porque Sampaio também foi assim nos Governos de Guterres. Tanta continuidade e estabilidade só interessavam se a Governação não fosse medíocre e se o país estivesse a evoluir. Considero Sampaio um dos grandes responsáveis pelo pântano que este país esteve nos últimos quatro anos e que estará, pelo menos, nos próximos dois. Defendo mais intervenção, mais poderes e mais personalidade ao próximo Presidente da República, Presidente dum verdadeiro Regime Semi-Presidencialista.

1 Comments:

  • At 12:22 da tarde, Blogger Ruvasa said…

    Peço desculpa. Não tinha comentado, porque me tinha passado ao lado.

    As tuas considerações são absolutamente pertinentes. De tal forma que nem sequer as contradigo.

    Cada pessoa é como é e Sampaio é como é. Todos o sabíamos e não há que manifestar estranheza.

    Muito embora não me inclua no campo dos apoiantes de Sampaio, melhor e mais claramente dito, da esquerda, não me custa nada - acho mesmo que é uma obrigação - afirmar aqui que o actual presidente da república me inspira, me inspirou sempre, uma simpatia genuina, pela pessoa que sempre revelou ser. Isto, não obstante reconhecer que circunstâncias há - e mais do que seria talvez admissível - em que me parece não mostrar a firmeza necessária à afirmação das suas convicções. Afirmação que, quantas vezes, necessita de maior "rudeza", mais determinação. Que notoriamete lhe falta.

    Serão características menos positivas, é certo, mas que, quando menos, têm a virtude de não o deixarem escorregar para o lado oposto, o da confrontação pura e dura, estilo Mário Soares do segundo mandato, que considero um desastre total, tanto pelo conflito permanente que provocou, como pela falta de uma linha de coerência, quanto aos interesses gerais, no conjunto dos dois mandatos. Ou seja, cordeirinho no primeiro, por ainda ter pela frente uma segunda eleição, lobo no último. Não gosto das coisas assim, prefiro-as com autenticidade. Sempre. O que é, é. Desgosta-me a ambiguidade.

    E, entre o estilo de Sampaio e o de Soares, prefiro o primeiro, que me parece mais cordato - até politicamente - e menos perigoso para o país.

    Aos nossos defeitos dificilmente escapamos e certamente que Sampaio tanto como qualquer um. Mas entendo que Sampaio nunca se serviu do cargo que ocupa para satisfazer desejos próprios, foi mais abrangente, com todas as virtudes e defeitos que o conceito envolve.

    Sampaio não entrou em Belém para se servir ou servir os seus.

    Dele se pode dizer, talvez, que terá sido o presidente de todos os portugueses ou mesmo o presidente de nenhum português. O que não se dirá, por certo, é que foi o presidente de alguns portugueses ou o presidente de apenas um português, ou seja, ele próprio.

    Dito de outro modo, foi um presidente imparcial. O que, nos tempos que correm e tendo em atenção o texto constitucional, não é pouco.

    Talvez que venha a ser lembrado com maior agrado pelo conjunto dos portugueses do que outras estrelas.

     

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