Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, agosto 09, 2004

(130) A Imprensa cada vez menos livre e cada vez menos rigorosa

"As pessoas passam a vida a confundir com notícias aquilo que lêem nos jornais."
A. J. LIEBLING

Fico preocupado com o estado da chamada Imprensa Livre no contexto actual. Nos EUA há uma onda de opiniões que está a condicionar as críticas à Administração Bush e ao próprio Presidente. Parece que cada vez que um jornal ou Televisão critica a Administração está a cometer um acto de anti-patriotismo imperdoável e inaceitável. A cobertura da guerra e da campanha está a ser muito parcial e selectiva, acusam os Democratas e várias associações de jornalismo. Mas parece ser algo que não está a incomodar a maioria dos Americanos já que sempre que Kerry fala nos seus aliados e em multilateralismo desce nas sondagens, não está mesmo na moda criticar o Presidente nos tempos que correm. A imprensa não existe para satisfazer os critérios da sua população, não deve ser opinativa, apenas deve transmitir os factos. Como explicar que a BBC fale de factos relativos à Administração Bush que o público Americano não tem acesso nem nunca ouviu falar?

"Primeiro apure os factos. Depois, pode distorcê-los à vontade."
MARK TWAIN

Mais uma decisão polémica ocorreu no campo dos media. As emissões da Al-Jazeera foram suspensas por 30 dias no Iraque. A justificação desta suspensão é que esta tenha tempo para "reajustar a sua política em relação ao Iraque". Mais, o ministro do interior diz que esta cadeia mostra "demasiados crimes e criminosos" difundindo assim uma "má imagem do Iraque e dos Iraquianos". Esta linha de argumentação não é coerente, a causa e o efeito estão sujeitas à análise subjectiva do poder político.

"Um editor de jornal é alguém que separa o trigo do joio e imprime o joio."
ADLAI STEVENSON

Mas haverá alguma justificação para esta desconfiança da Imprensa livre? Há. Nada que justifique condicioná-la mas, de facto, a imprensa está deturpando os factos com critérios de mediatismo, patriotismo e orientação política. Um pequeno exemplo de como um jornalista descredibiliza-se é um artigo do Público no Local Porto de hoje. O artigo, em destaque, diz "Mais de dez mil pessoas utilizaram anteontem o metro para chegar ao Estádio do Dragão(...)". Quem só lê esta parte pensa que dos 47104 adeptos que foram ao estádio, mais de 10000 pessoas chegaram lá de metro. Mas o uso das palavras "pessoas" e "chegar" apenas é utilizado para aumentar o impacto da notícia. No corpo do texto é escrito, "Foram registadas anteontem, entre as 19h30 e as 23h30, mais de dez mil validações na Linha Azul(...)". Aparentemente a notícia é a mesma mas as conclusões podem ser bem diversas. Não são 10000 pessoas mas sim validações o que pode indicar viagens de ida e volta. E que circularam na Linha Azul, não que chegaram ao Estádio do Dragão podendo ter partido ou só utilizado o Metro noutros pontos que não no Estádio do Dragão. Será grave ou é só um preciosismo da minha parte? De facto houve um aumento considerável na utilização do Metro, mas o artigo não é rigoroso. Para mim é grave! Eu escrevo num Blog, tento ser rigoroso. Um jornalista não pode tentar, tem de ser! Um pequeno exemplo que não procura justificar o condicionamento da Imprensa, mas para tentar provar que também a Imprensa tem que ser mais rigorosa e neutra.

"O jornalismo moderno tem uma coisa a seu favor: ao oferecer-nos a opiniäo dos deseducados, mantém-nos em dia com a ignorância da comunidade."
OSCAR WILDE

3 Comments:

  • At 2:31 da manhã, Blogger Unknown said…

    De uma forma geral concordo com o teu artigo.
    Infelizmente esqueces a que é provavelmente a maior das manipulações do mundo actual. A manipulação a favor da União Europeia. Manipulação essa transversal a todos os países, mesmo ao Reino Unido que é, mesmo assim, aquele onde ainda se pode respirar um pouco devido à existência de alguns órgãos de comunicação que escapam (por enquanto?) ao controle da mafia integracionista.
    Na Europa uma opinião contra a integração dificilmente aparece num órgão de comunicação social importante, na Europa aldrabam-se eleições, referendos, etc. Tudo em nome da democracia.
    Só que democracia não rima com integração...

     
  • At 9:35 da manhã, Blogger Ruvasa said…

    ««(...) Mais, o ministro do interior diz que esta cadeia mostra "demasiados crimes e criminosos" difundindo assim uma "má imagem do Iraque e dos Iraquianos". Esta linha de argumentação não é coerente, a causa e o efeito estão sujeitas à análise subjectiva do poder político. (...)»»
    * * * * * * *
    É verdade que sim, essa coisa da causa e do efeito, bem como a da análise subjectiva do poder político. Bem, encurtando razões, estamos de acordo.
    Só que... só que... nada é simplesmente branco ou preto, havendo, isso sim, predominância de tonalidades... Vamos deixar-nos cair no buraco em que, na realidade, nos querem fazer cair?
    Dito de outra forma: com maior ou menor eficácia, o poder político é -- vai sendo cada vez mais -- escrutinado. E o tremendo poder manipulador dos "media"? Quem o "define"? Quem elege os seus agentes? Quanto tempo dura cada mandato seu?
    Basta que se assista a dois jornais televisivos, cá do burgo ou da estranja, e não se esteja antolhado, para que de imediato se constate, impotentemente, que o maior e mais determinante poder actualmente existente está nas mãos da Comunicação Social. De um dia para o outro, ela, os seus agentes, "edificam verdades únicas", arrasam reputações, vidas, políticas. Sem o mínimo controlo, sem o mais pífio, sequer "batotado", dos escrutínios. Em larguíssima percentagem mesmo, sem pingo de dignidade, sem ruborização envergonhada que seja, em total desrespeito por direitos alheios. À la Gardère, enfim!

     
  • At 11:14 da manhã, Blogger Unknown said…

    "o maior e mais determinante poder actualmente existente está nas mãos da Comunicação Social"
    Isto é aquilo que se chama meia verdade.
    O poder não está nas mãos da Comunicação Social, está nas mãos de quem possui a Comunicação Social. Isto é, dos grandes grupos capitalistas.
    Apesar de tudo, a existência de órgãos de comunicação social públicos é muito importante pois o poder nestes órgãos pode ser escrutinado pelo público e serve um pouco de travão à ganância dos grupos privados que controlam a Comunicação Social.

     

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