582. Análise parcial da qualidade da Democracia na Madeira
O Público, num artigo escrito por Tolentino de Nóbrega, denunciou uma situação que não constituí nenhuma surpresa para aqueles que conhecem a realidade madeirense. Segundo o artigo (publicado no Sábado), "Jardim deu ordens escritas sobre as notícias que jornal estatizado devia publicar". Estas "ordens escritas" aparecem reproduzidas em conjunto com o artigo.
Como já referi o grau de surpresa é nulo. Já há algum tempo veio referido na imprensa que um antigo director adjunto do Jornal da Madeira denunciou à Alta Autoridade para a Comunicação Social pressões constantes por parte de elementos do Governo Regional. Por várias vezes também foi referido que a Comunicação Social depende do financiamento indirecto do Governo Regional para sobreviver. Há, portanto, vários indícios e declarações que apontam para a possibilidade da Comunicação Social na Madeira estar instrumentalizada e/ou condicionada (e se fosse só a CS...)!
Não há nada do que foi escrito no Público no Sábado e do que eu estou a escrever agora que seja propriamente uma novidade. Mas há uma particularidade na nota escrita ao jornal que é deveras interessante, leia-se, "Vê se publicas esta história dando uma porrada no Ministro da Saúde. Este texto confirma o ódio e o desprezo deste Governo Socialista pelos Madeirenses" (Paulo Pereira, assessor de Jardim, no verso da nota escrita por Jardim). Confirma-se assim uma estratégia de formatação das mentalidades dos madeirenses que devem lutar contra a opressão dum "inimigo externo" que é, neste caso, a sua própria condição de portugueses. Pessoalmente acho que este discurso "oficioso" repetido até à exaustão e defendido por muitos só serve para alimentar um complexo de inferioridade que subconscientemente vai sendo criado em consequência desta forma de pensar. Infelizmente não assisto nos jovens uma mudança significativa de mentalidade...
Há outra questão que tem que ser levantada e que merece uma posição clara por parte dos candidatos à Presidência. Mesmo que uma maioria eleja um Governo que considera estar a fazer um bom trabalho na Região (e isso não vou contestar apesar de duvidar do rigor das contas e da sustentabilidade do desenvolvimento) será que é legítimo que essa maioria abafe as opiniões duma minoria? Sem querer colocar em questão a existência duma Democracia plena na Região (coufgh, coufgh... desculpem-me, foi um ataque de tosse) como podemos tornear as limitações a que estamos sujeitos no dia a dia (limitações essas de difícil prova) impostas por uma maioria democrática? Aceito sugestões...
P.S. Jardim ameaçou não investir nas Câmaras que não sejam PSD. Perante uma chuva de críticas lembrou que nos gastos do Governo Regional manda ele. O pior é que a ameaça é credível e já aconteceu no passado... Novamente aceitam-se sugestões para sair deste ciclo vicioso...
12 Comments:
At 2:54 da tarde, Anónimo said…
Esse homem nunca mais se cala!Só diz disparates e há quem até ache graça.Ainda diz e cito "Jardim ameaçou não investir nas Câmaras que não sejam PSD. Perante uma chuva de críticas lembrou que nos gastos do Governo Regional manda ele". Ainda goza com o dinheiro que cai no seu jardim.Boa semana.
At 4:09 da tarde, Senador said…
O desprezo que os madeirenses têm pelos portugueses do continente é proporcional à necessidade que têm dos nossos impostos, ou seja, enorme. Gostava de ver o que seria a Madeira se fosse apenas mais um micro-estado apenas com fim de paraíso fiscal, que já é em parte.
Vêm no AJJ uma espécie de pai protector que no entanto é um pai ditador. Mas ali a política de ódio e de pão e circo tem resultado às mil maravilhas.
At 7:36 da tarde, Bruno Gouveia Gonçalves said…
Caro senador, gostaria de o convidar a visitar a Madeira. Talvez assim, compreendesse melhor as razões pelas quais os madeirenses gostam de AJJ. Quanto a sentirem desprezo pelos continentais, nunca denotei tal, mas como são 320 000 habitantes, posso estar enganado...
O que os madeirenses vêm em AJJ e os continentais não, é o homem que faz humor com a política. Acho que esta é a razão para uma bipolarização de sentimentos em duas zonas. Todavia, toda a regra tem excepção, e é por isso que o PSD na Madeira não constitui 100% do eleiorado, bem como o índice de popularidade de AJJ não é negativo no continente...
At 2:00 da tarde, Senador said…
Caro BG, cocncordo que quando disse que os madeirenses sentem pelos continentais desprezo posso ter alargado demais o leque, mas relativamente a AJJ quaisquer que sejam as razões que levem os madeirenses a gostar dele não pode haver justificação para os comportamentos por ele protagonizados. A falta de respeito, fairplay, bom senso são por demais evidentes e nem encarando isso como humor se apagam as imagens do seu comportamento reprovável.
At 2:29 da tarde, Ricardo said…
Senador,
Não é verdade que o desprezo que os madeirenses têm pelos continentais tenha uma dimensão significativa. Acredito é que AJJ, com o seu estilo, crie é um ambiente propício a um desprezo significativo no sentido contrário.
BG,
O que não é aceitável é que a maioria tenha o poder para abafar a minoria. Por mais percentagem que tenha AJJ, mesmo que seja 99,9%, os restantes 0,1% continuam a ter o direito a uma imprensa livre, a criticarem o Governo, a terem as mesmas oportunidades de emprego e investimento. Quando isso não acontece o meu balanço só pode ser negativo mesmo que o desenvolvimento continue a existir.
Senador e BG,
Eu já estou a seguir a sugestão de amigos e a desvalorizar as "palhaçadas" que saem da boca de certos políticos. Preocupa-me bastante mais as acções que as palavras... e é neste campo que o regime na Madeira chegou a um ponto preocupante! E para bom entendedor meia palavra basta...
Abraço(s),
At 3:14 da tarde, Bruno Gouveia Gonçalves said…
Caro Ricardo,
Acho que não fui suficientemente explícito no meu comentário, daí que a ideia veiculada não foi a que gostaria. Concordo em absoluto contigo Ricardo, num regime democrático e livre é imperativo o bom senso e um sistema de desenvolvimento justo. Até porque AJJ, afirma que o segredo do desenvolvimento da RAM é o investimento global na ilha, e não apenas centrado em determinadas zonas. E obviamente não posso concordar, com qualquer tipo de pressão política, e censura a órgãos de comunicação social. Isso seria rejeitar o regime democrático em que vivemos!
Um abraço
At 7:50 da tarde, Anónimo said…
soluções? Limitação de mandatos. estranho é que o PS tiveesse cedido às pretensões do PSD nesta matéria e ainda tenhamos que gramar esta malta até 2014. Mais 8 anos, portanto. Estranho também que possa ameaçar numa inauguração qualquer de uma freguesia PS que a a freguesia não receberá apoios financeiros se as oposições ganharem. O Presidente Sampaio e os grandes partidos, como é costume calam-se.
At 11:01 da tarde, Anónimo said…
Um Órgão de Soberania como o Magistério Publico não sabe de nada? E os Ministros da Republica, mal ou bem, são simplesmente uma Existência?
A "Alta A.para a C.Social" não deu por nada?
Isto vai acabar mal, muito mal!,e a culpa é do PSD, do PS, do PR, da AR, da Justiça.
Não estamos preparados,e o povo madeirense vai pagar por não viver uma democracia.
Depois da descolinazação Africana, trágica porque fora do seu Tempo, vem aí uma nova.
At 5:11 da tarde, Pedro F. Ferreira said…
Ricardo, como é que se pode analisar o que não existe? :)
At 2:22 da tarde, Ricardo said…
Charago,
Apesar de concordar com a limitação de mandatos não é só aí que está a solução! É óbvio que não há Democracia sem alternância mas esta, idealmente, não deve ser imposta mas sim natural.
E porque é que não é natural? É melhor irmos analisar as autonomias, seus pontos de popularidade e de desgaste, e pode ser que aí muitos encontrem a chave para a solução deste problema.
Em segundo lugar a Madeira é uma região de Portugal e não pode haver medo em mexer nos estatutos da região. Não há independência na região nem ela é pretendida pelos cidadãos!
Abraço e continuação duma campanha informativa, hehe
At 2:27 da tarde, Ricardo said…
Índico,
Não vamos dramatizar! Há défice democrático, como Soares em tempos defendeu, mas não há nenhuma situação de pré independência. Nem nenhuma situação minimamente parecida com a situação das ex-colónias.
O que existe são situações de presumível abuso de poder constante e de limitação das liberdades individuais. O desafio que eu lancei era como será possível resolver estas questões que são difíceis de provar. E, em segundo lugar, demonstrar a minha indignação por ninguém actuar.
Espero que esteja tudo bem conmtigo, caro blogamigo.
Abraço,
At 6:55 da tarde, Samir Machel said…
Ricardo,
Nao sei se sao assim tao difíceis de provar. Com uma investigacao séria punha-se o jardim fora do poleiro, nem que fosse como o Al Capone, por razoes menores.
Era preciso era vontade, coisa que parece que falta...
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