578. A exigência democrática
No próximo dia 9 de Outubro não vai estar só em jogo a eleição dos orgãos autárquicos. Também vai estar em jogo um sinal dos portugueses para o que realmente exigem da vida democrática.
Eu acredito que a presunção da inocência é um dos pilares do Estado de Direito mas também sei que os titulares de cargos políticos têm a obrigação de promover a transparência junto aos seus eleitores. E nos diversos casos de autarcas a braços com a justiça essa transparência tem sido evitada. Não posso exigir que deixem de ser candidatos à espera duma decisão da justiça e muito menos defendo que vejam os seus direitos limitados mas posso e devo exigir dos meus futuros representantes uma postura cívica de total esclarecimento, dentro do que lhes é permitido pelos tribunais, do que é que realmente se passou:
- Assim a Fátima Felgueiras exigia-se um cabal esclarecimento das contas da Câmara, dos negócios pouco claros e das suas formas de financiamento;
- A Isaltino Morais exigia-se que explicasse a sua real ligação e a proveniência do dinheiro que está colocado numa conta no estrangeiro;
- A Avelino Ferreira Torres exigia-se a explicação dos contornos dos inúmeros casos em que está envolvido desde a construção da sua casa em terrenos protegidos até à sua ligação com o seu ex-braço direito;
- A Valentim Loureiro exigia-se uma clara exposição de todas as transacções com empreiteiros assim como o esclarecimento em relação às ligações entre a política e o futebol.
Não percebi, da parte de nenhum dos candidatos, essa preocupação em explicar aos eleitores que nunca traíram a sua confiança e que empreenderam uma gestão criteriosa dos seus destinos, dentro da legalidade vigente. A partir do momento em que se candidatam perdem o direito a não ter que esclarecer publicamente os seus eleitores sobre estas situações.
Mas não estou preocupado com as suas candidaturas já que são democráticas e estão inseridas na lei. Estou preocupado com a falta de exigência por parte dos eleitores em relação a estes esclarecimentos. Se, de facto, as eleições do próximo dia 9 confirmarem a eleição de algum destes candidatos (ou de todos) o que é que isso diz da nossa exigência democrática e da real preocupação com o país por cima dos interesses regionais (e pessoais porque tudo está interligado com redes de favores pessoais, legais ou ilegais)? Será ou não a prova cabal que temos os políticos que merecemos e que estes não são mais que um reflexo dos próprios portugueses? Costumam dizer que o voto é um exercício de bom senso mas será que o voto nestas pessoas, incapazes de expressar mais do que interesses pessoais e regionais ignorando a responsabilidade de serem transparentes dentro dos limites do segredo de justiça, confirma isso?
6 Comments:
At 3:14 da tarde, Bruno Gouveia Gonçalves said…
"Estou preocupado com a falta de exigência por parte dos eleitores em relação a estes esclarecimentos."
No fundo, é necessário "ensinar" aos cidadãos o verdadeiro sentido da democracia.
At 7:54 da tarde, mfc said…
Não acredito na clarividência do povinho... esses sacripantas serão eleitos!
At 9:44 da tarde, Anónimo said…
Pois é, meu caro amigo! Pela parte que me toca, fartei-me de tanta pouca vergonha, de tanta falta de ética e de leis tão estúoidas e que além disso só são cumpridas na conviniencias das malditas oligarquias, que como carraças se agarraram ao poder. Passe pelo meu sítio e veja o que penso disto tudo. Um abraço deste Velho desiludido.
At 11:10 da tarde, Anónimo said…
Não é preciso ensinar aos eleitores.
Apenas perguntar a nós mesmos que JUSTIÇA temos.
Só o Sr. Silvino está na cadeia.
(risos,pf)
Se Eu não me chamasse FF, estava certamente num calabouço!, ou não?
Querem-me convencer que nunca encontraram o Avelino?
As traduções dos documentos do Isaltino não foram feitas por falta de Verba?
O Valentim tem um cadastro criminal de 35 anos,não é suficiente?
O Povo tem a culpa,é burro?
E agora vão fazer greve!
Sempre estiveram!
E há mais 7 dezenas
At 12:04 da manhã, Pedro F. Ferreira said…
Ricardo, a minha vénia a este post.
At 12:22 da tarde, Anónimo said…
A lei eleitoral não deveria, em minha opinião, permitir a candidatura de fugitivos à justiça, para manter um grau de ética e moral na politica.
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