Filho do 25 de Abril

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sábado, outubro 29, 2005

603. Sala de Cinema: Lord of War



Realizador: Andrew Niccol
Elenco: Nicolas Cage, Jared Leto, Ethan Hawke

Este filme deve ser analisado perante dois pontos de vista.

Como cinéfilo digo que estamos na presença dum filme muito "fraco" e passo a explicar porquê. Porque o argumento é pouco credível, é previsível e tem diálogos muito básicos. Também porque as interpretações são sofríveis e as personagens têm pouca densidade. A questão da credibilidade parece, à primeira vista, importante porque o filme é pretensamente baseado em factos reais mas, como vou explicar mais tarde, esta pode ser uma falsa questão!

Como cidadão do mundo tenho que ver este filme doutra forma. O filme mostra uma face do mundo que ninguém consegue negar que existe. Neste “outro” mundo – que é o mesmo que todos partilhamos – o negócio de armas é um dos mais lucrativos do mundo não só porque enriquece muitos mas porque permite que poucos influenciem o destino de muitos. E nem a ONU fica ilesa neste filme (com toda a justiça, devo dizer). E neste "outro" mundo ninguém escapa à sede por poder e dinheiro, nem mesmo as crianças. E a pretensa ligeireza com que o tema é tratado neste filme só é passível de ser compreendida por ser impossível aceitar o que se passa sem tentar tornar tudo burlesco.



Só juntando os dois pontos de vista é que entendo porque é que o filme não procura ser mais credível nas situações específicas e nos pormenores negociais. O realizador opta por contar a história duma forma enviesada, ou seja, está tudo lá duma forma mais ou menos real porque ninguém duvida que todas estas situações realmente aconteçam. A melhor forma de contar uma história que a todos choca é optar por um certo surrealismo. Por exemplo o que parece ser um evidente erro de casting – Nicolas Cage e Jared Leto como ucranianos – pode ser entendido doutra forma, isto é, os tais “factos reais” têm que ter uma capa de improbabilidade para termos estômago para assistir. Por isso Nicolas Cage não é o “dealer” Yuri Orlov mas todos os Yuris que negociaram armas ao longo de décadas – durante e após a Guerra Fria – e talvez isso explique porque é que durante mais de 20 anos (o horizonte temporal do filme) a personagem não envelhece nem evoluí. Se esta não era a intenção do realizador então peço desculpa por o estar a sobrevalorizar.

Como curiosidade tenho que acrescentar que este filme não conseguiu apoio de nenhum estúdio americano e que acabou por ser produzido por capital não americano.

Síntese da Opinião: Acima de tudo para reflectir e para perceber que o que está em jogo pertence a um campeonato que não conseguimos alcançar. É impossível assistir às "evidências" - com mais ou menos surrealismo e exagero - sem saírmos com uma sensação de pura impotência!

1 Comments:

  • At 7:41 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Há que descobrir um Viagra para esta impotência...

     

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