697. Os Centros de Decisão
Já sei que vou provocar a cólera dos liberais e, ao mesmo tempo, dos socialistas mas a minha opinião não tem obrigatoriamente que caber em nenhuma ideologia.
O caso EDP/Iberdrola, a "dança" de administradores nas empresas privadas com "dedo público" e os recentes anúncios sobre os investimentos prioritários em infraestruturas públicas são o contexto ideal para discutir o sector empresarial em Portugal. Vou fazer umas pequenas considerações sobre o assunto:
1. Há quem critique a "fuga" dos centros de decisão de Portugal e exija uma constante intervenção estatal para evitar essa "fuga"! Sabendo que o nosso sector privado não tem capacidade para "segurar" o capital dessas empresas em Portugal mais não estão a pedir que uma re-nacionalização das empresas. Se assim é porque é que privatizamos as empresas das quais não queremos perder os centros de decisão? Ou o capital vai passar a ser bom ou mau conforme a sua nacionalidade?
2. Qual é a lógica das golden shares? Pretende-se, novamente, manter em Portugal os centros de decisão mas esquecemos que a empresa já não é pública. Se a opção foi privatizar qual é a lógica de proteger com unhas e dentes a empresa de capitais estrangeiros? Quem disse que os empresários portugueses vão fazer algo de diferente em relação aos estrangeiros? Afinal não é a obtenção de lucro o objectivo universal do investidor privado, nacional ou estrangeiro?
3. Andamos com um fervor patriótico e a falar em sectores estratégicos. Só falta introduzir o conceito de segurança nacional. Eu sugiro que se avalie quais são os tais sectores estratégicos e não se privatize as empresas desse sector e as que já estão nas mãos de privados que se faça uma nacionalização. Sempre é mais coerente do que receber as receitas da privatização e querer mandar nas empresas na mesma.
4. Se o Governo quer obrigar as empresas privadas com "dedo público" a financiar e explorar os seus projectos de investimento (OTA, TGV) então, novamente, pergunto para que é que privatizou as empresas? E, já agora, qual é a lógica de mesmo as empresas públicas serem obrigadas a entrar neste negócios?
5. Porque é que sempre que vendemos uma fatia das nossas empresas ao capital estrangeiro obrigamos, mais cedo ou mais tarde, esses investidores a vender ou a não decidir sobre nada e, ao mesmo tempo, obrigamos as nossas empresas públicas ou as privadas com "dedo público" a comprarem a quota que "fugiu" para o exterior?
6. Porque é que os administradores de empresas privadas são nomeados pelo Governo e têm que concordar com todas estas operações que raramente dão lucro?
7. Porque é que o Presidente da República tem que interferir nas decisões dos investidores privados em empresas privadas?
E agora a pergunta dourada: afinal para que é que privatizamos as nossas empresas?
9 Comments:
At 2:32 da manhã, Bruno Gouveia Gonçalves said…
Porque o Estado é por natureza um mau investidor.
Amanhã, faço um comentário à restante parte do post.
Abraço
At 2:40 da manhã, Ricardo said…
Bruno,
Fico a aguardar ;)!
Mas, em jeito de resumo, defendo que ou estamos dispostos a perder os tais centros de decisão e o Estado deixa de fazer todos estes negócios que só prejudicam os privados e as empresas ou estaríamos bem melhor com as empresas nacionalizadas! Este meio termo é que está a matar o nosso já débil sector empresarial (aquele que foi privatizado)!
Abraço,
At 10:17 da manhã, H. Sousa said…
Concordo em absoluto. Essa promiscuidade estado-privado, como eu lhe chamo, devia acabar. Eu só vejo uma explicação: corrupção! Os governantes que vendem, sabendo que se trata de sector estratégico porque o dedo do estado lá fica, recebem luvas e cachecóis. É a única explicação que encontro.
At 11:52 da manhã, Bruno Gouveia Gonçalves said…
Ricardo,
Estava a escrever o comentário mas reparei que estava um pouco extenso. Assim achei melhor fazer um post sobre o tema, de modo a organizar melhor as ideias.
Abraço
At 1:28 da tarde, Politikus said…
Creio q já comentei este assunto no blog do Macaco Adriano. Primeiro não percebo o motivo da Iberdrola não querer lugar na administração da Galp, quando tem direito a ele. Em troca quer contrapartidas na EDP. Segundo o presidente da Republica não pode, nem deve mandar fazer inquéritos sobre empresas privadas ou semi-privadas é inconstitucional...
O Jorge S. borrou as botas...
At 9:46 da tarde, Ricardo said…
TNT,
Estamos de acordo! Pior que as empresas serem públicas ou privadas é esta promíscuidade. Relembro que para obter receitas orçamentais o Estado não se importou de vender as suas empresas, mesmo aquelas que teoricamente nunca podem falir mesmo que não obtenham lucros, mas quer as receitas e quer manter na mesma a influência. Isto parece-me uma política indefensável...
Abraço,
At 9:48 da tarde, Ricardo said…
Polittikus,
A confusão está instalada. Já nem o PR e os candidatos a PR sabem o que podem e devem fazer!
Não conheço o blogue do Macaco Adriano mas que isto parece uma macacada lá isso parece...
Abraço,
At 9:49 da tarde, Ricardo said…
Micróbio,
O único ponto no negócio EDP/Iberdrla que me causa alguma preocupação é a limitação da concorrência. Era mais saudável para a economia portuguesa e espanhola se houvesse concorrência e não fusão ou concertação.
Abraço,
At 7:06 da tarde, Ricardo said…
MigDef,
Nem tudo o que escrevi neste texto é para ser levado à letra! Há partes em que a ironia própria de quem vive num mundo empresarial caricato pode distorcer o entendimento da minha opinião!
Eu não defendi nacionalizações ou privatizações! Apenas digo que mais vale ou privatizar completamente ou nacionalizar do que esta situação actual com o Estado a prejudicar directamente os interesses dos investidores privados e, ao mesmo tempo, o interesse dos cidadãos!
Abraço,
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