840. 1 de Maio
É interessante verificar que, e este é o dia ideal para reflectir sobre isso , os trabalhadores perdem cada vez mais peso em relação aos consumidores. Os - homens -consumidores são cada vez mais exigentes em relação ao que compram e à qualidade do que compram enquanto que os - homens - trabalhadores, à semelhança dos - homens - cidadãos, são cada vez mais apáticos em relação aos seus direitos.
Ao contrário do que possa parecer não tenho nada contra o consumo e ao facto de sermos exigentes com o que compramos - é excelente que assim seja - mas fico espantado que isso não aconteça na mesma proporção em relação à sociedade e aos nossos postos de trabalho. A concorrência - global - tem trazido enormes benefícios a quem consome - na relação preço qualidade - mas não é líquido estar a acontecer o mesmo nos direitos e remunerações de quem trabalha. É o preço do dumping social e da maior exigência nos custos de produção. No limite a concorrência vai tornar o trabalho mais precário e exigente, pago numa proporção mais baixa do que actualmente. Isso não é necessariamente negativo mas tem que haver regulação para que o dumping social não coloque em risco um mínimo de direitos laborais e sociais.
O que é cada vez mais notório é a indiferença com que o homem assiste a esta mudança de foco, ou seja, da prioridade em ter direitos laborais para a prioridade em ter direitos como consumidor. Talvez seja esse o seu, do homem, desejo. O trabalhador, à semelhança do cidadão, é cada vez mais apático. E o peso - ou falta dele - do dia 1 de Maio é o perfeito espelho destas mudanças...
5 Comments:
At 9:56 da tarde, pedro oliveira said…
Parece-me que poderás não estar a colocar a questão da maneira mais correcto.
O problema não é lutar por novos direitos nem manter os que existem.
O problema é que se vê a coisa como emprego / desemprego e não como trabalho / produção.
Bem sei que trabalho e produção são termos marxistas, julgo, no entanto, que tanto os trabalhadores como os patrões têm de assumir cada um o seu papel na cadeia de produção.
Quer um quer outro têm direitos e deveres. Os trabalhadores (vamos chamar-lhe empregados) têm tendência a valorizar a sobrevalorizar os seus direitos. Os patrões (vamos chamar-lhe chefes) têm tendência a valorizar, sobrevalorizar os deveres dos empregados.
Na minha opinião é neste desencontro entre empregados que não produzem e chefes que não lideram nem são pelo seu exemplo factores de motivação para as equipas que chefiam, dizia é neste desencontro que podemos encontrar a causa, talvez, a maior para a produção estar como está.
Dizias, que os empregados não são muito exigentes com as condições laborais, precisamente, porque não colocam (há excepções, claro) todas as suas competências e empenho naquilo que fazem... nas empresas, no trabalho dum modo geral, tende-se a nivelar por baixo.
At 12:21 da tarde, Fernando said…
Há uma palavra de pode definir essa menos preocupação com os direitos sociais: Medo.
Medo do despedimento, de ser deslocado para outro serviço, de fazer um trabalho abaixo das suas competências e capacidades, da pressão psicológica, medo de n progredir na carreira, medo de ser encostado.
Em regra é isso. Eu estava no departamento de vendas, era dos que tinha melhores resultados individuais, recebia os prémios e comissões a que tinha direito, mas não me conformava com sa condições de trabalho, com a falta de eficiência dos serviços, com o mal acompanhamento do pós venda e da minha remuneração fixa. Os meus colegas tb não. Só que eram logo ameaçados "quem não estiver bem saia" e todos se calavam. Um dia, eu disse mesmo, ou me dão um aumento de vencimento, correspondente ao meu desempenho ou eu quero sair. Bem acabei mesmo por vir a receber o aumento de vencimento. Mas quantos ousariam pôr em causa o lugar,( com direto a carro, telemóvel de serviço, disponibilidade de horário etcc...) afrontando o chefe todo poderoso?!!! Não há que ter medo quando se cumpre, quando fazemos o melhor, obtemos resultados. Infelizmente ainda não é essa a mentalidade dos trabalhadores nem dos chefes ou patrões.
At 11:46 da tarde, pedro oliveira said…
Obrigado pelo testemunho, Fernando.
Vai ao encontro daquilo que escrevi, ilustras muito bem uma situação real.
At 1:23 da manhã, AA said…
Caro Ricardo:
Tal deve-se ao facto de não faltar concorrência no mercado de consumo, mas faltar muita ao mercado do emprego.
Digamos que proibiam o consumidor de de mudar de produtos consumidos, e continue-se a analogia...
At 12:00 da manhã, Cleared For Take Off said…
Não deixa o trabalhador de ser um consumidor. Os erros dos anos 20 em que os trabalhadores eram tão pobres que nem podiam comprar o que produziam no capitalismo US deram no que deram
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