(226) Portugal perde direito ao mar: direito à indignação
Hoje o Expresso noticia que o Tratado Constitucional assinado a semana passada retira a Portugal a soberania sobre a sua Zona Económica Exclusiva (ZEE). Quem lê os meus pontos de vista sobre a União Europeia (UE) sabe que não tenho complexos quanto à perda de soberania nacional mas sabe também que exijo que tudo tenha que ter critérios. Neste caso há uma cedência da nossa ZEE sem uma negociação prévia e faseada com a UE nem uma consulta e coordenação com os maiores interessados, isto é, os pescadores e a população em geral.
“Na prática, já é a nossa ex-ZEE. É incrível como o Governo Português deixou passar esta medida sem qualquer contestação. Em Bruxelas ficaram muito surpreendidos por Portugal não se ter oposto.”
João Salgueiro
“Só os recursos vivos marinhos, como os peixes, é que serão considerados património comum da União Europeia.”
Tiago Pitta e Cunha
Esta negociação levada a cabo por Durão Barroso e assinada por Santana Lopes não salvaguarda uma saudável integração de Portugal na UE. É inaceitável que, por mero oportunismo ou incompetência, Durão tenha tomado esta decisão de forma discreta sem enquadrá-la num quadro de compensações faseadas. Esta medida, para alguém que defende como eu um federalismo (calma, também nisto tenho os meus critérios) na Europa, não é um choque per si mas, dado o contexto em que é tomada, é um rude golpe na confiança da população na UE. Novamente os nossos Governantes esquecem-se que uma Democracia Representativa não é assinar uma folha em branco perdendo mais uma oportunidade histórica de dar credibilidade a uma Europa que se quer com voz no mundo, e que devia ser construída com equilíbrio e envolvendo todos neste projecto.
Aproveito para transcrever um pequeno excerto do programa deste Governo em relação ao mar:
"O Mar significou, na História de Portugal, uma condição de liberdade e independência. O Mar deve, também, significar no Portugal de futuro, uma extraordinária oportunidade de criação de riqueza."
Espero que, nas próximas horas, ouça uma explicação cabal do que se está a passar. E é assim que a Europa vai perdendo oportunidades de ouro de ganhar credibilidade junto dos seus cidadãos, muito por culpa de Governantes Nacionais que não têm a coragem de serem claros com a população. Está na hora de sermos mais exigentes com quem nos governa.
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa, in Mensagem
2 Comments:
At 3:20 da tarde, Unknown said…
Esta disposição da Constituição europeia é o culminar de um longo processo em que Portugal tem vindo a perder qualquer tipo de autonomia e soberania no tocante às pescas.
Desafio que alguém me explique o que é que Portugal ganha com a Política Comum de Pescas.
Ainda há menos de um mês enquanto esperava por uma reunião assisti a uma conversa de dois arrais mais uns três técnicos de empresas de pescas sobre o estado da pesca em Portugal. A fúria de todos era evidente, no capítulo da pesca é simples, a Espanha ganha e Portugal perde.
E, se a Constituição europeia entrar em vigor (lagarto, lagarto, lagarto, o diabo seja cego, surdo e mudo) é de encarar a possibilidade de espanhóis, franceses e outros pescarem nos nossos mares enquanto os pescadores portugueses podem ser proibidos de o fazer.
E, é agora que o novo ´Secretário Geral do PS, eleito por voto livre entre os militantes, foge a qualquer debate interno no seu partido sobre a Constituição Europeia e diz que vai arrancar com uma campanha pelo Sim no referendo.
No mínimo não podia promover algum debatesinho interno?
Para acabar nunca é demais insistir, fomos vendidos pelo Durão!
At 11:25 da manhã, Unknown said…
Ainda a proposito de o Secretário Geral do PS ter dito que vai fazer campanha pelo "Sim" no Referendo sobre a Constituição Europeia.
Actualmente ainda se anda a discutir qual é a pergunta, portanto não se sabe o que é que se vai perguntar ao povo português mas o Senhor Secretário Geral já sabe que vai votar "Sim"!
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