(290) Páginas Soltas (11): Como um Rio Invisível, de António Loja
“(...) deve ser o destino dos agnósticos: duvidar das suas próprias dúvidas.”
Para muitos este autor, António Loja de nome, é um completo desconhecido. Para mim representa muito! Tenho que recuar mais do que uma década para (tentar) descrever como este cidadão do mundo influenciou a minha maneira de pensar. Durante três anos o professor António Loja, homem pensante e animal político, ensinou-me história e, mais importante, a reflectir com exigência o mundo. A Madeira tem a particularidade de premiar os carneiros e reprimir as mentes pensantes. Este homem não foi premiado...
António Loja refugiou-se no ensino mas a História era um veículo para um objectivo mais nobre, colocar os alunos a pensar, a desenvolver um espírito crítico e, mais importante, exigente. A vontade de reflectir não pode ter balizas, os valores têm que ser rectos e o espírito livre.
A minha maneira de pensar e reflectir foi influenciada pela educação que tive, pelos pais que tive a sorte de ter. Depois as ideias e valores herdados dessa fase precisavam de ser estruturados. Nada melhor que a própria experiência que a vida nos dá, nada como ser o advogado do diabo (brincar com o contraditório) com amigos e irmão e nada como ter professores que nos marcam, e António Loja foi o principal!
“Para mim, apesar de não estar ligado formalmente ao catolicismo, sou um ferveroso adepto do livre arbítrio e creio que só este representa o triunfo do Homem, pela dignidade que imprime às suas acções e pela responsabiliddae que lhes acrescenta. É que só a liberdade de escolha distingue o Homem dos outros seres vivos. E, já que conquistámos passo a passo e muito penosamente esse lugar no topo da hierarquia da vida, seria lamentável que voltássemos atrás, subordinando a nossa liberdade ao arbítrio e aos caprichos de um qualquer deus.”
Desde que saí da Madeira nunca mais falei com ele mas continuei a acompanhar o seu trajecto. O seu projecto desafiador de nome Re-Nhau-Nhau foi uma das muitas provocações que Loja teve a coragem de lançar a um regime que formata a mentalidade dum povo. Não vou sequer tentar descrever a reacção de quem governa o arquipélago...
“E muitas vezes, ao analisar governantes e governados, no meu país, penso que o espírito inquisitorial persistiu, naqueles e nestes, até hoje.”
“Mas também é bom que não se iluda com o verniz democrático com que os Portugueses poliram os seus comportamentos desde 1974.”
Quando vi um livro deste autor nas livrarias nem pensei duas vezes em comprá-lo. O livro divide-se em duas histórias. A primeira, “Sempre”, parece uma compilação de fragmentos. É uma história de amor carregada de nostalgia e de optimismo. A segunda, “Caminhando sobre um Campo de Minas”, é o regresso do autor à Guerra Colonial. Fala do destino ou do acaso, e como um ou outro são responsáveis pelas perversas ironias da vida!
Obrigado, professor! O Filho do 25 de Abril também é, de alguma forma, resultado da sua forma de encarar a vida...
* As citações e imagens foram retirados da obra “Como um Rio Invisível”, de António Loja
7 Comments:
At 1:39 da manhã, mfc said…
Qualquer professor que se "dê" aos seus alunos, deixa uma marca que perdura!
At 10:09 da manhã, Didas said…
Do professor nunca tinha ouvido.
Da mania de premiar carneiros e reprimir as mentes brilhantes descansa... não é só na madeira.
Oh p'ra mim aqui tão reprimidinha! :-))))
At 11:23 da manhã, armando s. sousa said…
Há sempre um ou outro professor que influencia a nossa visão do mundo. E felizmente que assim é.
Agora a "Didas" já disse mas eu tenho também que afirmar, que Portugal no geral, tem a particularidade de premiar os carneiros, aliás um dos anteriores post's por ti colocados e referentes aos deputados é esclarecedor, sobre esta visão do Professor.
At 7:48 da tarde, Ricardo said…
mfc... a marca que este professor deixou ainda perdura!
At 7:50 da tarde, Ricardo said…
Didas... o título de mente brilhante cai-te que nem uma luva, hehhe
At 7:52 da tarde, Ricardo said…
A.S. ... realmente parece-me que cada vez mais é um fenómeno nacional! Um dia destes rendo-me e torno-me carneiro!
At 7:56 da tarde, Ricardo said…
Micróbio... "Duas histórias com retalhos do real.", também fiquei com essa sensação. Já tiveste oportunidade de ler o livro?
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