(406) Sala de Cinema: Sideways, de Alexander Payne
Sideways é um filme de qualidade. Após About Schmidt, Alexander Payne volta a filmar a América profunda acompanhando, desta vez, dois amigos numa viagem pela Costa da Califórnia. O principal talento deste realizador é, na minha opinião, saber gerir os embaraços das personagens que cria com muita subtileza. Como já acontecia em About Schmidt com Jack Nicholson as personagens não conseguem modificar as suas vidas porque são apenas pessoas normais, leia-se, têm as limitações próprias dum ser humano.
Sem colocar em causa a qualidade do filme confesso que fiquei um pouco espantado pelo frenesi que este filme causou principalmente nos Estados Unidos. Não discuto a qualidade dos diálogos nem tão pouco das interpretações mas fiquei com a nítida sensação que o filme tem algumas fragilidades. O filme parte de personagens bem caracterizadas mas cuja interacção nem sempre parece natural ou compreensível. Por exemplo Miles é uma pessoa completamente inadaptada (Paul Giamatti está a tornar-se especialista neste tipo de personagens) que não consegue ultrapassar as suas inseguranças e, de repente, num dia em que a câmara andava “distraída” a filmar os actores à distância e sem som a relação deste com Virginia Madsen evoluí para um estado de pura felicidade. Parece que Payne não conseguiu interligar convenientemente o Miles "falhado" com um Miles capaz de ser feliz. A própria personagem de Virginia Madsen parece mais uma bengala para descrever Miles do que uma personagem bem construída. O final do filme escapa habilmente a alguns clichés mas cai noutros lugares-comuns.
Alexander Payne é bom, muito bom até, mas acho que ainda está longe de ser excelente. E não se esqueçam de beber um bom copo de vinho em honra a este filme.
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