591. Porque às vezes estou de acordo com Miguel Sousa Tavares
” (...) Quero que os magistrados deixem de mandar na justiça, que os professores deixem de mandar na educação, que os farmacêuticos deixem de mandar no orçamento da saúde, que terminem os privilégios e mordomias dos ‘corpos especiais’ da administração pública, quero que, tirando casos verdadeiramente excepcionais e de senso comum, todos tenham de trabalhar o mesmo número de anos para ganhar a reforma e que se salve o que se conseguir salvar de um sistema de protecção social ameaçado por causas naturais.
Ao contrário do que diz Pacheco Pereira, estas reformas, longamente reclamadas por pessoas como ele, não são populares. É verdade que cada sector, por si próprio, é capaz de discordar da greve do vizinho e da sua contestação a medidas que a maioria reconhece como justas; mas, quando toca a si mesmo, já acha justa a greve e a contestação. Porém, o critério de justiça que as reformas devem ter exige que elas toquem a todos por igual e, simultaneamente, que a todos incomodem, que a todos causem prejuízo efectivo e ponham fim a sagrados ‘direitos adquiridos’. Por isso mesmo é que nenhum governo até hoje – incluindo os tão injustamente afamados ‘governos reformistas’ de Cavaco Silva – se tenha atrevido a tentar mexer no ‘pântano’. Porque o preço a pagar é justamente este: eleições perdidas, autarcas e caciques locais revoltados, aparelhos partidários desmotivados. O bem comum há-de ser sempre o prejuízo dos interesses instalados. (...)”
Miguel Sousa Tavares, Público, 14 Outubro 2005
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