Filho do 25 de Abril

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segunda-feira, outubro 10, 2005

584. Autárquicas 2005

Há uma conclusão prévia que convém sublinhar: Não houve um aumento da abstenção (o valor foi muito parecido ao verificado nas últimas eleições autárquicas - um pouco menos de 40%) e a subida dos votos em branco e nulos foram marginais (mesmo assim houve um aumento de cerca de 0,5 pontos percentuais no conjunto destes votos). Contesto assim a ideia que os políticos estão completamente descredibilizados. Continua a haver interesse pela vida pública! Considero que, mesmo assim, a exigência em relação àqueles que nos representam continua a ser insuficiente nos actos do dia a dia (fora dos actos eleitorais).

Também tenho que referir que os partidos sairam prejudicados com as opções que fizeram ao excluir das suas listas candidatos que, duma forma ou doutra, têm esclarecimentos a efectuar nos tribunais. Mas saem destas eleições com a credibilidade reforçada e, a prazo, vão retirar dividendos disso. Com uma excepção (que não deixa de ser uma excepção importante) todos os outros candidatos obtiveram vitórias expressivas. Continuo a defender que a justiça e a política são campos diferentes e não vou desvalorizar a importância da presunção da inocência mas não deixa de ser interessante o sinal que as populações lançam com estas votações. Veja-se o caso de Fátima Felgueiras que claramente desrespeitou ordens do tribunal e que em vez de esclarecer o que realmente se passou na Câmara resolveu assumir o papel de vítima e, mesmo assim, merece a confiança dos habitantes de Felgueiras. E Valentim Loureiro que está embrulhado em inúmeros casos de duvidosa legalidade (com escutas muito sintomáticas a virem a público) e que, mesmo assim, foi reeleito. Eu já disse o que tinha a dizer e, quem quiser, que tire outras conclusões.

Quanto aos resultados analiso-os da seguinte forma. Há dois partidos que foram vencedores claros: o PSD - que obteve o maior número de Câmaras assim como as mais importantes - e a CDU - que obteve importantes reconquistas e, entre elas, a Junta Metropolitana de Lisboa. Há um partido que sofre uma derrota e não vale a pena ignorá-lo, leia-se, o PS obtém um resultado medíocre. Mas também não vale a pena colocar em causa o Governo porque a natureza das eleições é diferente e porque não houve nenhuma hecatombe (a esquerda teve a maioria dos votos e o PS teve mais que 35% da votação) . O Governo vai ter 4 anos para provar que tem um rumo para o país e o teste do Orçamento é bem mais importante para si do que o resultado destas Autárquicas.

Por fim umas notas:

- Exige-se de João Soares uma longa reflexão sobre a sua vida política;

- Na Madeira a hegemonia laranja voltou a concretizar-se e, uma vez que não há alternância há 30 anos, convém que haja uma reflexão sobre este fenómeno. Ainda por cima tem havido mais evidências (onde já havia indícios) de que algo vai mal no Reino da Dinamarca e de que há um abuso visível em relação às "liberdades" (de imprensa, indidividuais, de oportunidades) e, mesmo assim, nada muda. Para não ser incoerente com o que escrevi nos parágrafos anteriores convém não misturar estas eleições com as regionais (Governo Regional) - apesar de Alberto João Jardim ter-se esquecido disso com as suas polémicas declarações sobre a distribuição de fundos às autarquias - mas, mesmo assim, acho que é necessário reflectir sobre a qualidade da democracia nesta região;

- Por fim quero relembrar a Rui Rio que, de facto, a política e os tribunais são orgãos diferentes e que o Túnel de Ceuta não foi referendado. A vontade popular não pode ser mais forte que as leis da República e do que as decisões dos tribunais.

10 Comments:

  • At 7:23 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    subscrevo genéricamente o teu post. Mas as vitórias de alguns são ilusórias e não correspondem a crescimentos de influência popular. O PSD ganha as maiores Câmaras, aproveitando o desgaste da governação do PS por um lado; pelo arrogância de alguns dos seus candidatos, caso de Carrilho, por fracos candidatos da oposição (Porto) ou porque quem detém o poder normalmente ganha. As pessoas têm medo da mudança. O caso da CDU tem mais visibilidade porque recupera Câmaras que tinha perdido por poucos votos em 2001, mas quase todas aí para a margem Sul, embora também perdendo algumas. De resto não há um crescimento, penso que até pelo contrário, perde votos e mandatos em quase em todo o país, pelo que vi num relançe, localidade a localidade, no Público. Em Viana do Castelo, onde resido, então foi em toda a linha: perda do unico Vereador, perda de uma freguesia urbana emblemática que detém desde o 25 Abril, diminuição em todos os municípios do numero de deputados municipais e de uma série de membros das freguesias, com a excepção de duas em que de facto tem bons presidentes e dos quais um deles sou amigo pessoal. O Bloco em Viana, passou de Zero para Nove eleitos e houve um concelho (Ponte da Barca) que subiu 700% (onde concorreu pela primeira vez e elegeu 2 para a AM e 1 para uma freguesia )relativamente aos reslutados das legislativas de 2005. Pelo que sei isto passou-se em muitos pontos do país. Como se pode extrapolar um objectico não conseguido ( o vereador do Porto)para dizer que o Bloco teve uma derrota, como disseram a maior parte dos nossos comentadores. Desculpa lá o espaço que ocupei, Ricardo, por este desvio partidário, mas tinha que dizer isto, não fosse eu o propagnadista do bloco. eh, eh. Mas apesar disso contava ter melhores resultadosglobais.

     
  • At 9:08 da tarde, Blogger mfc said…

    Mais um post teu que subscrevo na íntegra, só que não referiste a subida autárquica em número de votos por todo o país do Bloco, embora sem reflexos práticos.

     
  • At 2:15 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Charago,

    Desculpa lá a sinceridade mas a tua última frase diz tudo ... "Mas apesar disso contava ter melhores resultados globais."

    A "subida" do BE é tão ténue e conjuntural que coloca visível a falta de bases que este partido ainda tem.

    A força do BE está noutro tipo de eleições e num eleitorado específico. Sem contestar que este partido tem tido uma subida segura está longe de representar uma alternativa segura e implantada o que o retira do arco governativo por ainda muito tempo. Até porque pode-lhe acontecer o mesmo que o PP após experimentar o poder...

    Abraço,

     
  • At 2:16 da tarde, Blogger Ricardo said…

    mfc,

    Não me referi a essa subida porque a expressão do Bloco nas autárquicas era e continua a ser marginal.

    Abraço,

     
  • At 3:39 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ricardo, a Justiça e a política não podem ser coisas distintas, ou pelo menos neste contexto não. Parece-me principio básico que qualquer cidadão a braços com a justiça se deverá retirar da arena política,não está legislado, mas parece-me uma questão de ética.Mas também o povo que elege os candidatos nessa situação é que sabe, cada um terá exactamente aquilo que merece com as escolhas que faz, é a vida.
    Concordo no geral com a tua análise, mas falta acrescentar duas coisas- aquilo que foi o voto de castigo, reflectindo-se nas votações do PSD CDU e BE e a crescente nacionalização do debate autárquico, que não me parece nada benéfico para a vida política no geral e para as regiões em particular.
    :)
    dinah.

     
  • At 8:43 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Realmente o Túnel de Ceuta não foi referendado, mas está embargado porque o Governo fez de Rui Rio um adversário político. Basta ver que num debate sobre o tema o Presidente do IPPAR/Norte propôs 3 soluções, duas rejeitadas pela Câmara e uma aceite. A que foi aceite previa que as barreiras para peões ao longo da saída do túnel fossem em material transparente e que a saída fosse recuada alguns metros, ficando a 80 metros (!!) do Museu Soares dos Reis. Mas depois o IPPAR recuou nesta proposta, dizendo que o Presidente tinha falado a título pessoal!!! Para resolver o imbróglio, basta isto: bom-senso do Governo.

     
  • At 10:22 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ricardo, as eleições foram para três orgãos autárquicos e as análises parecem esquecer isso. quanto às Câmaras, os saldos dão à CDU + 4 (ganhou 7 e perdeu 3 Câmaras); - 4 ao PS (ganha 18 e perde 22); - 2 ao PSD(ganha 15 e perde 17) e CDS (ganha 1 e perde 3) e o BE mantém. A CDU recupera assim 4 das 13 que tinha perdido, com diferenças pequenas de votos. Nas Assembleias Mmunicipais a CDU ganha 15 mandatos ( na prática não ganha tantos porque não estão contabilizados os que perdeu com o fim da coligação em Lisboa com o PS); o PS 109; O PSD perde 15; e o BE ganha 84 mandatos. Nas AF exceptuando o PS que perde mais de 300 autarcas, a CDU, tem + 115 o PSD + 298 e o BE + 182 mandatos.
    Se isto não é um crescimento significativo do BE então... ah e o BE tem 6 anos. O BE até pode não dar nada no futuro o que seria uma pena, porque faz imensa falta uma força deste tipo, embora haja muita coisa a melhorar na acção e nas propostas politicas, mas menorizar o seu crescimento e quase anunciar a sua falência vai uma distância grande. É que agora é politicamente correcto dar "porrada" no Bloco, não sei se tens reparado. Até nas televisões já não foi convidada para os debates, com excepção de Lisboa e Porto. Prometo, não falar mais sobre o Bloco, Ricardo. Para isso tenho o meu próprio espaço. desculpa lá o abuso.

     
  • At 3:02 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Dinah,

    Tens razão quando dizes que é uma questão de ética mas não podemos obrigar as pessoas a terem ética. E não podemos impedir os arguidos de se candidatarem porque senão era muito simples evitar candidaturas. Mas podemos contribuir para que não sejam eleitos e aí é que o sinal dado foi preocupante. De resto estamos de acordo.

    Há, porém, mais um ponto que quero acrescentar a minha opinião. Discordo que as autárquicas estejam cada vez mais nacionalizadas. Obviamente que os secretários gerais só falam de política nacional e é isso que aparece nos telejornais mas fiquei com a sensação (logo algo subjectivo) que os problemas locais é que realmente mobilizaram as pessoas (com as devidas excepções).

    Um beijo,

     
  • At 3:06 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Bravo,

    Parabéns por teres contribuído, democraticamente, para a eleição do "teu" candidato.

    Precisamos de bom senso sem dúvida mas parece que essa não é uma das qualidades de Rio que deve ser dos políticos mais teimosos que conheço. Por isso espero que haja bom senso de ambas as partes (não vale a pena sermos sectários) uma vez que é claro como a água (não a do Douro) que houve falhas dos dois lados.

    Abraço,

     
  • At 3:10 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Charago,

    Não precisas prometer que não falas mais do Bloco. Não há nenhuma razão para não discutir constantemente a qualidade dos partidos e da democracia.

    Não contesto a subida do Bloco mas não vou dar relevo a algo que ainda é marginal, independentemente do ritmo de subida ou do potencial. Desejo uma esquerda moderna e identifico-me com algumas políticas do Bloco. Só não gosto e tenho que ser sincero do discurso, que roça muitas vezes a frase bomba, o populismo das generalizações e os falsos moralismos.

    Perdoa-me a sinceridade e boa sorte na construção de novas formas de esquerda.

    Abraço,

     

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