586. O destaque dado às "desgraças" é saudável?
Os portugueses - é a minha nacionalidade com orgulho mas sem nacionalismos exacerbados - têm o péssimo hábito de criticar tudo e todos - defeito que admito também ter - e, frequentemente, não conseguem - conseguimos - reconhecer que nem tudo corre mal e que nem tudo resume-se ao que aparece na Comunicação Social.
Hoje comprei o Público e inúmeras páginas estão ocupadas com o piloto português preso na Venezuela, com a requisição civil, com as greves, com o caso Joana, com o caso Casa Pia, entre outras notícias nacionais e internacionais, do desporto e da sociedade. Sobre a inauguração da A25 apenas um artigo no caderno local.
E, pergunto eu, porque é que o destaque a esta obra é tão reduzido? É ou não é verdade que, durante anos, a falta de segurança nas estradas portuguesas tem tido um destaque constante? É ou não é verdade que a sinistralidade na IP5 tem sido alvo de forte destaque e, por vezes, até dum voyeurismo inaceitável? E agora que uma importante parte da IP5 é substituída pela A25 (entre Albergaria-a-Velha e Viseu, isto é, 46 quilómetros faltando a ligação até à Guarda que estará pronta no próximo ano) e a segurança desta estrada é bastante reforçada porque é que não há interesse da Comunicação Social em realçar e destacar isso? Que prioridade estranha a do nosso país e dos seus habitantes onde só a "decadência" merece destaque...
E há outro aspecto que urge destacar! O Governo não fez inaugurações durante a campanha eleitoral para as Autárquicas e inaugurou este importante troço da A25 três dias depois das eleições! É um bom hábito e mais um passo para credibilizar a política. A juntar a esta atitude houve, nos últimos meses, uma "moralização" dos privilégios da classe política e alterações nas regras das nomeações e indemnizações e será que só as nomeações de Vara e Gomes merecem destaque? Note-se que não estou a sugerir que não devemos destacar e criticar fortemente as nomeações políticas feitas sem critério! O que sugiro é uma mudança de atitude em relação ao que corre bem neste país...
13 Comments:
At 1:57 da tarde, Anónimo said…
Concordo, mas ao contrário do que se julga o fenómeno não é novo nem exclusivamente português. No entanto, acho que a Comunicação Social pode realmente dar mais destaque ao que de positivo acontece. Mas não depende só da Comunicação Social, depende de todos os que fazem as audiências e as tiragens - isto é, de todos nós.
At 2:28 da tarde, Ricardo said…
Bravo,
Concordo! Nada como falar mal de nós para identificar e resolver este problema, hehehe!
Temos que ignorar os julgamentos feitos à porta dos tribunais e visionar mais notícias construtivas.
Abraço,
At 3:20 da tarde, Senador said…
A comunicação social tem algumas culpas no cartório mas mais do que isso acho que faz parte do espirito do português saber das desgraças dos outros para se contentar com o pensamento "Há outros que estão pior...".
At 3:38 da tarde, armando s. sousa said…
Olá Ricardo,
Concordo contigo, como quase sempre, no entanto, tenho que fazer um acto de contricção porque também estou incluido nessa grande maioria dos portugueses.
Um abraço.
At 4:57 da tarde, mfc said…
Ora aí está uma observação bem oportuna.
Caímos sempre na tentação de dizer mal, esquecendo o que de bom se vai fazendo!
At 8:06 da tarde, Anónimo said…
Porque somos um País de hipócritas,invejosos e mesquinhos.
Dizer mal,vende.
At 11:16 da manhã, Unknown said…
Concordo com o que dizes.
A IP5, e outros itenerários principais, fazem parte da pesada herança do cavaquismo e têm morto muita gente.
A A25 (e outras) vão, como o Sócrates disse, salvar vidas, muitas vidas.
Ora isso não interessa a ninguém, um não-desastre não tem qualquer valor estético ou cénico, infelizmente.
Um abraço
At 10:59 da tarde, Anónimo said…
não fez inaugurações no período de eleições, mas fez antes.Mas isso das inaugurações, antes, durante ou depois nem sequer me preocupa, se o obra está feita. Quanto ao resto a mim apetece-me é dizer mal, quando está mal e há muito para dizer mal, porque muito está mal. E com uma fúria tal com quem nos tem governado há mais de 30 anos, sem conseguir pôr este país mais desenvolvido e mais justo socialmente que não acredito nada nestas "elites". Portanto no tocante a essa gente é sempre não. E apetece-me até retomar um velho slogan do PREC "os ricos que paguem a crise". Já fui bastante mais moderado, Ricardo, mas cada dia que passa, sinto-me mais revoltado, mais "á esquerda" para usar o nome do meu blogue.
At 1:22 da manhã, Ricardo said…
Charago,
Então posso concluir que o teu desejo é que o teu partido nunca chegue ao poder uma vez que nesse caso vais ter que dizer mal.
Eu tenho fases e às vezes apetece-me mandar todos à merda mas eu não posso deixar de acreditar que podemos fazer melhor. Porque sem esperença não há vida. E confesso que, com alguns tropeções, gosto do rumo deste Governo apesar de não saber se este ímpeto vai manter-se ou não. E não o digo por fervor partidário, não tenho ligação com nenhum partido.
Abraço,
At 8:33 da tarde, Anónimo said…
Não, Ricardo não deves concluir isso. Eu estou a falar dos politicos, das politicas e das elites que tem "governado" este país, no Governo ou na gestão pública das serviços do estado.
Passados 30 anos o que vemos? quanto à qualidade dos serviços públicos? aos serviços de saúde e educação? à justiça fiscal ou o acesso à cultura? à melhoria das condições sociais? às perspectivas de futuro dos jovens e o cuidado aos idosos? e o meio ambiente que cuidados mereceu? e o emprego como está? e o aumento das desigualdades sociais? e a miséria social e económica de muitas famílias ?e tantas outras coisas!..
Por isso é que não acredito nesta geração de dirigentes. Claro que este governo já tomou algumas medidas positivas, mas é para isso que lá está. O que é bem feito apenas registo com satisfação, mas não estou à espera para aplaudir. Tudo o que o fizerem está ainda em débito. Quanto ao meu partido, o meu partido é a "esquerda" em geral, com a sua diversidade e quando essa esquerda (que há-de ser a convergência de muitas esquerdas; com um programa socialista)estiver no governo, apoiarei as suas medidas. Neste momento estou no BE porque é para mim quem transporta um projecto em construção de uma esquerda social e abrangente que não se conforma com certas inevitabilidades e conformismos, porque há outros caminhos, socialmente mais justos. Ai se não houvesse quem acreditasse...
At 3:14 da manhã, Ricardo said…
Charago,
A nossa opinião diverge num só ponto ... quem fez com que Portugal seja o que é hoje, de bom e mau, foram os portugueses e não só a classe política. Repito que os políticos são o espelho dos portugueses e da sua exigência. Aparecem do meio dos portugueses e agem da mesma forma que o resto da população. Quem se pode gabar de nunca ter fugido aos impostos, de nunca ter cuspido para o chão, de nunca ter pedido um atestado ou um favor no sector público, de nunca ter pactuado com o laxismo e por aí fora?
Falar sempre mal dos políticos é falar mal dos portgueses e é reduzir as hipóteses de ambos - que são só um, políticos e portugueses - sentirem-se motivados a fazer melhor. Banalizar a crítica e generalizá-la é uma distorção dos factos.
E mesmo que fossem só os políticos os responsáveis por tudo - ilibando empresários, cidadãos, corporações e afins - o Portugal que temos podia ser muito melhor mas não é um desastre!
Abraço,
At 10:59 da manhã, Anónimo said…
ok Ricardo. Eu não banalizo a critica, até já postei sobre isso, titulando "O problema somos nós" (http://spaces.msn.com/members/sucatinha/Blog/cns!1pBikUcmtuRdl2TOBeRWDKsg!1652.entry)
mas não apetece dizer bem desta classe dirigente e também de muitos empresários e corporações (até muitos sindicatos).
Dizeses tu a concluir a resposta " ...mas não é um desastre". É essa "pequena" divergência que faz toda a diferença. É que para mim é um desastre mesmo. Não aceito a desgraça alheia e as injustiças sociais especialmente, quando vejo aí uns novos ricos e chico-espertos a instalarem-se, com toda a desfaçatez. É pois um problema de intensidade, a nossa divergência. Mas eu percebo o teu ponto de vista, Ricardo. Espero que também me percebas.
"Em Portugal, segundo a Unicef, temos mais de 2 milhões de pobres com tendência a subir e mais de 300 mil passam fome. Ao mesmo tempo, temos das maiores taxas de pobreza infantil da europa e ano após anos vem aumentando." São dados que me envergonho.
At 7:35 da tarde, Ricardo said…
Charago,
Tens razão ao enumerar as injustiças sociais existentes e que estas são inaceitáveis. Eu também acho que temos que reforçar o papel social do Estado mas acho que é possível fazê-lo sem gastar mais recursos bastando para isso uma melhor fiscalização de todos aqueles que as recebem de forma ilegal e injusta (acumulação do desemprego com remuneração, baixas fraudulentas, rendimento mínimo e bolsas porque não declaram rendimentos, e por aí fora).
Também concordo contigo quando referes que a evasão fiscal está em patamares elevados por inefeciência do Estado.
Só não defendo que devemos culpar a classe política disso e nesse ponto acho que já chegamos a um consenso mínimo.
Como é óbvio também percebo o teu ponto de vista mas também considero que algumas das críticas que lancei ao Bloco são justas.
Abraço,
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