Filho do 25 de Abril

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sexta-feira, dezembro 02, 2005

642. Pontos de Vista - Madeira: Perspectivas para o futuro



O futuro é sempre o segundo seguinte ao presente e, nesta perspectiva, o que está para acontecer na Madeira depende, em larga medida, do que foi feito até agora. Nos textos anteriores levantei preocupações, exteriorizei angústias e tentei analisar, com o realismo possível, a sociedade madeirense. Não estou particularmente optimista mas não há fatalismos. Não sou nem nunca quero vir a ser um profeta da desgraça.

Logo no primeiro texto levantei sérias preocupações quanto à situação financeira da região. É natural que se tenha instalado, entre os cidadãos da Madeira, um certo medo dum futuro sem Alberto João Jardim porque este parece ser o garante que vamos indefinidamente adiar as rupturas de tesouraria. Eu tenho as mais sérias dúvidas que a bola de neve que tem sido particularmente alimentada nos últimos anos – empréstimos directos e indirectos, concessões dispendiosas – não acabe por ter reflexos na vida na Madeira. Mas não fico paralisado perante esse medo – essa é uma das estratégias do poder instalado – porque sei que quanto mais tarde for a inversão dessa política piores vão ser os efeitos. Até porque o Governo Central, perante a situação orçamental do país, vai inevitavelmente limitar de forma mais ou menos abrupta o financiamento às regiões. Há quem especule que, dentro de uns anos, é o próprio PSD que quer que o PS regional tome conta do poder tal é a situação que vai herdar. Especulação ou conversa de café? Talvez! Mas é algo que está impresso na mente de muitas pessoas e que alimenta ainda mais o “medo” da mudança.

O que mais joga contra a criação de rupturas na sociedade madeirense são os falsos unanimismos, as solidariedades comprometidas e o (tal) medo invisível que a muitos limita. Não sei se esta situação tende a mudar – pelo menos não acredito que mude de forma natural – e é revoltante observar que poucos controlam totalmente o mercado de trabalho, as iniciativas económicas (públicas e privadas), as expropriações, a imprensa, os licenciamentos, e por aí fora. Quem sabe se, ao bom estilo doutros tempos, não é a melhor forma de, numa região periférica como a Madeira, organizar a economia e criar um clima de desenvolvimento. Mas ainda quero acreditar que há valores que não podemos atropelar em nome dum desenvolvimento que nem sabemos se é sustentável. Porque é nas democracias saudáveis que vamos encontrar as formas de recalibrar a toda a hora o modelo de desenvolvimento de forma a que este seja, a prazo, sustentável.

Costumo dizer que se vive bem na Madeira. O clima é muito bom, o mar é o nosso companheiro, a ilha é muito bonita. As pessoas não se enfiam em centros comerciais, têm muitas e boas escolhas de lazer. A gastronomia é excelente e cada vez mais melhora em qualidade e diversidade. Pena é a pouca oferta cultural (iniciativas como a do Festival Internacional de Cinema do Funchal são bem vindas). O turismo é uma aposta ganha e como os madeirenses são cosmopolitas e profissionais há garantias mínimas para que o crescimento no sector do turismo seja sólido (há alguns problemas nesta área mas ficam por enunciar). A Madeira vive rodeada de água e esse é o seu limite natural e só é pena, e digo-o com muita amargura, que criem limites não naturais que, esses sim, tornam a vida numa ilha sufocante.

Ficou muito por analisar e tenho a consciência que duas visões sobre a ilha não são minimamente representativas. Mas fico com a certeza que eu e o Bruno contribuímos para que se olhe com mais realismo para a Madeira já que os preconceitos toldam a clareza necessária para analisar as questões relacionadas com a região. Espero que o Governo da República e o próximo Presidente da República actuem de forma a resolver alguns dos desequilíbrios que ainda existem nos direitos e garantias dos cidadãos e que, acima de tudo, aprofundem a Democracia na Madeira.

Para finalizar esta aventura quero agradecer a todos os que leram os textos e a todos os que acrescentaram algo à discussão. Faço um balanço positivo desta iniciativa e não tenho dúvidas que o todo foi maior que a soma das partes.

Adenda: Este post insere-se numa iniciativa conjunta entre este blogue e o blogue Bodegas. Para consultar o post com o mesmo tema no blogue do Bruno pode clicar aqui!

13 Comments:

  • At 11:22 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Chame, por favor, os bois pelos nomes e nao atire os assunto para um saco roto:

    World AIDS Day – 1 de Dezembro - http://www.worldaidsday.org/about_contracting.asp ‘Currently, the two groups most affected by HIV in the UK are gay men and heterosexual people who have lived in Africa’

    Quem mais sofre de SIDA no Reino Unido:
    1 homossexuais (minoria);
    2 heterossexuais que praticaram sexo (provavelmente, mais que uma vez e aleatoriamente) em África (outra minoria)

    Quem é mais afectado sao duas MINORIAS. Porque? Com certeza porque esas minorias tem especificidades proprias, nao?

    Geram o vírus? Nao.
    Transmitem-no mais entre si?
    É capaz de encontrar uma explicacao? Nao ve um traco comum nestes dois grupos?

    Eu vejo: a promiscuidade.

    E, NOTE, a promiscuidade também existe no grupo MAIOR dos heterossexuais (que nunca tiveram sexo em África) - OBVIAMENTE.

    Olhe para o universo de todos os que 'tem sexo' promiscuamente, em quantidade, aleatoria e indiscriminadamente, no Reino Unido:

    1. HETEROSSEXUAIS no Reino Unido (o grupo ESMAGADORAMENTE maioritário)
    2. Homossexuais no Reino Unido
    3. (Sub-grupo de 1.)Heterossexuais residentes no Reino Unido que tiveram sexo em África (regiao menos 'educada' no bloqueio da transmissao do HIV)

    Destes tres grupos, o 1. é ESMAGADORAMENTE o mais vasto em número. Ou vai dizer que nao é Verdade?

    Como explica, entao, que os outros dois (infinitamente mais pequenos em número) SAO OS MAIS AFECTADOS pelo HIV?!

    Óbvio. FACTOR PROMISCUIDADE é:

    2. Nos homossexuais no Reino Unido - MUITO MAIOR
    3. Nos heterossexuais praticantes em África, residentes no Reino Unido - IGUAL (o factor regiao de alto risco, onde há muito mais contaminados, faz a diferenca) ou MAIOR (lá, em África, é mais fácil 'andar a rodar' parceiros)

    Agora, faca favor, nao se ponha a eliminar argumentos logicamente construídos com o seu chuta-para-fora 'nao se deve criar preconceitos por grupos' porque o Homem é totalmente livre e esclarecido nos seus actos independentemente do grupo em que está inserido 'e viveremos felizes para sempre'.
    (como é típico dum 'filho do 25 de Abril').

    E faca duas coisas:

    Vá a África analisar o grau de promiscuidade.

    Vá a bares/discotecas/clubes GAYS analisar o grau de promiscuidade.

    Na missa, onde especula que vou - por acaso, erradamente, nao me parece que encontrará comportamentos que facilitem a propagacao do HIV...


    Svetlana

     
  • At 11:47 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Viva Svetlana,

    Para contextualizar este comentário refiro que fiz um comentário no blogue "Velho da Montanha" porque não concordo com a visão da Svetlana sobre o problema da SIDA. É até curioso que a Svetlana aproveite informações existentes na ligação que fornece para acrescentar dados que retiram as afirmações do campo neutro.

    O que eu discordo da forma com estas estatísticas - e não estou a contestar a sua validade - são divulgadas é que só servem para alimentar preconceitos mesmo entre os que estão incluídos nos grupos que a Svetlana menciona mas não têm o comportamento padrão que esta dita e a discriminação dos que já estão infectados.

    Parece que estamos a regredir. Há muitos anos atrás falava-se de grupos de risco e depois, e bem, achou-se que a expressão correcta seria comportamentos de risco. Porque, independentemente de 99,9% dum certo grupo poder ou não ter certos comportamentos (que não cabe a nenhum de nós julgar), não é correcto generalizar para os 0,1% essas ideias preconcebidas. Eu dei o exemplo que a Svetlana prontamente desmentiu que se todas as Svetlanas que conheço vão à missa então esta também deve ir. Aqui está um exemplo de onde este pensamento pode levar-nos.

    Ninguém vai perguntar a um(a) eventual parceira(o) se veio ou não de África e, se sim, se teve sexo lá e, se sim, se foi promíscua(o) lá. É excelente revelar as estatísticas porque só se combate esta doença combatendo a desinformação e a ignorância mas não existe na ligação que a Svetlana deu algum tipo de conclusões anexas que apontem para julgamentos morais e isso já não posso dizer do texto que li num comentário ao blogue já referido (O Velho da Montanha).

    Se se quer combater a promíscuidade eu aconselho a que não se faça isso com regras morais nem que se julgue quem voluntariamente não segue os padrões morais decididos sabe-se lá por quem. Aconselho - isso sim - a disponibilizar informações sobre os seus perigos de forma pedagógica ou choque mas não a acrescentar, como acho que a Svetlana fez, julgamentos morais e generalizações sobre locais e grupos de risco (África e homossexuais) que eu achava extinto - como estratégia - há mais de uma década. Fale-se nas formas de prevenção mesmo naqueles que optam por ter uma vida diferente do que a que a Svetlana ou eu decidimos ter.

    O meu lirismo de esquerda, como insinua que tenho, choca de facto com o seu "lá, em África, é mais fácil 'andar a rodar' parceiros"! Tem toda a razão! Nisso somos mesmo completamente diferentes.

    Eu não quero criar um "caso" desta discussão e tenho a certeza que as suas intenções, Svetlana, são as melhores. Por isso os meus cumprimentos porque não há razão, mesmo que discordemos profundamente, que se crie qualquer tipo de inimizade!

     
  • At 12:55 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ficou a tua perspectiva sobre a Região Autónoma da Madeira de uma forma isenta, acho eu, e que servirá de reflexão para o futuro.Bom fim de semana.

     
  • At 1:22 da tarde, Blogger H. Sousa said…

    Gostei muito destes posts, até porque vivi lá muitos anos e gostei de lá estar. E, profissionalmente, tive ensejo de me realizar.
    Faço os mesmos votos que vós no que toca ao aprofundamento da Democracia responsável.

     
  • At 2:03 da tarde, Blogger Unknown said…

    Ricardo,

    Francamente não entendi os comentários da Svetlana e os teus sobre a SIDA neste interessante artigo sobre a Madeira.

    Lá que o Alberto João Jardim pertence a um grupo de risco, lá isso é verdade, mas é um grupo de risco que nada tem a ver nem com a SIDA nem com o sexo, pertence ao grupo de risco da demagogia...

    Quanto ao texto da Svetlana, acho-o chocante e pertence ao conjunto de textos terroristas que se encarregam de nos assustar a torto e a direito, a SIDA, o terrorismo, a gripe das aves, etc., etc.

    Aproveito para referir um artigo que coloquei hoje no meu blog e que tenta chamar a atenção para este problema:
    http://cabalas.blogspot.com/2005/12/dia-mundial-da-luta-contra-sida.html

    Um abraço e desculpa estar a usar os comentários ao teu blog para fazer propaganda do meu...

     
  • At 2:49 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Oica, Ricardo,

    Evite trazer linguagem emocional lamechas para uma discussao objectiva. Esqueca lá o que é que gera inimizades ou nao... Melhor, trate-me como sua inimiga. Do que vejo no funcionar da sua massa cinzenta, nao me interessa nada, antes pelo contrário.

    Fiz-lhe 7 (sete) perguntas. Nao me respondeu a uma. Anda as voltas e mais voltas, num fala-baratismo patológico.

    Se é tao apologista da pedagogia, consulte um pedagogo - bem precisa.

    E se, por acaso, ele lhe der 'negativas' de forma reiterada, dada a sua inabilitacao manifesta, vá dizer-lhe a ele, e nao a mim, que é um retrógrado por julgar negativamente o valor dum ser humano que nao se considera menos que ele.

    ...de facto... dá Deus dentes a quem nao tem nozes...


    Svetlana

     
  • At 4:34 da tarde, Blogger Unknown said…

    Cara Svetlana,

    O teu texto é, como referi, puro terrorismo.

    Além de estar um bocado (um bocado é favor) confuso, está cheio de ideias feitas e de imprecisões.

    As percentagens de seropositivos na Europa e em África não são comparáveis pois a definição de seropositividade difere. Na Europa é uma e em África é outra.

    Quanto á promiscuidade parte do princípio de que os africanos são mais promiscuos do que os europeus o que é uma afirmação não sustentada em factos.
    Li uma vez um estudo feito na África do Sul que concluiu que as sul-africanas brancas têm maior variedade de parceiros sexuais do que as africanas. O que a mim, que já vivi em África, não me admira nada.
    Os europeus (hetero e homo) são provavelmente os povos mais promiscuos do mundo. É aliás a única característica europeia que me agrada. Gosto da promiscuidade sexual...
    A forma como europeus (e povos descendentes de europeus) vivem é chocante para muitos africanos, árabes, chineses, indianos, etc.
    Quanto à promiscuidade na tal missa de que falas... bom, é melhor não entrarmos em pormenores... nunca ouvistes falar de padres pedófilos?
    É que esta história de padres pedófilos, que é apresentada como uma descoberta do Século XXI, é antiga. Eu, que dato de meados do Século XX sempre soube que os padres (com algumas excepções) adoravam miudos e que a homosexualidade nos seminários era muito grande.
    (as excepções devem ser os que gostam de miudas...)

    Termino com um poema de um poeta português do Século XX, António Boto:

    Nunca te foram ao cu
    Nem nas perninhas, aposto!
    Mas um homem como tu,
    Lavadinho , todo nu, gosto!

    Sem ter pentelho nenhum
    com certeza, não desgosto,
    Até gosto!
    Mas... gosto mais de fedelhos.

    Vou-lhes ao cu
    Dou-lhes conselhos,
    Enfim... gosto!

    Um abraço

     
  • At 5:19 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Raio,

    Na mesma linha de mediocridade do Ricardo, voce enrola, enrola, enrola, debita umas patacoadas e quando se cansa de tentar fazer sentido (ou de si mesmo, o que é naturalíssimo) relaxa, faz corta-mato e confessa, no fundo, 'gostar de promiscuidade sexual'. Mas já nao a dos padres pedófilos... Essa nao, que nao fica bem gostar dela.

    É que, vejamos (licao de sarcasmo, aula numero 1), há promiscuidade sexual boa, saudável e recomendada pelas principais marcas de preservativos, e há a má.

    A boa, há que praticá-la ou, pelo menos (nao havendo uma pastilha de Viagra a mao) defende-la. Cohn-Bendit sempre!

    A má é condená-la, expo-la, puni-la (excepto se nada tiver a ver com padres, bons pais de família ou gente de bem em geral).

    Quanto a Sida (ah, é verdade! era disso que se estava a falar nao era?...)...

    Oh! Que raio! A Sida é uma grande 'cabala' montada para a gente nao poder 'levar no cu'...

    (Fim da licao)

    (Sim senhor... belo tasco que voce montou aqui, han - ó Ricardo?...)


    Svetlana

     
  • At 6:54 da tarde, Blogger Unknown said…

    Svetlana,

    "(Sim senhor... belo tasco que voce montou aqui, han - ó Ricardo?...)"

    Quem trouxe o assunto à baila foste tu...

    "confessa, no fundo, 'gostar de promiscuidade sexual"

    Confesso? Confesso porquê? Eu nãqo me envergonho nem dos meus gostos nem dos meus hábitos.

    Lamento não comentar a maior parte do teu texto. Mas confesso, aqui sim, confesso que não o percebi.

    Quanto à SIDA eu não tenho opinião formada sobre o assunto. Limitei-me a colocar dúvidas e linques para artigos que exploram essas dúvidas.
    Quanto à SIDA ser ou não uma cabala, francamente não sei. Mas se o for não é para a gente poder fazer isto ou aquilo, é para vender remédios, preservativos e contratos para proteger os desgraçados acusados de serem portadores do vírus.

    Um abraço,

     
  • At 11:57 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Agostinho,

    Não tenho a pretensão de achar que consigo ser isento, mas tentei. Acima de tudo é preciso começar a discutir as autonomias com mais conteúdo, por detrás de todo o fumo que os discursos inflamados criam.

    Abraço e bom fim de semana,

     
  • At 12:03 da manhã, Blogger Ricardo said…

    TNT,

    Obrigado pelo elogio. Já tinhas referido, em tempos, que estiveste algum tempo na Madeira. Na altura até explicaste as tuas experiências inovadoras lá. Por acaso algo que acho muito positivo e que não tem, na minha opinião, um impacto visual negativo.

    Acho que esta iniciativa correu bem para criar pontes para alguns consensos sobre a Madeira.

    Abraço,

     
  • At 1:01 da tarde, Blogger Fernando said…

    Grande Ricardo! O silêncio é muito eloquente. Acompanhei o debate com muito interesse e acho que valeu mesmo a pena.

     
  • At 9:02 da tarde, Blogger Flávio said…

    Só agora descobri o blogue e os comentários desgraçados da Svetlana sobre sida e homossexuais. Fez-me recordar um chefe político alemão do século XX que acusava os judeus de espalharem o tifo. Judeus, tifo, homossexuais, sida. Mudam-se as doenças, mas a estupidez continua a mesma.

     

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