635. Brumas da memória: Anarquia - Desmistificar o conceito
Quando ouvimos a palavra Anarquia o medo instala-se, o caos está próximo, é o princípio da desordem. Não, somos apenas ignorantes e não sabemos o verdadeiro significado das palavras. Vamos todos aprender.
A Porto Editora, na sua sabedoria infinita e já muito gabada aqui, define Anarquia como uma concepção política que exclui todo o direito de coerção sobre o indivíduo, é a negação do princípio da autoridade. Pois bem, faço destas palavras minhas mas acrescento qualquer coisinha, se me é permitido. Anarquia não é a ausência de ordem, é a ausência de líderes!
Anarquia não é mais do que um estado de ordem voluntário já que a ordem involuntária cria insatisfação, é a mãe de todas as desordens. Portanto não é caos, é o contrário do Fascismo onde o culto ao chefe é o cerne do regime. Daqui para a frente, sempre que uma catástrofe natural acontecer, ou que a juventude vote no Bloco de Esquerda, ou que o Paulo Portas torne-se ministro, não chamar a isso uma Anarquia, mas sim uma perplexidade! Mas quando houver um vazio de poder, um Presidente pouco ouvido ou actuante (qualquer semelhança com qualquer realidade é a mais pura das coincidências) aí sim podemos dizer que há um cheiro de Anarquia no ar, uma ausência de líderes.
Mas também há um aforismo (procurar na entidade, a Porto-Editora) antigo que diz que quanto mais aguda e intransigentemente formulamos uma tese tanto mais irresistívelmente ela clama pela sua antítese. É o seu trabalho, não o meu.
Publicado originalmente em: Maio de 2004
7 Comments:
At 12:46 da manhã, Anónimo said…
Amigo Ricardo,
Uma amiga minha costumava dizer-me que "a anarquia é a suprema forma de organização". Bem verdade, hein?
Continua o excelente blog
Um Abraço
At 2:00 da tarde, Unknown said…
Caro Ricardo,
Respeito muito a minha costela anarquista e choca-me a confusão entre anarquia e desordem ou caos.
Em princípio evoluímos num triângulo equilatero cujos vértices são autoritarismo, caos e anarquia.
Na minha modesta opinião a democracia é o centro desse triângulo, equidistante do autoritarismo da anarquia e do caos.
Uma sociedade democrática tem sempre cheiros de autoritarismo, de anarquia e de caos.
Actualmente o vértice do autoritarismo encontra-se com uma força de gravidade muito grande, demasiado grande...
Um abraço
At 3:16 da tarde, antitripa said…
Anarquia onde?Não queres dar exemplos de anarquia? A maioria dos portuguêses acha que o maior exemplo de anarquia pode ser visto na função pública, infelizmente é essa a imagem que lhes é transitida pela comunicação social. porque estou cansado desta imagem deixo o meu desabafo. Sou funcuionário público e é pena que não se saiba que nós (com muita frequência) fazemos mais 5, 6, 7 horas por semana (porque ficamos a trabalhar até mais tarde de livre e espontânea vontade), afinal a anarquia vista por este prisma traz muitas vantagens porque ninguém nos manda ir para casa à hora certa.Certo?
At 4:35 da tarde, Unknown said…
Meu caro Antripa,
Tens toda a razão. A guerra contra a Função Pública tem por objectivo privatizar o maior número possível de funções de forma a que empresas privadas deitam a mão ao bolo. Isto com prejuízos óbvios para o Estado e para os contribuintes...
Um abraço,
At 12:08 da manhã, Ricardo said…
Max,
Obrigado pelos elogios que estendo ao teu blogue.
Abraço,
At 12:10 da manhã, Ricardo said…
Raio,
Gosto da tua perspectiva sobre a anarquia... é interessante e original!
Abraço,
At 12:14 da manhã, Ricardo said…
antitripa,
Obrigado pela visita.
Sobre a função pública tenho escrito aqui muita coisa e nunca chamei ninguém ou de incompetente ou de laxista. Mas há muitos problema sna função pública que têm que ser combatidos. A desmotivação, a desorganização na gestão, a má distribuição de recursos e pessoas, algumas regalias cumulativas, a ausência do mérito.... e exigir estas reformas não é nem apelar à privatização nem é menorizar quem lá trabalha e muito menos um exercício de comparação com o sector privado.
Abraço,
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