Filho do 25 de Abril

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terça-feira, dezembro 20, 2005

667. Debate: Mário Soares e Cavaco Silva



Cada candidato tinha uma estratégia clara para este debate: Cavaco queria passar a imagem de que é um "homem de trabalho" e que, no meio de tanta desgraça, é a pessoa mais indicada para compreender os problemas. Soares veio com uma estratégia completamente diferente já que pretendia, em primeiro lugar, desmontar o "mito" que se criou à volta de Cavaco. Esta estratégia, à partida, dá vantagem à vítima mas, dado o contexto, era a única estratégia possível de Soares.

Ficou muito claro neste debate o grande defeito dos dois candidatos. Cavaco Silva tem a clara desvantagem de só saber falar de economia e, mesmo nesse campo, é vago. Mário Soares foi eficaz a desmontar o "messias" mas não consegue fazer um discurso pela positiva.

O discurso moralista e pessimista de Cavaco

Se há algo que sempre irritou-me em Cavaco é a forma como "pinta" o futuro. Primeiro denuncia - como Soares fez questão de lembrar que é a sua especialidade - e depois vê se o barro cola à parede. Anuncia desemprego, monstros e desemprego e ganha força sempre que o país está mal. Hoje foi o apogeu do seu discurso de Velho do Restelo quando declarou algo deste género, "mais meio ponto de crescimento pode significar menos uma décima de mortalidade infantil, nem imaginam a alegria dos pais"! Preciso dizer mais?

O "mito" do "messias"

Miguel Cadilhe chamou-o de "pai do monstro" mas Soares resolveu ser mais brando e chamá-lo de "político economista razoável"! Da forma como Cavaco engoliu a água parece que algo ficou entalado mas não contrariado. Depois Cavaco falou de incentivar a produção de produtos que possam concorrer internacionalmente, em investimento e em rigor. Fiquei com a sensação que estava a assistir a um debate para as legislativas...

Pergunta fundamental (1)

E se o Governo não quiser a colaboração do Presidente da República?

Adivinha da noite: quem disse isto?

"A manter esta trajectória onde vamos bater?" ; "Como vamos assegurar o pagamento de pensões?"; "O que diriam os estrangeiros?"

O debate

Hoje não houve uma dupla entrevista mas Soares, por vezes, transformou o debate numa entrevista a Cavaco! Um dos momentos sui generis da noite foi Soares a garantir que Cavaco Silva não é Social Democrata. É verdade que a Social Democracia em Portugal é um equívoco ou que é um equívoco a filiação do PSD no Partido Popular Europeu mas não me parece que fosse um tema importante para este debate. Acredito é que seja um tema interessante para discutir no futuro.

Soares no debate

A postura de Mário Soares no debate foi a de quem está a tentar minimizar o prejuízo. Apesar de ter ideias muito mais bem estruturadas sobre vários temas do que o seu adversário preferiu tentar provocar um erro no adversário. Cavaco ficou incomodado e sem reacção no debate mas não foi ao tapete e só isso já foi uma vitória.

Pergunta fundamental (2)

É melhor que o Presidente da República tenha uma visão para o país ou que seja um bom - ou razoável - técnico?

Conclusão

Fiquei convencido que Cavaco não vai ser um bom Presidente - na onda do que tenho escrito ao longo de meses e, logo, não houve uma real mudança de opinião - mas também acho que os apoiantes de Cavaco ficaram seguros que Soares não vai dar um bom Presidente - apesar de já o ter sido e de ser um claro exagero tentar colar-lhe uma imagem de extremista. Por isso ganha quem vai com vantagem...

3 Comments:

  • At 12:39 da manhã, Blogger VFS said…

    Soares cauterizou Cavaco com estratégias sórdidas. Não o epitetou de "político razoável", como sublinhaste, mas de "economista razoável", inferior, inclusive, a Cadilhe, pelo que esta alteração onomástica corporiza uma potencial ignomínia, quando Cavaco enverga o trajo de conspícuo economista.

     
  • At 1:27 da manhã, Blogger Ricardo said…

    Vítor,

    Tens toda a razão! Eu percebi economista razoável e pretendia escrever o mesmo, mas na composição do texto enganei-me...

    Abraço,

    P.S. Segue a correcção

     
  • At 1:33 da manhã, Blogger VFS said…

    Sempre às ordens, meu caro amigo. Vens à Madeira nos tempos vicinais?
    Um grande abraço.

     

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