823. Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea
White Aphrodisiac Telephone 1936 - Salvador Dali
O acordo entre o madeirense Joe Berardo e o Governo é um verdadeiro alívio! Se uma das mais extensas colecções de arte existentes em Portugal rumasse, por exemplo, para França iria empobrecer, e muito, o nosso património de arte. A criação do Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea no Centro Cultural de Belém (CCB) é, assim, uma boa notícia.
Já tive oportunidade de visitar em vários locais e museus fragmentos da extensa colecção Berardo e fiquei sempre com a sensação que é composta por excelentes quadros mas fico apreensivo com a forma como esta pode vir a ser organizada. Eu explico! Nem sempre uma colecção composta por bons quadros – e isso é indiscutível – consegue gerar um bom museu. A impressão que tenho desta colecção é que nem sempre esta funciona bem de forma contígua dada a dissemelhança entre as obras da colecção. Das três vezes que visitei uma amostra da colecção fiquei sempre com essa sensação. Misturar Salvador Dali, Joan Miró, Pablo Picasso, Francis Bacon, Paula Rego, Andy Warhol, Marcel Duchamp, Yves Klein, Peter Blake, Piet Mondrian, para não citar todos, não vai ser nem uma tarefa fácil nem uma garantia de um resultado final profícuo.
Three Blind Mice - Paula Rego
Quanto ao acordo em si tenho algumas dúvidas. Pelo que percebi esta colecção vai ocupar praticamente todo o espaço de exposição do CCB e, dada a exiguidade de espaços em Lisboa para albergar exposições itinerantes de qualidade (como a exposição da Frida Kahlo), não pode deixar de ser um motivo de preocupação. Se não vivêssemos tempos de aversão à construção de projectos megalómanos eu ia sugerir a construção de um novo museu adaptado às nossas necessidades na exposição e reorganização das obras de arte existentes em Portugal e das que pudessem vir a existir, de forma itinerante ou permanente. Não faz mal, sugiro na mesma! Como dizia tenho algumas dúvidas quanto ao acordo e estas prendem-se ao prazo - dez anos parece-me escasso - e à opção de compra - uma colecção destas, infelizmente, não cabe num orçamento dum país como o nosso para a cultura e não estou a antever nenhum Primeiro ministro a efectuar essa compra – assim como o à impossibilidade do Estado poder colocar entraves à saída da colecção do País se cessar o comodato. Note-se que a “Associação Colecção Berardo pode exigir a restituição se o museu não abrir no prazo previsto (até final de 2006), se os apoios se atrasarem mais de 60 dias ou se houver utilização abusiva ou conservação inadequada das obras” o que, conhecendo o país onde habito, é uma cláusula perigosa. Uma boa notícia do acordo é a constituição de um fundo de aquisição de obras de arte de um milhão de euros por ano.
Como súmula diria que é um acordo que me satisfaz e que pode ser um passo importante para que haja uma verdadeira política de gestão da arte em Portugal. Mas é também uma responsabilidade acrescida para criar meios e objectivos para uma gestão coerente dos nossos museus. Eu acredito que estes investimentos pagam-se a prazo – qualidade de vida, turismo, projecção – mas também sei que a maioria da população é adversa a este tipo de investimentos e temo, com alguma segurança, que daqui a dez anos estejamos exactamente no mesmo desnorte no que toca à política cultural que estamos actualmente.
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