Filho do 25 de Abril

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sábado, abril 08, 2006

824. Espero que a minha avó não tenha ouvido isto...

"É preciso reconhecer o perigo e aceitar que não se pode comunicar com os que se distanciaram de Deus"

"Quando o perigo de perder a fé é latente, é um dever cortar qualquer comunicação com pessoas que tenham se afastado da doutrina católica"

Papa Bento XVI

... ou que, pelo menos, saiba ser mais tolerante do que aquele que, na mais alta instância da Igreja Católica, defende este tipo de luta contra o laicismo, o ateísmo ou o agnosticismo! Será que ninguém tem o bom senso de aconselhar o Papa que este tipo de discurso não tem nada a ver com a própria mensagem de tolerância da religião que este representa?

Este tipo de discurso está a ser cada vez mais utilizado até por políticos (veja-se Bush ou Berlusconi) para explicar a falta de "moral" do nosso mundo actual. Eu também acho que há problemas com os valores das nossas sociedades mas não acho que a solução esteja nas religiões que estão desadequadas aos tempos. Ninguém consegue garantir que, por exemplo, um católico seja mais humano ou que defenda valores mais nobres do que, por exemplo, um agnóstico. Considero que a sociedade vive uma encruzilhada porque não aposta no conhecimento ou nos sentimentos mas isso não tem que estar ligado à cisão entre pessoas e religiões (pelo menos das mais tradicionais) até porque a história ensina-nos que não há correlação entre o grau de "religiosidade" e a tolerância das sociedades. A nossa consciência não tem, necessariamente, que estar ligada às nossas crenças religiosas e nem a perdemos se não tivermos fé nem a reforçamos se tivermos fé.

Eu sou agnóstico! Não nego a existência de um ser superior nem sei qual é o sentido da vida mas, mesmo sendo agnóstico, não perdi nem a minha humanidade nem sou uma pessoa destituída de consciência. Por isso não se preocupem nem se sintam em perigo, podem continuar a comunicar comigo...

Fonte: Diário Online

8 Comments:

  • At 8:40 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Em 1º lugar, queria saudar o facto de não te teres afastado, como tinhas anunciado.

    Em 2º lugar, relativamente ao teu artigo:
    Concordo completamente contigo. Acredito numa entidade superior, mas não na Igreja (pois esta é dos homens, que tudo deturpam). Com estas declarações do Papa, constatamos mais uma vez o carácter obscurantista e intolerante que tem marcado, infelizmente, esta Instituição, ao longo da sua história.
    Eu frequentei o ensino primário num colégio de freiras e, embora a instrução fosse muito boa, nunca pude esquecer um episódio : o colégio tinha uma igreja, na qual, naturalmente, rezávamos. Em lugar de destaque, estava uma réplica da santa padroeira do colégio, como morta, deitada num caixão. Quando eu questionava as freiras sobre aquilo,argumentando que era uma réplica, diziam-me sempre que era a própria santa e que estava assim conservada pela sua santidade.
    Cheguei a ser castigada, inclusivamente, por tão blasfemas suposições. Por isso, zanguei-me com a Igreja e afastei-me dela. Não preciso de intermediários para falar com Deus.

    Até à próxima

     
  • At 11:01 da tarde, Blogger Bruno Gouveia Gonçalves said…

    Eu tenho algum receio em comentar declarações, que se resumem a duas frases desprovidas de um contexto. Desta forma, espero que a mensagem não seja aquela que à primeira vista aparenta.

    "Eu também acho que há problemas com os valores das nossas sociedades mas não acho que as solução esteja nas religiões que estão desadequadas aos tempos"

    Depreendo que consideras a religão católica desadequada ao nosso tempo...

    "um católico seja mais humano ou que defenda valores mais nobres do que, por exemplo, um agnóstico."

    Obviamente que não. Porém, um católico encara esse trabalho como uma responsabilidade e agradecimento ao criador. Além disso, não faz sentido falar em "cometição" nesse aspecto, dado que isso seria desvirtuar um ensinamento cristão.

    "não há correlação entre o grau de "religiosidade" e a tolerância das sociedades."

    Nem nunca pode haver. Tudo depende do que se entende como religiosidade e a maneira como é entendida.

    "A nossa consciência não tem, necessariamente, que estar ligada às nossas crenças religiosas e nem a perdemos se não tivermos fé nem a reforçamos se tivermos fé."

    Concordo em parte. Creio que a fé é um instrumento que reforça a nossa consciência, pelo simples facto de permitir uma melhor compreensão da nossa condição.

    "Por isso não se preocupem nem se sintam em perigo, podem continuar a comunicar comigo..."

    Não te preocupes. Por enquanto ainda não tenho receio de falar contigo. Além disso, como seria possível tentar esclarecer dúvidas sobre a Igreja, e empreender algum apostolado sem comunicação?

    Não esquecer o ensinamento:

    "Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os doentes. Não vim chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento" (Lucas 5:31-32).

     
  • At 11:30 da tarde, Blogger Ricardo said…

    raintreecrow,

    Antes de mais obrigado pelos comentários que tens espalhado pelo blogue.

    Quanto ao teu comentário:

    1. O que eu escrevi no último texto, e repito, é que não posso manter este blogue com a frequência que mantive nos últimos quase 2 anos. Escrevi sempre diariamente e, por vezes, publiquei mais do que um texto por dia. Isso, infelizmente, já não é possível.

    2. A fé, e foi isso que sublinhei, não tem que ter uma forma definida e, muito menos, devemos criticar quem não a tem. A tolerância funciona nos dois sentidos, ou seja, de quem tem para quem não tem e vice versa.

    Até à próxima,

     
  • At 11:45 da tarde, Blogger Ricardo said…

    Bruno,

    As declarações são o mote para o comentário que fiz mas, se reparares, não invalidam as conclusões mesmo que estejam retiradas do contexto. No fundo o texto pretende criticar todas as formas de combate retrogrado ao laicismo, ou seja, acho natural criticar-se o laicismo no campo das convicções e das ideias mas não com base na intolerância.

    Posto isto diria o seguinte, concretizando, mesmo que o Papa não tenha proferido as palavras ou estas estejam descontextualizadas isso não afecta a minha percepção sobre como a tolerância deve ser praticada e, sobretudo, que não deve haver laivos de superioridade moral por quem tem fé em relação aos que não têm. E sublinho que não se trata de comparar mas sim de assumir com igualdade que, à partida, é indiferente ter fé ou não quando se julgam os valores de cada um ou, dito de outra forma, o que importa é a nossa consciência e humanidade.

    Por isso, do teu comentário, só discordo com convicção destes trechos:

    "Porém, um católico encara esse trabalho como uma responsabilidade e agradecimento ao criador" - a responsabilidade é global por sermos seres munidos de inteligência e ninguém tem mais ou menos responsabilidade em ser humano.

    "Creio que a fé é um instrumento que reforça a nossa consciência, pelo simples facto de permitir uma melhor compreensão da nossa condição" - nesta frase está contido exactamente o que critiquei no texto. Pensar que, por ter fé, tem uma melhor compreensão da nossa condição é uma falácia. Quer dizer que eu sou agnóstico e não compreendo a minha condição como homem tão bem como um católico, que não reflicto de forma intensa sobre a minha mortalidade e imortalidade, que não tento alcançar um sentido para a vida, que a minha consciência não está tão reforçada? Discordo violentamente desta afirmação.

    No resto sublinho a tua tolerância. Mas isso não é novidade para mim.

    Abraço,

     
  • At 12:10 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Então reparaste que tenho escrito. Ainda bem, fico contente.

    Queria dizer-te que sou tolerante para com aqueles que têm fé; não penses o contrário. A minha intolerância é mais com o poder, com as hierarquias religiosas, que, muitas vezes, se aproveitam da fé genuína e da delicadeza de alma de pessoas simples.

     
  • At 4:28 da tarde, Blogger Bruno Gouveia Gonçalves said…

    Ricardo,

    "a responsabilidade é global por sermos seres munidos de inteligência e ninguém tem mais ou menos responsabilidade em ser humano."

    Eu não invalido isso. Apenas complemento com a responsabilidade que advém de termos sido criados. Parece-me que noto em ti, uma ligeira aversão quando escrevo algo que aparenta que um católico possui uma quantidade maior de qualidades que um ateu ou agnóstico. Longe disso! O que quero dizer é que enquanto para alguns a razão e a consciência poderão ser os meios mais utilizados para se aperceberem da sua condição humana e a responsabilidade que possui na sua existênca, no caso de uma pessoa que acredita em Deus, parte dessa reflexão pode advir tanto da fé, como da consciência e da razão. Não é pelo facto de existirem mais formas de se aperceber disso, que essa forma será melhor e mais perfeita. Tudo depende de cada um de nós!

    "Pensar que, por ter fé, tem uma melhor compreensão da nossa condição é uma falácia. Quer dizer que eu sou agnóstico e não compreendo a minha condição como homem tão bem como um católico,(...)"

    Nâo era isso que queria dizer. Apenas quis referir que para os católicos a fé é um instrumento em que nos podemos sustentar para tentar compreender a nossa condição. Não estou a referir que é um meio mais evoluído, ou único para isso! É óbvio que todos nós, crentes ou nao crentes, reflectimos sobre a existência e a finalidade do Homem. Essa reflexão não é melhor ou pior, mais fraca ou mais evoluída entre as pessoas. Apenas pessoal. Se para mim, essa reflexão dá-se por e através da fé, é algo que não posso alterar. Se a tua reflexão passa pela dúvida de uma entidade superior, ou outros meios, perfeito!

    A Religião Católica é muitas vezes vista como um conjunto de dogmas intocáveis, a que um grupo de pessoas aderiu pois crê que aí estão contidos os valores morais supremos. É verdade que existem ensinamentos de doutrina moral, mas a doutrina católica ensina que todos nós fomos constituídos com razão e com inteligência. Não é pecado questionar, não compreender, interrogar-se. É necessário perceber que apenas existe uma verdade absoluta na Igreja - Deus.

    Não é por não concordar com algo que é dito por um bispo, que estou a me afastar da doutrina católica. Porém, procuro informar-me mais sobre o tema e encontrar o ponto em que discordamos. Um exemplo que conheces bem, foi o meu "pequeno atrito" com o artigo de opinião do Arcebispo de Viena em relação à posição da Igreja sobre a Teoria de Darwin. Porém, que eu saiba, ainda não foi interposto nenhum processo de excomunhão... :)

    Grande abraço

     
  • At 7:40 da tarde, Blogger Unknown said…

    Caro ricardo,

    Escrevestes:

    "a história ensina-nos que não há correlação entre o grau de "religiosidade" e a tolerância das sociedades"

    Discordo! A História ensina-nos exactamente o contrário, ensina-nos que há uma correlação 8negativa) entre a religiosidade e a tolerância de uma sociedade, isto é, quanto maior a religiosidade menor a tolerãncia.
    Actualmente isto vê-se nalgumas sociedades islâmicas tão bem como dantes se via nas cristãs.
    Aliás, foi a extrema intolerância de muitas sociedades cristãs que acabou por provocar fortes movimentos que acabaram por retirar o poder àss elites religiosas que dirigiam essas sociedades.

    Um abraço

     
  • At 11:04 da tarde, Blogger Alien David Sousa said…

    Ricardo, eu canso-me de estar sempre a dizer o mesmo. Canso-me a mim mesma e aos outros Terrestres.
    A Igreja católica é o reflexo dos homens que por lá passaram.
    Claro que esta Igreja, não é aquela que Jesus Cristo queria. Não que eu tenha falado com ele, mas vi o filme do Mel Gibson. Fora de brincadeiras, esta não é a igreja que Jesus queria e se este algum dia nos decidir visitar ( não como as visitas que a filha do Raul de solnado diz ter), ele terá de resolver muita coisa.
    Poderia inumerar tantas coisas contra as quais ele lutou e agora a "sua" igreja abraça.
    A adoração de figuras, ele era contra.
    O luxo, ele era contra.
    Seitas ele era contra...enfim...
    A igreja católica só vai começar a pensar quando verificar que os fieis já eram....POUF!

     

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