865. A Selecção e Timor
Penso que é proibido, pela FIFA, qualquer manifestação política por parte das federações ou dos espectadores em eventos desportivos. Apesar disso, hoje, os jogadores da selecção Ricardo Carvalho e Jorge Andrade, provavelmente por decisão do grupo de jogadores e técnicos ou dos dirigentes da federação portuguesa de futebol, manifestaram o seu apoio à República Democrática de Timor Leste durante a conferência de imprensa. Acho que as regras da FIFA devem ser respeitadas e, apesar de não ser um incidente grave, concordo que não haja qualquer tipo de posições políticas por parte das selecções nacionais.
Mais grave, na minha opinião, é mandar uma mensagem para a população de Timor, por parte da selecção portuguesa, em tétum. Ou muito me engano ou tanto o português como o tétum têm o estatuto de línguas oficiais da República Democrática de Timor Leste e não compreendo porque é que a nossa selecção adoptou o tétum para mandar uma mensagem de apoio aos timorenses. Não quero, com isto, lançar uma mensagem colonialista ou nacionalista porque não sofro desses "males" - tenho orgulho na nação e vejo os nacionalismos como um instrumento de auto estima e de preservação da cultura dum povo e não como uma manifestação de superioridade ou posse - mas não compreendo porque é que a selecção portuguesa, perante a possibilidade de escolher entre duas línguas oficiais de Timor Leste, não escolhe a língua comum entre os dois povos.
Uma selecção não representa um país para além da modalidade em que está a competir. Os símbolos que utiliza - o hino, a bandeira, a língua - não são mais do que um elemento de identificação do país que está a competir. Por isso os jogadores duma selecção devem representar o país exclusivamente dentro de campo, ou seja, a jogar futebol. As manifestações de solidariedade (mesmo em casos de catástrofe natural) em relação a um país - que são sempre políticas, quer se queira quer não - devem ser evitadas. Não quero dar demasiada importância quer à manifestação de solidariedade quer ao "lapso" da língua escolhida para a veicular mas serei um homem muito mais feliz quando a selecção limitar a sua representação do país ao futebol, algo que tem feito com excelência nos últimos anos.
4 Comments:
At 1:47 da tarde, Barão da Tróia II said…
Concordo em absoluto contigo. Mais valeria que se tivessem quedado quietos.
At 10:53 da tarde, Nuno Guronsan said…
Acho que a situação em Timor é demasiado complicada para que entidades como jogadores de futebol (cujas responsabilidades políticas são nulas) se imiscuam nessa problemática, mesmo que com boas intenções. Se há uma boa razão para não misturar política com desporto, basta recordar os Jogos Olímpicos de Munique, com as trágicas consequências que se conhecem.
Parabéns, Ricardo, pelo timing e pelos comentários acertados.
At 7:50 da tarde, Pedro Morgado said…
Totalmente de acordo, Ricardo.
Também alertei para este facto no meu pasquim.
Abraço
At 10:18 da tarde, CORCUNDA said…
Por muito que se queira é extremamente difícil se não impossível dissociar o futebol da politica, até porque na maior parte dos casos o fenómeno desportivo tem em certos aspectos mais impacto e notabilidade do que qualquer outra actividade. Os casos são muitos, mas talvez um dos mais flagarantes seja o da Argentina/Inglaterra, devido à guerra das Maldivas, em que mais de 20 anos depois as conotações e conexões futebol/política são mais que evidentes. Muitos outros casos existem, mesmo a nivel religioso.
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