925. O Politicamente Correcto
Li na imprensa que John Kerry tinha cometido uma "gaffe" e que foi "expulso" da campanha democrata para o congresso. A notícia, per si, não me causou nenhum engulho. Nunca fui admirador confesso de Kerry apesar de achar que seria um melhor Presidente dos EUA (pelo menos para o mundo) do que o actual.
Fui ler o artigo para ver o que o ex-candidato à Presidência poderia ter dito de tão grave. Reproduzo de seguida as declarações prestadas durante um encontro com estudantes da Universidade da Califórnia.
“Sabem, se aproveitarem a Educação, se estudarem muito, se fizerem os trabalhos de casa e um esforço para se saírem bem, então irão longe. Caso contrário, acabarão 'presos no Iraque'"
Podemos acusar John Kerry de ter sido "inconveniente" mas será que proferiu alguma mentira? Será que o Congresso, e a população norte americana, desconhecem a população alvo do recrutamento? Será demagógico afirmar que o recrutamento é feito nas zonas mais pobres e com mais desemprego dos EUA? Será, por fim, criticável alguém defender que há melhores oportunidades na vida do que a vida militar e que esta é só uma opção de recurso para uma camada da população que já nem ousa sonhar? Kerry, quanto muito, foi vítima da ditadura do politicamente correcto.
Nota importante: Não confundir o politicamente incorrecto com a ignorância!
6 Comments:
At 11:16 da manhã, Anónimo said…
Kerry referia-se a algo quye passou de través em todos os nossos Media (para variar...): actualmenbte, a maioria dos jovens americanos que combatem e morrem no Iraque provêm dos estratos sociais mais baixos e com menos instrução, pq os da classe média e alta, simplesmente não se alistam... E este é aliás um problema sério do exército dos EUA da actualidade: a baixa literacia do seu soldado médio...
Se foi banido, não foi por ter faltado à verdade, foi por ter faltado ao Dogma do "Politicamente Correcto".
At 10:56 da tarde, Anónimo said…
Nem mais, caro Ricardo. A política americana tem destas coisas: é muito inconveniente dizer verdades...
At 11:23 da manhã, Bart Simpson said…
Pois claro. Até para os democratas custa a engolir esta hisória do Iraque. No fundo, há por lá uma enorme hipocrisia.
At 11:14 da manhã, Barão da Tróia II said…
O Iraque é o princípio do mim para a América, a ver vamos e me engano. Boa semana.
At 7:56 da manhã, pedrov said…
Politicamente incorrecto? Não, até acho que não. Se o Kerry tivesse simplesmente dito qualquer coisa como "Bush recruta jovens maioritariamente pouco escolarizados para combaterem no Iraque", ninguém teria dito nada. O problema está na ironia, que eu não considero politicamente incorrecta. Mas talvez eu até esteja enganado, e o problema seja justamente o recurso a discursos irónicos durante campanhas políticas.
At 3:18 da manhã, Anónimo said…
O erro é afirmar o preconceito que está reafirmado neste blogue. Embora existam alguma superrepresentatividade das minorias e de famílias de baixos recursos, esses efeitos são pequenos e não vale a pena exagerá-los: 14% da população americana é negra, mas no exército são 15%.
Aliás, as classes altas estão super-representadas. O que falta é a classe média.
Curiosamente, as baixas (mortes) são sobretudo de soldados brancos e ricos porque estes, quando se candidatam, preferem unidades de combate. Os candidatos económicos normalmente preferem posições onde não se morre. Um negro está mais seguro no exército no Iraque do que nalgumas cidades americanas ("If you don't apply for the army, you might get stuck in Philadelphia" era mais realista :))
Houve quem se sentisse ofendido: http://www.snopes.com/photos/politics/kerrysign.asp
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